Tarifas de Trump em 100 dias: Como o Brasil e o mundo reagem à guerra comercial dos EUA

Nos primeiros 100 dias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, sua política de tarifas comerciais gerou reações em cadeia na economia global. Um levantamento da Global Trade Alert — plataforma suíça que monitora barreiras protecionistas — revelou que 32 países iniciaram negociações com os EUA, enquanto 16 adotaram medidas internas para proteger setores afetados. O Brasil, em particular, assumiu uma posição estratégica, atuando tanto como negociador quanto como potencial retaliador, o que reflete a complexidade e os desafios desse novo cenário comercial.
O contexto das tarifas americanas e suas repercussões:
1.
Base da política de Trump: O governo americano implementou tarifas de 10% sobre todas as importações e sobretaxas de 25% sobre aço e alumínio, alegando proteger a indústria doméstica.
2.
Objetivo declarado: Reduzir o déficit comercial e fortalecer a produção nacional, mas com efeitos colaterais globais.
A posição do Brasil: Negociação e ameaça de retaliação
O Brasil adotou uma postura ambivalente, buscando equilibrar diálogo e firmeza:
Diálogo com os EUA:
O governo brasileiro mantém negociações diretas com a Casa Branca, principalmente sobre as tarifas gerais de 10% e as sobretaxas sobre aço e alumínio, setores críticos para a economia nacional.
Lei de reciprocidade:
Sancionada em abril de 2025, a lei aprovada pelo Congresso Nacional e por Lula permite ao Brasil retaliar com medidas como:
- Aumento de tarifas sobre produtos americanos.
- "Retaliação cruzada", incluindo suspensão de direitos de propriedade intelectual e patentes.
Preocupações setoriais:
Setores como o agronegócio e a indústria de aço podem ser duramente afetados, levando o governo a buscar alternativas para minimizar perdas.
Reações internacionais:
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Negociações em andamento (32 países/blocos): Incluem Brasil, União Europeia, Japão, Coreia do Sul e Vietnã, entre outros. Muitos buscam isenções ou acordos bilaterais.
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Retaliações diretas (4 países): Além do Brasil, União Europeia, França e Costa do Marfim ameaçaram retaliar.
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China como caso emblemático: Adotou medidas duras, como tarifas de 125% em produtos dos EUA, cancelamento de pedidos à Boeing e restrições à exportação de minerais estratégicos.
Medidas de apoio interno (16 países):
Governos anunciaram pacotes para setores impactados, como:
- Japão: Subsídios para pequenas empresas da cadeia automotiva.
- Coreia do Sul: Linha de crédito de
US$ 14 bilhões
para exportadores. - Tailândia: "Clínica exportadora" para auxiliar empresas a encontrar novos mercados.
- Austrália: Subsídios à indústria de carne bovina.
- Colômbia: Estratégia para diversificar mercados de exportação.
Importância e relevâncias do cenário:
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Impacto na economia global: As tarifas podem desacelerar o comércio internacional e aumentar custos para consumidores e empresas.
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Posição estratégica do Brasil: O país busca proteger seus interesses sem romper totalmente com os EUA, mantendo abertas tanto a via diplomática quanto a possibilidade de medidas defensivas.
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Tensões geopolíticas: Retaliações cruzadas, como as da China e do Brasil, podem escalar para conflitos comerciais prolongados.
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Incerteza para investidores: Como destacou o ministro Fernando Haddad, a falta de diretrizes claras gera insegurança nos mercados.
Os primeiros 100 dias de Trump demonstraram como políticas protecionistas podem desencadear respostas coordenadas ou defensivas em todo o mundo. O Brasil, nesse contexto, adotou uma posição pragmática: ao mesmo tempo que negocia com os EUA, prepara-se para retaliar caso necessário, refletindo os desafios de um comércio global cada vez mais fragmentado. Enquanto alguns países optam pela diplomacia comercial, outros preparam-se para confrontos diretos. A médio prazo, a disputa pode redefinir alianças econômicas e acelerar a busca por mercados alternativos, mas no curto prazo, o risco é de maior instabilidade e custos elevados para todas as partes envolvidas.