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quinta-feira, 18 de setembro de 2025 às 11:50 GMT+0

O preço de combater o PCC: A história de Lincoln Gakiya que vive com um 'decreto de morte' - A guerra de 20 anos do promotor que isolou Marcola

Este resumo, baseado em uma reportagem da BBC News Brasil com o promotor Lincoln Gakiya, mergulha nas táticas do Primeiro Comando da Capital (PCC). O assassinato do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, em 15 de setembro de 2025, serve como um alerta para a evolução da facção: de uma organização carcerária para um império do crime com alcance global, capaz de atacar o próprio Estado.

A ameaça do PCC e o preço de combatê-la

A morte de Fontes não é apenas um crime; é uma mensagem do PCC de que suas "sentenças de morte" são irrevogáveis.

  • Decretos de morte perenes: As ordens de execução da facção, conhecidas como "salves", não prescrevem com o tempo ou a aposentadoria do alvo. Fontes, mesmo fora da ativa, continuava na mira.
  • O custo da proteção: O promotor Lincoln Gakiya, que vive sob um "decreto de morte", ilustra o preço de combater o PCC. Ele vive com uma escolta de até 12 policiais e teve sua vida social drasticamente limitada.

O confronto de estratégias: Isolamento das lideranças e seus efeitos

O isolamento de líderes do PCC foi uma tática central para desestabilizar a facção, mas não foi uma solução definitiva.

  • A operação de transferência: Gakiya foi um dos arquitetos da operação que, em 2019, transferiu 21 líderes da facção, incluindo "Marcola", para presídios federais. O objetivo era romper a comunicação e o comando, enfraquecendo a estrutura de poder.
  • Impacto e limites da tática: A transferência, a médio prazo, causou um racha na hierarquia do PCC. No entanto, o promotor ressalta que as operações diárias, como o tráfico de drogas, não foram afetadas. O PCC age como uma multinacional que não para de funcionar com a prisão de um único CEO.

A metamorfose do PCC: Do tráfico de rua ao sistema financeiro

O PCC se transformou de uma organização carcerária para um complexo empresarial do crime com tentáculos internacionais.

  • Ascensão no tráfico internacional: A partir de 2017, o PCC se consolidou no tráfico global de cocaína, movimentando bilhões de reais. A facção deixou de ser apenas uma "empresa" local e se tornou uma potência global.
  • A lavagem de dinheiro: Para ocultar o dinheiro, o PCC migrou para o sistema financeiro, utilizando fintechs, fundos de investimento não regulamentados e doleiros. O novo rosto do crime organizado não é o traficante em uma favela, mas sim um empresário bem-sucedido em áreas nobres da cidade.

Brechas no sistema: Falhas regulatórias e a hibridização criminosa

O crescimento da facção foi impulsionado por falhas na fiscalização do Estado e pela associação com setores da economia formal.

  • O vácuo regulatório: A falta de fiscalização sobre empresas de pagamento (fintechs) por órgãos como o Banco Central e o Coaf criou um ambiente propício para a lavagem de dinheiro.
  • A "hibridização criminal": Gakiya introduz esse conceito para descrever como o PCC se associa a grupos que não usam violência direta, como a máfia do combustível adulterado e empresários corruptos. Juntos, eles cometem crimes financeiros que corroem a economia e o erário público, misturando o crime "tradicional" com o de "colarinho branco".

O PCC como poder paralelo e a infiltração no Estado

A facção exerce um poder de fato em áreas sob seu controle, o que gera uma "paz" imposta pelo medo e a ausência do Estado.

  • O estado paralelo: O PCC impõe regras em presídios e comunidades, resolvendo conflitos e, paradoxalmente, reduzindo crimes como homicídios por disputa de território. Eles se tornam, de fato, o "regulador" local.
  • Infiltração política: O promotor alerta que o PCC financia campanhas eleitorais para ter influência em licitações públicas e obras, infiltrando o sistema por dentro e corrompendo a máquina pública.

O debate sobre terrorismo e a posição internacional

A possível classificação do PCC como organização terrorista pelos EUA tem implicações políticas e diplomáticas.

  • A classificação como terrorista: Gakiya acredita que essa classificação é provável, dado que a facção já utilizou táticas terroristas em ataques como o de 2006.
  • Consequências diplomáticas: Essa medida permitiria aos EUA agir mais diretamente contra a facção, mas colocaria o Brasil em uma posição delicada, expondo a falha do governo em lidar com o problema.

Uma guerra multifacetada

A luta contra o PCC vai muito além da polícia. É uma batalha que ocorre no sistema financeiro, nas prisões, na política e na economia. O assassinato de Ruy Fontes e a trajetória de Lincoln Gakiya mostram o custo humano dessa guerra. Para combater a facção de forma eficaz, o Estado precisa de uma ação coordenada, que feche as brechas regulatórias e enfrente o problema de frente.

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