Você sabe por que a "Black Friday" se chama assim? Da crise de 1869 ao fenômeno global de compras
A Black Friday consolidou-se como um dos eventos mais aguardados do calendário comercial global, sinônimo de descontos agressivos, filas intermináveis e um frenesi consumista que movimenta bilhões. Originalmente um fenômeno norte-americano, ela foi exportada para dezenas de países, incluindo o Brasil, onde se enraizou no comércio e na cultura popular. Este resumo detalha a fascinante história por trás do nome, a evolução da data e as curiosidades que transformaram uma simples sexta-feira em um marco do varejo mundial.
O nome originalmente descrevia crises financeiras
Apesar de estar associado a compras e descontos, o termo "Black Friday" ("Sexta-Feira Negra") não nasceu no varejo.
- O adjetivo "negro" foi usado por séculos para descrever calamidades.
- Nos EUA, o termo foi usado pela primeira vez em 24 de setembro de 1869 para descrever uma crise na Bolsa de Nova York. Dois especuladores tentaram monopolizar o mercado do ouro, mas a intervenção do governo fez os preços despencarem, levando muitos investidores à ruína.
Desfiles de papai noel deram início à temporada de compras
Antes da Black Friday existir como a conhecemos, o pontapé inicial para as compras de fim de ano era dado por eventos festivos.
- A loja de departamentos canadense Eaton's realizou o primeiro desfile de Papai Noel em 1905.
- A chegada do Papai Noel ao final do desfile era o sinal oficial de que a temporada de festas e a corrida às compras haviam começado, incentivando os consumidores a comprar na loja patrocinadora.
- Lojas americanas como a Macy's se inspiraram nessa ideia, realizando seu primeiro desfile em Nova York em 1924.
A data do feriado de Ação de Graças foi alterada por lojistas
O Dia de Ação de Graças nos EUA sempre caía na última quinta-feira de novembro. No entanto, em 1939, essa data coincidiu com o último dia do mês, encurtando o período de compras natalinas.
- Preocupados com as vendas, lojistas pressionaram o presidente Franklin Roosevelt a declarar o feriado uma semana mais cedo.
- Essa mudança temporária gerou confusão, sendo apelidada de "Franksgiving".
- Em 1941, o Congresso interveio e fixou o Dia de Ação de Graças na quarta quinta-feira de novembro, garantindo uma semana extra de compras até o Natal.
O termo também descrevia faltas ao trabalho
Nos anos 1950, um boletim do mercado de trabalho reivindicou o uso do termo "Black Friday" para descrever um problema trabalhista:
- Em 1951, uma circular reportou a alta incidência de funcionários que alegavam doença na sexta-feira após o Dia de Ação de Graças para prolongar o feriado, esvaziando lojas e fábricas.
Foi a polícia da Filadélfia que popularizou o nome
O termo "Black Friday" só ganhou força no varejo graças a policiais frustrados na Filadélfia.
- A expressão era usada por policiais para descrever o caos e o trânsito intenso causados pela multidão de compradores na cidade.
- Lojistas, desgostosos com a conotação negativa (tráfego intenso e poluição), tentaram renomear o dia para "Big Friday" ("A Grande Sexta"), mas a mudança não pegou.
"Voltar ao azul" foi a tentativa de dar uma conotação positiva
Tentando se distanciar da imagem negativa, os varejistas criaram uma nova narrativa para o termo:
- Dizia-se que "Black Friday" representava o momento em que os lojistas saíam do vermelho (prejuízo) e voltavam para o azul (lucro) em seus livros contábeis, pois o período de festas representa a maior parte dos gastos anuais.
- Embora seja verdade que as festas geram grande receita, não há evidências concretas de que este seja o real momento em que as empresas de fato lucravam.
Demorou décadas para se tornar um fenômeno nacional
Por um tempo surpreendentemente longo, o termo ficou restrito a uma região.
- A expressão foi usada principalmente na Filadélfia e arredores por muitos anos.
- Só a partir de meados dos anos 1990 é que o termo começou a se espalhar e se consolidar como referência nacional nos EUA.
Só em 2001 se tornou o maior dia de compras
Embora seja o principal dia de compras hoje, a Black Friday não conquistou esse título imediatamente.
- Por muitos anos, o dia de maior movimento nas carteiras americanas era o sábado, e não a sexta-feira.
- A Black Friday só foi oficialmente reconhecida como o maior dia de compras do ano nos EUA no início dos anos 2000.
O "contágio" global criou versões próprias
A popularidade da Black Friday gerou "inveja" e adaptações em outros países.
- Lojistas canadenses, por exemplo, passaram a oferecer suas próprias liquidações para evitar que clientes viajassem para os EUA.
- No México, o evento foi batizado de "El Buen Fin" ("O Bom Fim de Semana"), durando o fim de semana inteiro e associado ao aniversário da revolução de 1910.
- No Brasil, a data foi incorporada ao calendário comercial mesmo sem o feriado de Ação de Graças, devido ao seu enorme potencial de vendas.
A "sexta-feira negra" está sendo antecipada
Com a busca constante por maximizar as vendas, a Black Friday corre o risco de ser ofuscada por suas próprias expansões.
- Em 2011, o Walmart quebrou a tradição ao abrir as portas na noite de Quinta-feira de Ação de Graças.
- Esse movimento deu origem ao apelido "Quinta-feira Cinza" para o dia adicional de compras.
- No Brasil, é comum que as promoções se estendam pela "Semana Black Friday" ou até por todo o mês de novembro.
De uma expressão que denotava crise financeira e caos policial em uma única cidade americana, a Black Friday transformou-se em um fenômeno de vendas mundial. Impulsionada pela logística do calendário (pós-Ação de Graças) e pela busca incessante por lucro, a data consolidou-se como o motor que reverteu o balanço dos varejistas. Hoje, ela transcende a sexta-feira original, expandindo-se para semanas inteiras de descontos e redefinindo o ritmo do consumo global no final do ano.
