Phubbing: O que é e como o desprezo digital pode afetar relacionamentos importantes - Celular como um 'terceiro elemento' nas relações

Já sentiu que o celular do seu parceiro é um terceiro elemento na relação de vocês? Aquele momento em que, no meio de uma conversa, a atenção dele se desvia para a tela luminosa do smartphone? Esse ato, aparentemente inofensivo, tem nome: phubbing.
Este resumo explora um artigo crucial das professoras Claire Hart e Kathy Carnelley, da Universidade de Southampton, que investiga como essa prática vai além da falta de educação. Ela se tornou uma fonte silenciosa de conflito, infelicidade e deterioração da qualidade dos relacionamentos.
O que é phubbing e por que ele machuca tanto?
Phubbing é a junção das palavras "phone" (telefone) e "snubbing" (desprezar)
. É o ato de ignorar alguém com quem você está interagindo para dar atenção ao seu smartphone. Mas por que isso dói?
- Uma microrruptura constante: Cada phubbing é uma pequena rejeição. De acordo com a Teoria da Equidade, relacionamentos saudáveis dependem de um investimento emocional e atencional equilibrado. O phubbing cria um desequilíbrio, fazendo com que a pessoa ignorada se sinta menos importante e desconectada.
- Os impactos comprovados: Uma pesquisa com 196 pessoas mostrou um padrão claro: nos dias em que os participantes se sentiram mais "phubbados", eles relataram maior insatisfação com o relacionamento, pior humor geral e sentimentos intensos de raiva e frustração.
A reação não é a mesma para todos: Fatores de personalidade
A forma como reagimos ao phubbing está ligada a traços de nossa personalidade e, principalmente, ao nosso estilo de apego.
- O estilo de apego ansioso: Indivíduos com alto nível de ansiedade de apego, que temem ser abandonados, são os mais vulneráveis. Para eles, o phubbing é visto como a confirmação de seus piores medos. A reação é mais intensa e pode incluir depressão, baixa autoestima, ressentimento profundo e uma maior tendência a retaliar.
- O estilo de apego evitante: Pessoas que se sentem desconfortáveis com a proximidade tendem a não ter uma queda tão acentuada na satisfação com a relação, pois já mantêm uma certa distância. No entanto, ainda podem retaliar como uma forma de buscar validação e atenção em outras fontes, já que percebem o parceiro como emocionalmente indisponível.
Narcisismo e a dinâmica do desprezo
Um estudo de 2025 revelou como diferentes subtipos de narcisismo influenciam as reações ao phubbing.
- Rivalidade narcisista: Pessoas com esse traço (antagonistas e focadas em status) já tendem a ter relações conflituosas. Quando phubbadas, sua reação é particularmente forte. Elas se tornam mais curiosas sobre a atividade do parceiro e são mais propensas a retaliar por vingança, para restaurar o ego ferido.
- Admiração narcisista: Indivíduos com esse perfil (carismáticos e autopromotores) geralmente relatam maior bem-estar. No entanto, quando ignorados, tendem a entrar em conflito direto com o parceiro em vez de retaliar silenciosamente, pois sentem que têm o direito de exigir a atenção que acreditam merecer.
O perigoso jogo da retaliação: "Olho por Olho"
Uma das descobertas mais preocupantes é que a retaliação é uma resposta muito comum ao phubbing. É um ciclo vicioso: um parceiro se sente ignorado e, como resposta, pega o próprio celular. Os motivos para essa retaliação se dividem em três categorias:
1.
Vingança: O desejo de fazer o parceiro sentir a mesma rejeição.
2.
Busca de apoio: Procurar consolo e conexão com amigos ou nas redes sociais para compensar a desconexão na relação.
3.
Busca de aprovação: Postar em redes sociais para obter "likes" e comentários, alimentando a autoestima abalada.
Esse ciclo transforma o phubbing em um padrão disfuncional, onde ambos os parceiros estão fisicamente presentes, mas emocionalmente presos em seus próprios mundos digitais.
Quebre o ciclo: Reconecte-se com a vida real
O phubbing não é um problema trivial. É a soma de pequenas rejeições que corroem a confiança e o afeto. A solução não está em culpar a tecnologia, mas em promover consciência e comunicação.
- Crie zonas livres de celular: Estabeleça horários ou locais onde o uso do celular é proibido, como durante as refeições ou antes de dormir.
- Comunique-se de forma clara: Se precisar checar algo, diga ao seu parceiro:
"Preciso ver uma mensagem rápida do trabalho, já volto"
. Isso valida a presença dele e evita a sensação de desprezo. - Invista na conexão humana: A chave está em fazer a escolha consciente de priorizar a pessoa que está ao seu lado. Cada vez que você decide largar o celular e estar verdadeiramente presente, você está investindo na saúde e na felicidade do seu relacionamento. A conexão autêntica ainda é o antídoto mais poderoso para a desconexão digital.
O phubbing não é apenas uma falta de educação; é uma série de micro-rejeições que erodem a base de um relacionamento. Ele causa desequilíbrio e desconexão emocional, e pode desencadear um ciclo vicioso de retaliação. A solução não está em culpar a tecnologia, mas em priorizar a conexão humana real. Ao criar espaços livres de celulares e praticar a comunicação consciente, é possível fortalecer o vínculo e investir ativamente na saúde e na felicidade do seu relacionamento. A verdadeira presença é o antídoto mais poderoso para a desconexão digital.