Cambistas de Bets: Mercado clandestino milionário que envolve menores nas apostas ilegais no Brasil

No Brasil, paralelamente ao crescente mercado legal de apostas esportivas, prospera um vasto e lucrativo universo de apostas ilegais. Este mercado clandestino, que movimenta centenas de milhões de reais, depende significativamente da atuação dos chamados "cambistas de bets". Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investiga as atividades deste setor ilegal.
Atuação dos cambistas:
Os cambistas de bets atuam como intermediários entre apostadores e casas de apostas ilegais. Eles desempenham um papel crucial ao viabilizar apostas para indivíduos que, por diversas razões, estão impedidos de participar do mercado legal, como menores de idade.
Mecanismo de operação:
Estes cambistas recebem as apostas e pagam os prêmios, auferindo uma comissão por cada transação realizada. Eles utilizam as redes sociais, como Facebook e Instagram, para divulgar seus serviços e ofertas atrativas.
Atrativos das Bets ilegais:
As casas de apostas clandestinas, promovidas pelos cambistas, frequentemente oferecem prêmios mais elevados e bônus proibidos pelas leis que regulamentam o setor legal, o que atrai um número considerável de apostadores.
Presença nas redes sociais:
Centenas de anúncios de apostas clandestinas são encontrados em plataformas como Facebook e Instagram. Um único perfil chegou a veicular mais de uma centena de anúncios. Após questionamentos, essas publicidades foram retiradas, e a Meta, empresa responsável pelas plataformas, declarou que anunciantes de jogos de azar online precisam de permissão e comprovação de legalidade.
Transações em ambientes digitais fechados:
As redes sociais servem como porta de entrada para outros ambientes digitais onde as apostas são efetivamente concretizadas com a intermediação dos cambistas, incluindo sites clandestinos e aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram.
Apostas por adolescentes:
Uma pesquisa do Ministério da Justiça de São Paulo revelou que uma parcela significativa de adolescentes realizou apostas no último ano. As restrições impostas ao mercado regulamentado podem levar menores a buscar alternativas ilegais através dos cambistas.
Proibições legais:
Além de menores de idade, a legislação brasileira proíbe que técnicos de futebol, jogadores, árbitros e membros de órgãos de regulação realizem apostas. As casas legais também devem impedir que indivíduos comprometam sua renda ou viciados em jogo apostem. O governo planeja criar um cadastro de pessoas proibidas de apostar por decisão judicial e pretende proibir beneficiários de programas sociais como Bolsa Família e BPC de participar de apostas.
Movimentação financeira ilegal:
Desde o início da operação do mercado regulado, as casas autorizadas movimentam bilhões de reais mensalmente. Contudo, o mercado ilegal também apresenta cifras expressivas. Nos primeiros meses de 2025, foram registrados centenas de milhões de Reais em apostas ilegais, com milhões de acessos a sites clandestinos. A rigidez da regulamentação pode, paradoxalmente, fortalecer o mercado ilegal.
Similaridades internacionais:
A Argentina, com uma regulamentação mais restritiva, também observa um aumento na atuação de figuras equivalentes aos cambistas, chamados "cajeros". Pesquisas indicam alta prevalência de apostas entre jovens argentinos, com muitos utilizando intermediários. Casos trágicos, como o suicídio de um jovem viciado em apostas, evidenciam os riscos desse cenário.
Golpes e fraudes:
Apostadores em grupos monitorados relatam frequentemente serem vítimas de golpes, com perdas financeiras em um ambiente sem garantias. Há denúncias de não pagamento de prêmios e exigências de depósitos para liberação de valores que nunca são devolvidos. Levantamentos indicam que uma parcela considerável de apostadores brasileiros já sofreu algum tipo de fraude em plataformas de apostas ilegais.
Uso Indevido de nomes de casas legais:
Casas ilegais utilizam nomes semelhantes e até a imagem de empresas de apostas legalizadas para atrair vítimas, explorando a credibilidade dessas marcas. Uma empresa britânica legalmente estabelecida no Brasil negou qualquer ligação com perfis que usam seu nome para promover sorteios e oferecer comissões a cambistas.
Papel dos influenciadores:
Existe grande preocupação com influenciadores que promovem apostas ilegais, muitas vezes divulgando ganhos irreais. A CPI das Bets investiga essa questão. Um delegado revelou que influenciadores são contratados para simular ganhos com contas falsas, recebendo pagamento para atrair seguidores. Na Argentina, influenciadores foram acusados de promover os serviços de "cajeros". Há um projeto de lei em análise no Brasil para regulamentar a propaganda de apostas por influenciadores, exigindo certificação e treinamento sobre os riscos.
Medidas de combate:
O governo federal afirma estar combatendo as apostas ilegais, com a abertura de processos contra sites e perfis irregulares e a derrubada de milhares de endereços clandestinos. A comunicação com plataformas como a Meta para remoção de perfis ilegais ocorre mediante denúncias. A fiscalização em ambientes privados como grupos de WhatsApp e Telegram enfrenta limitações devido à privacidade. Defende-se maior controle sobre os meios de pagamento e punições mais severas para quem divulga apostas ilegais, com o objetivo de educar e dissuadir novas práticas.
A atuação dos "cambistas de bets"
Revela um complexo e preocupante cenário no Brasil, onde um mercado ilegal de apostas esportivas prospera à sombra da regulamentação. Atraindo apostadores com ofertas tentadoras e utilizando as redes sociais como principal meio de divulgação, esses intermediários facilitam o acesso a jogos de azar, inclusive para menores de idade e indivíduos legalmente impedidos. A falta de regulamentação e fiscalização rigorosa nesse ambiente clandestino expõe os apostadores a riscos significativos de fraudes e golpes, além de movimentar grandes somas de dinheiro de forma ilícita. As semelhanças com a situação em outros países, como a Argentina, reforçam a necessidade de medidas eficazes para combater essa prática, proteger os consumidores e garantir a integridade do mercado de apostas no Brasil.