Lula, Netanyahu e o Agrément: O que levou Israel a rebaixar as relações com o Brasil? Entenda o ponto de ruptura entre Brasil e Israel

A relação diplomática entre Brasil e Israel chegou a um dos seus pontos mais baixos. Em um movimento que reflete meses de escalada de tensão, Israel anunciou o "rebaixamento" do nível de suas relações com o Brasil, após uma série de incidentes que culminaram na não-aceitação de seu embaixador em Brasília.
O fato central: O embate pelo embaixador
O estopim da crise mais recente foi um gesto sutil, mas extremamente significativo, na diplomacia.
- A indicação de Israel: Israel propôs o diplomata Gali Dagan para assumir o cargo de embaixador no Brasil.
- O silêncio brasileiro: O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, não respondeu ao pedido de agrément, o consentimento formal para a atuação do diplomata.
- A rejeição tácita: Na prática, o silêncio é uma forma de rejeição. Por isso, Israel interpretou a não-resposta como uma recusa, retirou a indicação de Dagan e decidiu rebaixar o nível das relações.
O contexto histórico: A origem do desentendimento
Para entender a decisão brasileira, é preciso voltar no tempo e analisar as declarações que provocaram uma reação em cadeia.
- A "declaração-bomba" de Lula: Em fevereiro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto. Ele afirmou que o que estava acontecendo em Gaza "existiu: quando Hitler decidiu matar os judeus".
- A reação furiosa de Israel: A comparação foi recebida como uma afronta gravíssima. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo classificaram a fala como "vergonhosa" e "grave".
- O incidente no Yad Vashem: Em um ato considerado uma humilhação deliberada, o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, foi convocado para o Museu do Holocausto (Yad Vashem) em Jerusalém. Lá, ele foi publicamente repreendido na frente da imprensa pelo então chanceler israelense, que declarou Lula como persona non grata.
A resposta do Brasil e a quebra de laços
O Brasil considerou a forma pública e a encenação do incidente uma violação das normas diplomáticas e uma humilhação direta. A partir daí, a resposta foi imediata e calculada.
- Retirada do embaixador: Em maio de 2024, o Brasil chamou de volta o seu embaixador em Tel Aviv, deixando o posto vago.
- Adesão à Corte Internacional de Justiça: Em julho, o governo brasileiro deu um passo ainda mais significativo ao aderir como amicus curiae no processo da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A África do Sul acusa Israel de genocídio em Gaza, e o Brasil, com essa adesão, se alinhou a uma posição de crítica veemente à conduta israelense na guerra.
O pano de fundo da crise: O conflito em Gaza
- Toda essa tensão diplomática ocorre com o cenário do conflito em Gaza, iniciado pelo ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023. A resposta militar de Israel, que resultou em dezenas de milhares de mortos e uma crise humanitária, polarizou a comunidade internacional e é o ponto nevrálgico que inflama as relações entre as nações.
Um futuro incerto
O "rebaixamento" das relações por parte de Israel é a culminação de um processo de deterioração que se intensificou ao longo de meses. O silêncio do Brasil sobre a indicação do embaixador foi uma retaliação direta e calculada à humilhação pública do seu representante. Com ambos os países firmes em suas posições, a reconciliação se torna um desafio complexo, com o conflito em Gaza servindo de barreira para qualquer avanço diplomático.