O que é a "machosfera" e por que ela é perigosa? Da solidão ao extremismo - Indústria do ódio contra mulheres e seus lucros

A machosfera é um conjunto de comunidades online que promovem ideias misóginas, ensinando homens a dominar mulheres e difundindo discursos de ódio. O jornalista britânico James Bloodworth investigou esse universo em seu livro Lost Boys: A Personal Journey Through the Manosphere, revelando como jovens são radicalizados por meio de algoritmos e golpes financeiros.
Como os jovens são atraídos para a machosfera?
- Inseguranças exploradas: Muitos homens entram nesse mundo por sentir-se rejeitados, inseguros ou solitários. A machosfera oferece falsas soluções, culpando as mulheres por seus problemas.
- Algoritmos das redes sociais: Estudos mostram que, em poucas horas, um jovem que assiste a um vídeo misógino é inundado por conteúdo cada vez mais extremista. Influenciadores como Andrew Tate e Jordan Peterson são porta de entrada para essa radicalização.
- Exemplo na cultura: A série Adolescência (Netflix) retrata como um jovem é levado ao extremismo misógino, refletindo um fenômeno real.
Os golpes financeiros por trás da machosfera
Cursos caros e falsas promessas: Homens pagam até US$ 10 mil
por mentores que ensinam a ser "machos alfas", mas na verdade vendem ilusões. Alguns alugam carros de luxo e mansões para fotos, criando a falsa imagem de sucesso.
Táticas de manipulação:
- Regra 80/20: Espalham a ideia de que apenas 20% dos homens atraem 80% das mulheres, gerando medo e desespero nos jovens.
- Ilusão de riqueza: Mostram uma vida luxuosa inalcançável para convencê-los a comprar cursos.
- Semelhança com outros golpes: Funciona como esquemas de pirâmide, apostas ilegais e fraudes românticas, mas com o agravante de espalhar ódio contra mulheres.
Quem são as vítimas desses golpes?
- Adolescentes vulneráveis: Garotos de 13 anos podem ser radicalizados rapidamente, como no caso de um jovem que começou com vídeos de esportes e foi levado a conteúdo misógino.
- Homens em crise: Divorciados, solitários ou com baixa autoestima são alvos fáceis.
- Pessoas de todas as classes: Desde jovens pobres até empresários ricos, todos podem cair nessa rede.
Como a machosfera se infiltra no mainstream?
- Normalização de ideias tóxicas: Pesquisas mostram que 53% dos jovens britânicos acreditam na "regra 80/20", e muitos veem Andrew Tate de forma positiva.
- Influência em políticas: Alguns grupos ligam a machosfera a movimentos políticos, como o MAGA (EUA) e discursos antifeministas na Europa.
- Falta de fronteiras claras: Muitas ideias da machosfera já são repetidas por figuras públicas, dificultando o combate.
O papel das redes sociais e das big techs
- YouTube e algoritmos: Recomendam conteúdo cada vez mais extremo, mesmo após banimentos.
- X (antigo Twitter): Com Elon Musk, muitos influenciadores banidos voltaram, espalhando ódio livremente.
- Falha na moderação: Plataformas alternativas, como Rumble, abrigam discursos misóginos sem controle.
Existem alternativas saudáveis?
Alguns especialistas promovem uma masculinidade positiva, como:
- Richard Reeves (autor de Of Boys and Men).
- Graham Golden (policial britânico que fala sobre masculinidade saudável).
- Scott Galloway (acadêmico que discute questões masculinas sem ódio).
- Porém, esse conteúdo não viraliza como o dos golpistas, pois não explora emoções negativas.
Como se proteger dessa influência?
- Para homens: Reconhecer que muitos "gurus" são golpistas e buscar ajuda psicológica em vez de soluções rápidas.
- Para mulheres: Identificar comportamentos controladores em parceiros, que podem ser sinais de radicalização.
- Para pais e educadores: Monitorar o consumo de conteúdo online por jovens e promover debates sobre igualdade de gênero.
Um problema crescente que exige ação
A machosfera não é apenas um fenômeno marginal, mas uma ameaça real que se infiltra na sociedade, normalizando o ódio e explorando vulnerabilidades. Combater esse problema exige:
1.
Maior regulação das redes sociais.
2.
Educação midiática para jovens.
3.
Apoio emocional para homens, evitando que caiam em golpes.
Enquanto figuras como Andrew Tate lucram com a desesperança, a solução está em promover masculinidades saudáveis e relações baseadas no respeito, não no controle.