Haddad busca despolitizar tarifaço em reunião com EUA: O que está em jogo para o Brasil?

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou em entrevista à CNN a importância de "despolitizar" as discussões sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. A declaração ocorre às vésperas de uma reunião com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, marcada para a semana seguinte. O encontro visa amenizar tensões comerciais após a imposição de tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, medida que afeta diretamente a economia do Brasil.
Contexto e importância do diálogo:
- Relações Brasil-EUA em pauta: O encontro entre Haddad e Bessent surge após um convite indireto do presidente norte-americano, Donald Trump, que afirmou que o presidente Lula poderia contatá-lo "quando quisesse". Isso indica uma abertura para negociações, apesar das medidas protecionistas.
- Cautela do governo brasileiro: Apesar dos sinais de diálogo, o Itamaraty e a equipe econômica mantêm postura cautelosa, preparando um plano de contingência caso as tarifas permaneçam. Há preocupação com possíveis declarações desrespeitosas de Trump, que criticou o governo brasileiro ao dizer que "fizeram coisas erradas".
- Impacto econômico: A tarifa de 50% ameaça setores estratégicos, como o têxtil, que pode perder até 15 mil empregos, segundo representantes da indústria. A lista de exceções publicada pela Casa Branca beneficiou apenas 27 dos 100 principais produtos exportados pelo Brasil em 2024, deixando grande parte da pauta comercial vulnerável.
- Estratégia do governo brasileiro: Haddad sinalizou a possibilidade de enviar o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, para negociar diretamente nos EUA. Paralelamente, a equipe econômica trabalha em um plano setorial para mitigar os impactos das tarifas.
Detalhes sobre as tarifas e exceções:
- Lista de exceções: A análise da CNN, com base em dados do Mdic, revelou que quase metade das exportações brasileiras para os EUA escaparam do aumento adicional de 40% nas tarifas. No entanto, produtos críticos, como aço e commodities agrícolas, ainda enfrentam barreiras.
- Disparidades regionais: Estados brasileiros considerados "motores" da economia, como São Paulo e Minas Gerais, foram menos beneficiados pelas exceções, ampliando desigualdades internas.
- Consequências globais: As tarifas de Trump sobre países africanos, por exemplo, podem indiretamente favorecer a China, realinhando fluxos comerciais e afetando o equilíbrio geopolítico.
Tensões políticas e diplomáticas:
- O governo brasileiro busca evitar que a família Bolsonaro interfira nas negociações, acreditando que isso possa prejudicar o diálogo.
- Haddad demonstrou otimismo com a abertura de Trump para conversas, mas o Itamaraty avalia cuidadosamente o tom e o conteúdo de um eventual contato entre Lula e o presidente norte-americano.
- O ministro também pretende discutir com Bessent a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, mostrando que as conversas abrangem tanto questões comerciais quanto políticas.
A reunião entre Haddad e Bessent representa um passo crucial para reduzir os danos econômicos das tarifas e restabelecer a cooperação entre Brasil e EUA. A despolitização do tema, como defendida pelo ministro, é essencial para priorizar interesses comerciais e proteger empregos e setores vulneráveis. Enquanto o governo brasileiro busca alternativas, como a ida de Alckmin aos EUA e a elaboração de um plano de contingência, o diálogo direto com autoridades norte-americanas permanece a estratégia mais viável para mitigar impactos negativos. O desfecho dessas negociações poderá definir não apenas o futuro das relações bilaterais, mas também a inserção do Brasil em um cenário global marcado por protecionismo e competição econômica.