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sexta-feira, 7 de março de 2025 às 10:11 GMT+0

Anatomia da queda do poder de compra do brasileiro e como impacta no descontentamento com o governo Lula

Nos últimos anos, os hábitos de consumo dos brasileiros passaram por grandes mudanças. Se em 2024 houve um aumento no consumo e no acesso a novos produtos, os últimos meses do ano trouxeram sinais de preocupação. A alta dos preços dos alimentos e a desaceleração da economia levaram muitas famílias a cortar gastos, o que também impactou a popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A seguir, explicamos o que está acontecendo com o poder de compra do brasileiro, quais são os principais fatores dessa mudança e as consequências para o país.

O aumento do consumo no início de 2024

  • O ano começou com um cenário positivo: os brasileiros estavam comprando mais e acessando uma maior variedade de produtos.
  • Além do supermercado, houve um aumento de 9% na frequência de idas a bares, restaurantes e cafeterias em comparação com 2023.
  • A pesquisa Consumer Insights, da consultoria Kantar, apontou que as famílias estavam adquirindo mais de 50 categorias de produtos, incluindo alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal e até itens considerados supérfluos, como chocolates e isotônicos.
  • Esse crescimento aconteceu em todas as classes sociais, indicando um período de confiança no consumo.

O que mudou no final do ano?

Apesar do bom início, os últimos meses de 2024 mostraram um freio no consumo. Algumas mudanças foram observadas:

  • A frequência de refeições fora de casa começou a cair, um dos primeiros sinais de que os brasileiros estavam reduzindo gastos.
  • As compras no supermercado passaram a ser feitas com mais frequência, mas com menor volume de produtos por visita.
  • A busca por promoções aumentou, especialmente nas classes mais pobres, indicando uma maior preocupação com os preços.
  • Houve uma troca de produtos mais caros por alternativas mais baratas, como café solúvel em vez de café torrado e biscoitos no lugar de sorvete.
  • O atacarejo ganhou espaço, tanto para grandes compras quanto para aquisições menores, já que os consumidores passaram a ver vantagem nos preços praticados por esses estabelecimentos.

A inflação dos alimentos e o aumento do custo de vida

A principal razão para essa mudança no consumo foi a alta dos preços dos alimentos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que:

  • A inflação de alimentos e bebidas chegou a 7,69% em 2024, quase o dobro da inflação geral do país (4,83%).
  • A refeição dentro de casa ficou 8,23% mais cara, enquanto a alimentação fora de casa subiu 6,29%.
  • Com os preços subindo, as famílias tiveram que reavaliar seus gastos e buscar maneiras de economizar.

As classes D e E foram as mais afetadas, pois destinam uma maior parte da renda para a compra de alimentos. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que, em janeiro de 2025, 22,61% do orçamento dessas famílias era gasto com comida, um aumento significativo em comparação com 2018, quando esse percentual era de 18,44%.

O impacto na popularidade do governo Lula

A deterioração do poder de compra coincidiu com uma queda na aprovação do presidente Lula. Pesquisas de opinião apontaram uma piora na percepção do governo:

  • Segundo o Datafolha, a avaliação positiva do governo caiu de 35% para 24% entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.
  • No mesmo período, a avaliação negativa subiu de 34% para 41%.
  • Entre os brasileiros com renda inferior a dois salários mínimos, a queda foi ainda mais acentuada: a aprovação caiu de 49% para 29%.

A consultoria Eurasia Group destacou que a alta dos preços dos alimentos se tornou o "calcanhar de aquiles" do governo, já que esse é um dos fatores que mais impactam o dia a dia da população, especialmente os mais pobres.

As medidas do governo para conter a crise

Diante desse cenário, o governo anunciou medidas para tentar conter a alta dos preços e melhorar a percepção da economia:

  • Eliminação de impostos de importação sobre itens como carne, café, açúcar, milho, óleo de girassol, azeite de oliva, sardinha, biscoitos e massas alimentícias.
  • Maior financiamento do Plano Safra para produtores de alimentos da cesta básica.
  • Reforço dos estoques públicos de alimentos para evitar oscilações bruscas nos preços.

Apesar dessas ações, especialistas apontam que os desafios são grandes e que os efeitos dessas medidas podem demorar a serem sentidos pela população.

O ano de 2024 mostrou dois momentos distintos na economia brasileira: um início de alta no consumo, seguido de uma desaceleração provocada pelo aumento dos preços dos alimentos. Esse cenário impactou diretamente o poder de compra das famílias, especialmente das classes mais baixas, e influenciou a queda na popularidade do governo Lula.

As medidas adotadas para conter a inflação e melhorar o acesso a alimentos são importantes, mas será necessário um esforço contínuo para evitar que a situação se agrave. A confiança do consumidor e a estabilidade econômica dependerão da capacidade do governo de equilibrar os preços e estimular o crescimento sem comprometer ainda mais o orçamento das famílias.

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