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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025 às 10:38 GMT+0

O fim da checagem de fatos: Como isso aumenta a violência contra mulheres e grupos mais vulneráveis na Internet?

A internet se tornou um espaço essencial para o debate público, mas também um terreno perigoso para a disseminação de desinformação e ataques contra grupos vulneráveis, especialmente mulheres. A recente decisão da Meta de encerrar seus programas de checagem de fatos tem gerado preocupação, pois pode agravar ainda mais a violência de gênero e a manipulação da opinião pública.

O que é a violência de gênero na internet?

A violência digital contra mulheres não se resume apenas a comentários ofensivos. Ela envolve diversas práticas que podem afetar a saúde mental, a segurança e até mesmo a vida profissional das vítimas. Entre as principais formas de ataques estão:

1. Doxxing – Exposição de dados pessoais (como endereço, telefone e documentos) para facilitar perseguições e ameaças.
2. Assédio coordenado – Ataques em massa para intimidar, humilhar e silenciar uma mulher.
3. Trolling – Comentários maldosos e ofensivos com o objetivo de provocar sofrimento.
4. Deepfakes e deep nudes – Manipulação digital de imagens para criar fotos e vídeos falsos, muitas vezes de teor sexual.
5. Fake news sobre mulheres – Espalhar mentiras para descredibilizar ou difamar figuras públicas femininas.

Segundo a União Europeia, 62% das mulheres já foram vítimas desse tipo de violência. O impacto pode ser devastador, levando à ansiedade, depressão e até ao afastamento de espaços digitais.

Como o Brasil tem sido afetado?

A violência de gênero online tem crescido no Brasil de forma alarmante. Alguns dados mostram a gravidade do problema:

  • Em 2022, foram registradas 28,6 mil denúncias de ataques contra mulheres na internet – um aumento de quase 30 vezes em relação a 2017.
  • Durante as eleições, candidatas mulheres receberam três vezes mais ataques do que candidatos homens.
  • O Brasil está entre os dez países mais violentos para mulheres na política, segundo a organização internacional ACLED.

O problema vai além da política. Um estudo do Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais apontou que dezenas de canais no YouTube disseminam discursos de ódio contra mulheres, incentivando a misoginia e reforçando estereótipos prejudiciais.

Qual o papel das plataformas digitais?

  • Grandes empresas de tecnologia, como a Meta, possuem algoritmos que priorizam conteúdos virais, independentemente de serem verdadeiros ou não. Isso significa que postagens sensacionalistas, ofensivas ou enganosas têm mais chances de se espalhar.

  • O maior problema é que, com a remoção dos programas de checagem de fatos, a tendência é que a desinformação cresça ainda mais. Sem moderação adequada, fake news contra mulheres podem ganhar força, prejudicando reputações e incentivando discursos de ódio.

Checagem de fatos x liberdade de expressão

A Meta argumenta que encerrar a checagem de fatos protege a liberdade de expressão. Mas há um detalhe importante: a liberdade de expressão não significa liberdade para espalhar mentiras. No Brasil, a lei já prevê limites para discursos prejudiciais, como:

1. Código Penal – Prevê punições para calúnia, difamação e injúria.
2. Lei de Crimes Cibernéticos – Penaliza ataques virtuais contra indivíduos.
3. Lei de Crimes Raciais (7.716/89) – Criminaliza discursos de ódio.

Sem a checagem de fatos, cresce o risco de manipulação da opinião pública e da normalização de ataques contra mulheres e outros grupos vulneráveis.

O que pode ser feito?

A decisão da Meta enfraquece a luta contra a desinformação, mas ainda existem maneiras de combater essa ameaça. Algumas soluções incluem:

  • Regulamentação das plataformas digitais – Empresas devem ser responsabilizadas por conteúdos enganosos e discursos de ódio.
  • Criminalização da disseminação de fake news – Quem espalha informações falsas que prejudicam a vida de outras pessoas precisa ser punido.
  • Educação midiática – Ensinar as pessoas a reconhecer e combater a desinformação.

Sem essas medidas, a internet continuará sendo um ambiente perigoso para mulheres e para a democracia como um todo. O debate sobre esse tema é urgente e precisa envolver toda a sociedade.

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