Governo rompe contrato com a Enel: Quem deve assumir a energia na maior cidade do Brasil?
O governo de São Paulo, a Prefeitura da capital e o Ministério de Minas e Energia formalizaram a decisão de encerrar a concessão da Enel. A medida é uma resposta direta à crise energética que atingiu a Grande São Paulo após a passagem de um ciclone extratropical com ventos de 100 km/h, deixando 1,5 milhão de imóveis no escuro e causando prejuízos bilionários.
O que foi decidido e como funciona o processo
O governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, solicitou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) inicie o processo de caducidade. Este é o mecanismo legal mais rigoroso para o rompimento de um contrato de concessão.
- Abertura da caducidade: A Aneel deve comprovar juridicamente que a empresa falhou gravemente na prestação do serviço.
- Direito de defesa: A Enel terá prazos legais para apresentar sua defesa e justificar as falhas operacionais.
- Recomendação final: Após a análise técnica, a Aneel recomenda (ou não) a extinção do contrato.
- Decreto presidencial: A palavra final cabe ao Presidente da República, que precisa assinar um decreto formalizando o rompimento.
Os motivos que levaram ao rompimento
A decisão foi tomada em conjunto pelo governador Tarcísio de Freitas, pelo prefeito Ricardo Nunes e pelo ministro Alexandre Silveira. Os principais pontos citados para a expulsão da concessionária foram:
1. Ineficiência operacional: Segundo o ministro Silveira, a Enel perdeu a capacidade técnica de gerir o sistema em São Paulo.
2. Descumprimento de metas: Dos mais de 280 mil pedidos de podas de árvores acordados com a prefeitura, a empresa executou apenas 11%.
3. Impacto econômico: A FecomercioSP estima que o setor de comércio e serviços perdeu R$ 2,1 bilhões em faturamento em apenas cinco dias de apagão.
4. Reincidência: Falhas semelhantes já haviam ocorrido em 2023 e 2024, sem que a empresa apresentasse melhorias estruturais de longo prazo.
O histórico de multas não pagas
A fiscalização da Aneel já havia aplicado punições severas à Enel antes deste pedido de caducidade. No entanto, a efetividade dessas multas é baixa:
- Valor total multado:
R$ 374 milhõesem cinco multas diferentes. - Valor efetivamente pago: Apenas
R$ 29 milhões(cerca de 7,7% do total). - Ponto de conflito: A empresa utiliza recursos administrativos e ações judiciais para suspender o pagamento das penalidades, o que aumentou a pressão política pelo fim do contrato.
O que ainda falta esclarecer
Apesar do anúncio contundente, algumas questões cruciais permanecem sem resposta:
- Prazo final: Não existe um tempo determinado em lei para que o processo de caducidade seja concluído; ele pode levar meses ou até anos.
- Quem assume o serviço: Ainda não foi definido como será feita a transição para uma nova empresa ou se haverá uma intervenção federal temporária durante a saída da Enel.
- Indenizações: Não se sabe como será feito o ressarcimento aos consumidores e comerciantes pelos danos causados nos últimos episódios de falta de luz.
Situação em outros estados
A crise em São Paulo reflete um cenário nacional para a multinacional italiana. No Ceará, a Enel também enfrenta forte resistência e já teve o rompimento de contrato recomendado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) local, indicando um desgaste generalizado da marca no país.
