Tarifaço ou Tarifinho? Suco de laranja livre, café taxado - O que sobrou do ‘Tarifaço’ de Trump contra o Brasil?

Em 30 de julho de 2025, uma medida tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou grande expectativa no Brasil. Contrariando os temores de um "tarifaço" generalizado, o decreto estabeleceu uma tarifa de 50% sobre alguns produtos brasileiros, mas surpreendentemente concedeu isenções significativas para setores estratégicos como petróleo, aviação e suco de laranja. Este resumo detalha o decreto, suas implicações para a economia brasileira e as reações de especialistas e autoridades.
Produtos isentos e sua relevância
O decreto surpreendeu ao listar 694 produtos isentos da sobretaxa, abrangendo categorias cruciais para as relações comerciais entre os dois países:
- Minérios e energéticos: Petróleo, gás natural, carvão e derivados.
- Metais e insumos industriais: Alumínio, ferro-gusa, ferronióbio e fertilizantes.
- Aviação civil: Aeronaves, peças, turbinas e materiais relacionados à Embraer.
- Produtos agrícolas específicos: Suco de laranja e castanhas-do-brasil.
Essas isenções são de extrema importância por diversas razões:
- Proteção de cadeias de suprimentos globais: Itens como minério de ferro e alumínio são insumos vitais para as indústrias americanas, que não possuem substitutos fáceis em volume ou qualidade. A taxação desses produtos elevaria os custos de produção nos EUA, prejudicando sua própria competitividade.
- Impacto mitigado no PIB brasileiro: A Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) estimou que aproximadamente 43,4% das exportações brasileiras para os EUA (cerca de US$ 18,4 bilhões em 2024) foram poupadas das tarifas. Isso é crucial para mitigar perdas econômicas e a preservação de empregos no Brasil.
O que ainda será taxado e seus efeitos
Apesar das isenções, produtos como carne, café, frutas (manga, abacaxi) e porcelanato
permanecem sujeitos às novas tarifas. O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, mencionou a possibilidade futura de tarifa zero para alimentos não produzidos localmente (como café e cacau), mas essa medida ainda carece de confirmação oficial.
Os impactos negativos nos setores taxados incluem:
- Perda de competitividade: Setores do agronegócio, por exemplo, enfrentarão dificuldades significativas para competir no mercado americano com o custo adicional da tarifa.
- Dependência de mercados alternativos: Exportadores desses produtos serão forçados a buscar novos compradores em outras regiões, como Ásia e Europa, o que pode envolver novos desafios logísticos e de negociação.
As razões políticas por trás do decreto
A Casa Branca justificou as tarifas como uma resposta a "ameaças à segurança nacional" dos EUA, citando supostas violações de direitos humanos no Brasil, incluindo o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, analistas veem motivações mais complexas, com um forte viés comercial e estratégico:
- Protecionismo: As tarifas são vistas como parte da estratégia de Donald Trump para fortalecer as indústrias domésticas americanas, especialmente em ano eleitoral, visando angariar apoio político.
- Pressão diplomática: A medida coincide com sanções direcionadas ao ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal, intensificando as tensões bilaterais e sugerindo um componente de pressão diplomática.
Reações e estratégias brasileiras
Diante do cenário, o governo brasileiro está se preparando:
- Plano de contingência: O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o governo está elaborando um plano de apoio para os setores mais afetados. Ele ressaltou, no entanto, que o cenário é "menos pior" do que o inicialmente esperado, dado o alcance das isenções.
- Visão dos especialistas: Economistas como Otaviano Canuto destacam que as isenções protegem justamente os setores onde o Brasil possui uma vantagem competitiva quase insubstituível para os EUA, como a aviação regional. Isso sugere que as decisões americanas foram guiadas por um pragmatismo econômico.
Principais produtos isentos (Destaques)
Para ilustrar o alívio em alguns setores, seguem os destaques dos produtos isentos:
- Agroindustrial: Suco de laranja, castanhas-do-brasil.
- Mineração: Minério de ferro, ouro, prata.
- Químicos e industriais: Fertilizantes, celulose, resinas.
- Aeronáutica: Peças, motores e aviões da Embraer.
A medida tarifária de Trump, apelidada de "tarifinho" em oposição ao temido "tarifaço", ainda representa desafios significativos para a economia brasileira. Enquanto setores como mineração e aviação civil respiram aliviados devido às isenções, agricultores e indústrias de bens de consumo que tiveram seus produtos taxados enfrentam um cenário de incertezas. A longo prazo, essa situação reforça a necessidade premente do Brasil em diversificar seus parceiros comerciais e reduzir a dependência de mercados que podem se mostrar voláteis. Politicamente, o episódio acentua as divergências entre os dois países, cujos reflexos nas futuras relações diplomáticas ainda são imprevisíveis.