Freio na economia? Por que a desaceleração do PIB no Brasil pode trazer juros baixos e combater a inflação
A economia brasileira dá sinais de estar pisando no freio, conforme os novos dados do Produto Interno Bruto (PIB) revelam um crescimento modesto de 0,1% no terceiro trimestre de 2025, na comparação com o trimestre anterior.
Embora o crescimento do PIB seja geralmente associado a uma economia mais saudável, com mais empregos e salários melhores, a desaceleração atual pode ser vista como um ajuste necessário por alguns economistas. Entenda os motivos e as implicações:
O cenário da desaceleração
- Ritmo lento no 2º semestre: A maior parte do crescimento de 2025 (2,4% no acumulado do ano) ocorreu no primeiro semestre. O dado de 0,1% no terceiro trimestre indica uma perda de fôlego recente.
- Contraste global: A taxa de crescimento do Brasil parece mais lenta quando comparada a outras economias em desenvolvimento, como China (4,8% anualizado) e Índia (8,2%).
Por que desacelerar pode ser bom agora?
A desaceleração é vista como um alívio que pode ajudar a resolver problemas crônicos da economia brasileira, especialmente a inflação alta e as taxas de juros elevadas.
1. O fator "pleno emprego"
- De 14% para 5,4%: A taxa de desemprego despencou desde a pandemia e atingiu 5,4%, um patamar que economistas chamam de "pleno emprego"— onde praticamente todos que querem trabalhar conseguem uma vaga.
- Risco da inflação: Em um cenário de pleno emprego, um crescimento econômico acelerado pode ser prejudicial. As empresas precisam contratar mais para atender ao consumo crescente, mas a oferta de mão de obra está no limite.
- Perda de poder de compra: Embora o pleno emprego e os salários maiores tragam bem-estar no curto prazo, a inflação alta no médio e longo prazo acaba corroendo o poder de compra das famílias.
Isso gera maior concorrência por trabalhadores, levando a aumento de salários e, consequentemente, a um aumento generalizado de custos e preços (inflação).
2. Efeito da política monetária (juros altos)
- Banco Central no freio: Desde 2024, o Banco Central tem aplicado "doses cavalares" de juros altos (política monetária) para tentar conter o crescimento e trazer a inflação para o teto da meta (4,5%).
- Resultado desejado: A desaceleração atual do PIB indica que a estratégia de juros altos está finalmente surtindo o efeito esperado, ajudando a ancorar as expectativas de inflação.
O desafio da coordenação
A economia demorou a desacelerar porque as políticas monetária e fiscal (governo federal) têm atuado em sentidos opostos.
Governo no acelerador (Política Fiscal):
- O aumento significativo dos gastos públicos, como a PEC da Transição, o crescimento real do salário mínimo e o impulso no Bolsa Família, funcionaram como um "acelerador" na economia, turbinando o consumo das famílias e o mercado de trabalho.
- Esse impulso fiscal ajudou na melhora de indicadores sociais, como a menor população em situação de pobreza em 12 anos.
BC no freio (Política Monetária):
- Simultaneamente, o Banco Central apertava o "freio" com os juros altos.
Perspectivas para o futuro: Pouso suave?
A expectativa de economistas é que o Brasil esteja se encaminhando para um "pouso suave" da economia: uma desaceleração gradual que não cause uma recessão severa, mas que seja suficiente para permitir a queda da taxa básica de juros.
Benefícios dos juros baixos
- Melhora o ambiente de investimentos (empresas podem pegar empréstimos mais baratos e investir em produtividade).
- Alivia a dívida pública (o governo paga menos juros).
Foco no consistente:
- O cenário considerado ideal é um crescimento anual consistente de 2,5%, com inflação sob controle e juros baixos, garantindo um aumento sustentável do PIB per capita.
Desafio fiscal:
- O grande desafio para os próximos anos é conseguir desacelerar o crescimento do gasto público para manter o rumo de controle da inflação sem gerar uma crise.
A freada econômica do Brasil, impulsionada por juros altos, é o preço necessário para o controle da inflação em um cenário de pleno emprego. Essa desaceleração é a chave para o tão esperado "pouso suave", que pode garantir um futuro de crescimento mais lento, mas sustentável, com juros baixos e ganhos duradouros no poder de compra da população. O desafio agora é a coordenação fiscal para manter esse rumo.
