Guerra comercial? EUA dobram tarifa de aço: Brasil é o 2º mais afetado - Entenda o impacto

Entraram em vigor nesta quarta-feira, 4 de junho de 2025, as novas tarifas de 50% sobre as importações de aço e alumínio pelos Estados Unidos. A decisão foi assinada pelo presidente Donald Trump na véspera, dobrando a alíquota anterior de 25%, vigente desde fevereiro. A medida tem impacto direto sobre o Brasil, que atualmente é o segundo maior fornecedor desses produtos ao mercado norte-americano.
Importância do Brasil no fornecimento de aço aos EUA
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O Brasil nunca teve uma participação tão significativa no mercado americano de aço e ferro quanto em 2024. Segundo dados do Comex Stat, os EUA foram destino de quase metade (47,9%) de todas as exportações brasileiras desse grupo, movimentando
US$ 4,677 bilhões — cerca de R$ 27 bilhões
. Isso representa 14,9% do total importado pelos EUA nesse setor, ficando atrás apenas do Canadá (24,2%). -
Produtos semimanufaturados de ferro e aço, incluídos no chamado “código 72” do sistema harmonizado de mercadorias, são os principais itens exportados. Eles abrangem desde ferro fundido bruto até chapas e vergalhões, e formam a base da indústria siderúrgica brasileira voltada para exportação.
Relevância econômica das novas tarifas
As tarifas de 50% afetam um mercado gigantesco. Apenas em 2024, os EUA importaram mais de US$ 100 bilhões
em aço, alumínio e suas partes. Os impactos principais para o Brasil se concentram nas seguintes áreas:
- Aço e ferro (matéria-prima):
US$ 4,677 bilhões
exportados pelo Brasil. - Partes de aço e ferro: Brasil teve participação modesta
(US$ 306 milhões)
. - Alumínio e derivados: Brasil vendeu cerca de
US$ 272 milhões
, o que corresponde a apenas 1% das importações americanas nesse setor.
Embora o Brasil tenha peso menor em alumínio e partes manufaturadas, a tarifa afeta duramente o coração da indústria siderúrgica nacional, com possível impacto em empregos, investimentos e balança comercial.
Motivações e declarações do governo Trump
- Segundo o presidente Trump, a medida visa “proteger ainda mais a indústria siderúrgica dos Estados Unidos” e impedir que qualquer país consiga “contornar a tarifa”. Em suas redes sociais, ele classificou a decisão como uma “grande notícia para os trabalhadores do setor” e reiterou o lema de sua campanha:
“Façam a América grande novamente”.
- Um detalhe relevante é que o Reino Unido foi isento da tarifa após a assinatura de um acordo comercial específico com os EUA, demonstrando que a decisão tem também viés geopolítico e estratégico.
Reações do governo brasileiro
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O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, já havia declarado em março que as tarifas anteriores de 25% eram “equivocadas”, mas reforçou o compromisso com o diálogo e a busca por soluções diplomáticas. Alckmin defende que a melhor estratégia no comércio exterior é o modelo “ganha-ganha”, e que retaliações não são o caminho.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, também reiterou a importância do diálogo, mas não descartou ações de reciprocidade ou mesmo uma eventual contestação na Organização Mundial do Comércio (OMC), caso as negociações não avancem.
Possíveis consequências para o Brasil e o comércio global
A adoção de tarifas tão elevadas pode gerar diversos efeitos colaterais, entre eles:
- Redução nas exportações brasileiras de aço e ferro.
- Pressão sobre o setor industrial e possível desemprego.
- Desaceleração de investimentos no setor siderúrgico.
- Tensões comerciais entre Brasil e EUA, especialmente se o Brasil optar por medidas de retaliação.
- Reforço ao protecionismo econômico dos EUA, com possíveis impactos em outros países exportadores.
Além disso, a medida foi anunciada no mesmo período em que os EUA enfrentam queda nas encomendas da indústria e em meio a incertezas sobre os rumos da política monetária, o que torna o cenário ainda mais delicado.
Repercussões
- A nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre importações de aço e alumínio é uma decisão com peso estratégico, político e econômico. O Brasil, segundo maior fornecedor desse setor para os americanos, é diretamente afetado e enfrenta um cenário de incertezas sobre sua capacidade de manter o atual nível de exportações. Enquanto o governo brasileiro aposta no diálogo, cresce a expectativa de ações mais firmes, inclusive na OMC, caso o impacto sobre a economia nacional se amplie.
O episódio ressalta como mudanças unilaterais na política comercial de grandes potências podem gerar repercussões significativas em economias interdependentes, e como o equilíbrio entre defesa de interesses nacionais e diplomacia continua sendo um desafio fundamental nas relações internacionais contemporâneas.