Bolsonaristas vs. Lulistas no WhatsApp: O que pensam sobre tarifaço, Moraes e desigualdade? Estudo UERJ revela divisões e surpresas

Um estudo inovador realizado pelo Monitor do Debate Público (MDP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou as opiniões de eleitores brasileiros em grupos de WhatsApp sobre dois temas polêmicos: as tarifas impostas pelos EUA ao Brasil e as decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes contra Jair Bolsonaro. A pesquisa qualitativa, que acompanha 50 participantes divididos em cinco grupos políticos, revelou divisões profundas, surpreendentes consensos e nuances nas visões dos eleitores.
O experimento e sua metodologia:
O MDP organizou os participantes em cinco grupos, baseados em suas preferências eleitorais em 2022 e posicionamentos políticos:
- Bolsonaristas convictos: Apoiadores ferrenhos de Bolsonaro, críticos do STF e do governo Lula.
- Bolsonaristas moderados: Eleitores de Bolsonaro que rejeitam atos como os de 8 de janeiro.
- Flutuantes: Eleitores sem preferência fixa (votaram nulo ou em outros candidatos).
- Lulistas descontentes: Eleitores de Lula insatisfeitos com seu governo.
- Lulistas: Apoiadores consistentes de Lula e de suas políticas.
Os participantes respondem semanalmente a perguntas no WhatsApp, recebendo incentivo financeiro, similar a pesquisas de mercado. A dinâmica mostrou que bolsonaristas respondem mais rápido, muitas vezes reproduzindo discursos de líderes como o deputado Nikolas Ferreira, enquanto lulistas tendem a demorar mais.
O "tarifaço" de Trump e a rara união de grupos:
Quando o ex-presidente dos EUA Donald Trump ameaçou impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros citando como motivo a "perseguição" a Bolsonaro, houve uma inusitada convergência entre três grupos normalmente divergentes: flutuantes, lulistas descontentes e lulistas. Todos criticaram a medida, defendendo a soberania nacional e a legitimidade do Brasil em responder.
Exemplo de opinião (flutuante):
"Nunca vi os EUA se preocuparem com crimes no Brasil antes. Trump que cuide dos problemas dele!" (Veterinária do Paraná).
Já os bolsonaristas (convictos e moderados) mantiveram-se críticos ao governo Lula, mas com diferenças:
- Convictos: Rejeição total, com linguagem inflamada.
- Moderados: Preocupação com impactos práticos, sugerindo diálogo diplomático.
Alexandre de Moraes e a polarização:
Sobre a tornozeleira eletrônica imposta a Bolsonaro, as opiniões refletiram a polarização:
- Bolsonaristas: Chamaram a medida de "injustiça" e "perseguição política".
- Lulistas: Apoiaram a decisão, considerando-a tardia mas necessária.
- Grupos do centro (flutuantes e lulistas descontentes): Críticas mistas. Alguns viram
"O Judiciário não é independente; Moraes faz o que quer".
- Outros, como um servidor público do Paraná, consideraram a tornozeleira "exagerada", mas validaram outras restrições.
Desigualdade social: Consenso no diagnóstico, discordância nas soluções:
Em discussões sobre a campanha do governo pela taxação de super-ricos ("BBB: bilionários, bancos e bets"), todos os grupos reconheceram a desigualdade no Brasil, mas divergiram nas causas e soluções:
- Bolsonaristas convictos: Culparam a corrupção e a "narrativa de conflito" da esquerda.
- Lulistas: Apoiaram a taxação, vendo-a como justiça social.
- Centro (flutuantes e descontentes): Criticaram o "oportunismo" do governo, mas admitiram a disparidade no acesso a saúde e educação.
- Destaque: A pesquisadora Carolina de Paula ressaltou que a retórica da injustiça (e não do conflito) foi mais eficaz para engajar moderados.
O que o experimento revela sobre o Brasil atual?
O estudo do MDP mostra um cenário complexo:
- Polarização persistente: Bolsonaristas e lulistas mantêm visões antagônicas sobre STF e governo.
- Pontos de união: A defesa da soberania nacional contra interferências externas (como o tarifaço) uniu até críticos de Lula.
- Cansaço com o conflito: Grupos intermediários buscam equilíbrio, rejeitando radicalismos e discursos maniqueístas.
A pesquisa sugere que, embora a divisão ideológica permaneça, há espaço para debates mais pragmáticos quando questões nacionais (como tarifas) ou transversais (como desigualdade) entram em pauta. O desafio para líderes e instituições é canalizar esses consensos parciais para reduzir a tensão política.