Análise resumida: Como Trump e Bolsonaro se tornaram os 'inimigos perfeitos' de Lula: A estratégia política por trás da guerra de narrativas

A política, muitas vezes, prospera na definição clara de "nós" contra "eles". A estratégia de Luiz Inácio Lula da Silva de utilizar um inimigo forte para galvanizar sua base e moldar sua narrativa política é o foco deste resumo. Desde a polarização com Jair Bolsonaro até a inesperada intervenção de Donald Trump, o presidente Lula tem capitalizado essas rivalidades para sustentar seu discurso e governo.
A estratégia do "inimigo político" e a herança de Bolsonaro
-
A eleição de 2022 consolidou Lula como o líder de um projeto político diametralmente oposto ao de Jair Bolsonaro. A polarização foi uma ferramenta eleitoral eficaz, usada para mobilizar o eleitorado e definir a identidade do governo.
-
Apesar da inelegibilidade de Bolsonaro ter removido o adversário direto, a legado da polarização permaneceu. Lula manteve o discurso de "nós contra eles", buscando novos alvos para sustentar a narrativa de um Brasil em disputa.
-
A oposição a Bolsonaro foi crucial para a vitória de Lula, mas a sua ausência direta exigiu uma adaptação da estratégia do governo para manter a mobilização.
A busca por novos adversários internos: O Banco Central e outros
Com Bolsonaro fora do páreo direto, o governo Lula buscou outros alvos para personificar a oposição.
O Banco Central
- Roberto Campos Neto, então presidente do Banco Central, tornou-se um alvo recorrente. Lula criticava as políticas monetárias restritivas do BC, acusando-as de frear o crescimento econômico e vinculando a alta de juros a um suposto "sabotador" do desenvolvimento. No entanto, a tentativa de personificar a crise econômica em Campos Neto mostrou-se limitada, pois as decisões do Banco Central são técnicas e respaldadas por instituições.
A oposição fragmentada
- A oposição política no Congresso e nos estados se mostrou fragmentada. Líderes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, evitaram confrontos diretos, dificultando a construção de uma narrativa de oposição unificada para o governo federal.
- Deputados como Nikolas Ferreira ganharam destaque ao criticar medidas impopulares do governo, como mudanças tributárias, mas não conseguiram se estabelecer como um "inimigo" de peso capaz de unificar a base lulista.
A ausência de uma liderança opositora clara obrigou Lula a buscar rivais em outras frentes.
A economia como campo de batalha política
A inflação, principalmente em alimentos e energia, impactou a popularidade do governo, forçando Lula a buscar culpados externos para os problemas econômicos. A percepção pública sobre a economia é decisiva para a sustentação política, e o governo precisou ajustar seu discurso para evitar desgastes. A nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do BC representou uma mudança estratégica, sinalizando maior alinhamento do governo com a política monetária.
Donald Trump: O adversário perfeito e a virada internacional
-
A política internacional ofereceu a Lula o adversário ideal: Donald Trump. A decisão de Trump de taxar importações brasileiras em 50% (baseada em argumentos questionáveis) ofereceu a Lula um inimigo internacional de alto impacto.
-
A ação de Trump foi particularmente vantajosa para o governo brasileiro porque a carta de taxação vinculou a medida tarifária a questões políticas internas do Brasil, citando o julgamento de Bolsonaro. Este foi um "presente" retórico para Lula.
-
O governo brasileiro pôde adotar um tom nacionalista, defendendo a soberania contra "ataques externos" e reacendendo o discurso anti-imperialista.
A exploração da crise internacional
-
Lula aproveitou a postura agressiva de Trump para reforçar pautas como a "desdolarização" do comércio global, tema central na Cúpula do BRICS. A retórica de Trump permitiu ao governo associar a oposição interna (particularmente Bolsonaro) aos efeitos negativos das tarifas, mesmo sem relação direta.
-
A manipulação do embate com Trump fortaleceu a imagem de Lula como um defensor do Brasil contra potências estrangeiras.
A necessidade de um "inimigo forte" é uma constante na política. Lula demonstrou habilidade em adaptar seu discurso conforme os desafios, inicialmente focando em Bolsonaro e Campos Neto. A intervenção de Trump, contudo, ofereceu uma oportunidade única: um adversário internacional de alto perfil que legitima narrativas de resistência e união nacional.
Essa estratégia, no entanto, depende de fatores externos voláteis. O governo precisará equilibrar a retórica com resultados concretos para manter o apoio popular. A lição central é que, na política, a escolha estratégica de inimigos pode ser tão útil quanto a de aliados.