Fim do 'tarifaço'? Nem tudo foi liberado - Veja os setores brasileiros que continuam na mira de Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou nesta quinta-feira (20/11/2025) um decreto que suspende as tarifas de 40% sobre uma ampla gama de produtos agrícolas do Brasil. A medida marca um recuo significativo na política comercial agressiva anunciada em abril e implementada em julho deste ano.
Abaixo, os pontos essenciais para entender o cenário atual:
O que muda na prática (Isenções)
A decisão amplia a lista de exceções, isentando produtos vitais da pauta exportadora brasileira. A medida é retroativa, valendo para mercadorias que chegaram aos EUA a partir de 13 de novembro, data de uma reunião decisiva entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário Marco Rubio.
Principais produtos livres da sobretaxa:
- Café: Alívio imediato, já que o Brasil é o maior fornecedor e os EUA não produzem o grão.
- Carne Bovina: Diversos cortes foram liberados para entrada no mercado americano.
- Frutas e outros: Manga, banana, açaí, tomate, goiaba, coco, laranja, cacau, tapioca e castanha-do-Pará.
O que continua taxado: Indústria e pescados em alerta
Apesar da vitória no campo, o "tarifaço" não foi totalmente desmontado. Setores estratégicos ficaram de fora da negociação e amargam prejuízos.
- Pescados (A grande frustração): O setor de peixes e frutos do mar não foi isento. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) manifestou profunda frustração, alertando que a manutenção da tarifa inviabiliza a exportação, especialmente de tilápia, já que 70% das vendas externas do setor dependem do mercado americano.
- Bens industriais: A indústria de transformação continua sujeita às tarifas. Entidades como a CNI alertam que a competitividade dos produtos manufaturados brasileiros nos EUA segue prejudicada.
- Restante da pauta: O Itamaraty confirmou que as negociações continuam para o "restante da pauta", indicando que tudo o que não é agrícola (ou peixe) permanece sob sanção.
O fator econômico: Por que os EUA recuaram?
A inflação interna americana, e não apenas a diplomacia, foi o motor da decisão.
- Pressão no consumidor: Com os EUA enfrentando o menor rebanho bovino em 74 anos e sendo dependentes da importação de café, as tarifas elevaram os preços nas prateleiras, prejudicando a popularidade de Trump junto ao seu eleitorado.
- Pragmatismo: A necessidade de baixar o custo de vida nos EUA forçou a Casa Branca a ignorar temporariamente as divergências políticas para garantir o abastecimento de alimentos básicos.
Bastidores e reações políticas
A medida gerou leituras opostas sobre quem detém o mérito da conquista.
- Governo Lula: Celebra como uma vitória da soberania
"Ninguém respeita quem não se respeita" atribuindo o recuo à postura firme do Brasil.
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Oposição: O deputado Eduardo Bolsonaro e líderes do PL afirmam que o governo brasileiro não teve mérito, creditando a isenção puramente à necessidade americana de controlar a própria inflação.
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Status diplomático: O secretário de Estado, Marco Rubio, manterá o monitoramento da situação política no Brasil, podendo sugerir novas medidas futuramente.
O recuo de Trump é uma vitória parcial ditada pelo estômago, não pelo coração. Ao liberar o café e a carne, Washington admite que não pode punir o Brasil sem inflacionar a própria mesa. Contudo, ao manter as taxas sobre a indústria e sacrificar o setor de pescados, os EUA enviam um recado claro: a tensão diplomática esfriou, mas a guerra comercial continua ativa onde o consumidor americano não sente a dor.
