Conteúdo verificado
terça-feira, 3 de junho de 2025 às 10:16 GMT+0

Lula x Macron: O impasse no acordo Mercosul-União Europeia que ameaça o bromance político e as exportações brasileiras

A relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês Emmanuel Macron tem chamado atenção pela cordialidade e pelas demonstrações públicas de amizade. Fotos descontraídas durante a visita de Macron ao Brasil em março de 2024, especialmente na Amazônia, ganharam manchetes e memes, marcando o chamado bromance entre os dois líderes. No entanto, apesar das aparências e afinidades em temas como meio ambiente e governança global, um ponto de tensão permanece como o calcanhar de Aquiles dessa aliança: o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.

Importâncias e relevâncias do acordo UE-Mercosul

  • Econômica: O acordo representa uma das maiores parcerias comerciais do mundo e é prioridade da política externa de Lula. Em 2024, a União Europeia foi o segundo maior comprador de produtos brasileiros, movimentando cerca de US$ 48,23 bilhões. A entrada em vigor do tratado ampliaria ainda mais essas trocas, beneficiando especialmente os setores do agronegócio e da indústria brasileira.

  • Geopolítica e diplomática: O acordo simboliza um fortalecimento das relações Sul-Norte, especialmente em um momento de tensões comerciais com os Estados Unidos, que vêm elevando tarifas. Para o Brasil, o pacto reforçaria o protagonismo internacional de Lula, alinhado ao seu discurso por uma ordem global mais justa e multipolar.

  • Ambiental e regulatória: O acordo exige alinhamentos em regras ambientais e sanitárias. A nova lei europeia antidesmatamento, que passará a vigorar no final de 2025, impõe restrições a commodities produzidas em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. Isso preocupa o Brasil, pois pode afetar as exportações de carne e soja.

Obstáculos e divergências

  • A principal barreira vem da França, considerada por especialistas como o maior entrave à ratificação do acordo. O motivo central é a resistência do setor agrícola francês, que teme a concorrência de produtos sul-americanos com padrões diferentes dos exigidos localmente. Emmanuel Macron ecoa essas preocupações, criticando a falta de garantias contra o desmatamento na Amazônia e defendendo os agricultores franceses.

  • Segundo Carolina Pavese, doutora pela London School of Economics e professora do Instituto Mauá de Tecnologia, apesar da relação cordial entre Lula e Macron, não há indicativos concretos de mudança na postura francesa. A rejeição do acordo já foi classificada como "inaceitável" por Paris, mesmo após o clima amistoso demonstrado durante a visita do presidente francês ao Brasil.

O fator político interno na França

  • Macron enfrenta um cenário político doméstico instável. Após a derrota de seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu em 2024, ele dissolveu o Legislativo e convocou novas eleições. Desde então, opera com um Parlamento fragmentado, dependendo de coalizões para aprovar qualquer medida. Qualquer sinal de apoio irrestrito ao acordo UE-Mercosul poderia enfraquecê-lo ainda mais, sobretudo entre eleitores do setor agrícola — um grupo decisivo na política francesa.

O realismo necessário

  • Segundo Kevin Parthenay, professor de Ciência Política da University of Tours, tanto Macron quanto Lula têm limites definidos pela realidade pragmática de suas políticas internas. No caso francês, isso significa que mesmo que Macron quisesse apoiar o tratado com o Mercosul, ele estaria limitado pelas regulamentações da União Europeia sobre proteção ambiental e regras sanitárias, que estão além da decisão de um único chefe de Estado.

Expectativas futuras e pragmatismo brasileiro

  • Durante sua visita de Estado a Paris em 2025, Lula levou novamente o tema à mesa, acompanhado de críticas à nova legislação ambiental europeia. O Itamaraty considera que há um cenário "predominantemente favorável" ao acordo, com alguns países antes resistentes, como a Áustria, mostrando sinais de mudança. A expectativa brasileira é de que o pacto seja assinado até dezembro deste ano, mas analistas seguem céticos.

Apesar do clima amigável entre Lula e Macron e da convergência em temas internacionais, a divergência em torno do acordo UE-Mercosul representa um obstáculo relevante e ainda não superado. Enquanto o Brasil tenta equilibrar desenvolvimento e preservação ambiental, a França se vê pressionada por seu setor agrícola e pelas diretrizes ambientais da União Europeia. Essa tensão revela que, na diplomacia internacional, as afinidades pessoais não são suficientes para garantir consensos, especialmente quando há interesses econômicos e eleitorais em jogo. O futuro do tratado dependerá menos de sorrisos e apertos de mão e mais da habilidade de negociar concessões pragmáticas entre blocos que, apesar das diferenças, reconhecem a importância de caminhar juntos.

Estão lendo agora

Oscar 2025: Conheça os curtas e documentários brasileiros que podem conquistar o mundoO cinema brasileiro está mais uma vez na corrida pelo Oscar 2025, e além da disputa pelo prêmio de Melhor Filme Internac...
"Terapia Pet" na saúde pública: Como animais de estimação estão transformando hospitais e clínicas em ambientes mais acolhedoresImagine entrar em um hospital ou clínica e, em vez de sentir aquele clima pesado e tenso, se deparar com um ambiente mai...
Violência inaceitável no futebol Turco: Lições para o BrasilA violência no futebol da Turquia atingiu níveis alarmantes, levando a episódios de violência extrema entre torcedores, ...
Max em Maio de 2025: Tudo sobre as grandes estreias, séries aguardadas e a fnal da Champions League no streamingMaio de 2025 promete ser um mês emocionante para os assinantes da Max, com lançamentos que incluem desde blockbusters ci...
Perspectivas econômicas para a América Latina em 2025: Três questões-chaveA economia da América Latina em 2025 será influenciada por fatores externos e internos, cujas decisões impactam diretame...
Bernard Arnault supera Elon Musk e recupera título de pessoa mais rica do mundoNo dia 27 de janeiro de 2024, Bernard Arnault, presidente global da LVMH, ultrapassou Elon Musk e retomou o posto de hom...
Conflito Israel-Irã dispara preço do petróleo: Maior alta desde 2022 e impactos na economia globalOs preços do petróleo registraram a maior alta desde 2022 nesta sexta-feira (13/06/25), impulsionados pelos ataques entr...
'Capitalismo do desastre': Assim caminha a insustentabilidade - Raízes do desastre no Rio Grande do SulA transformação de Porto Alegre e do estado do Rio Grande do Sul (RS) em centros econômicos e agrícolas é resultado de u...
Premonição 6: Laços de Sangue – O filme que vai revelar os segredos da morte? Confira trailer, história e detalhesApós quase 15 anos, a icônica franquia Premonição está de volta com um novo filme que promete resgatar suas raízes, expl...
Shrek 5: Tudo sobre o retorno da franquia e a participação de Zendaya - ConfiraA franquia Shrek está de volta! A DreamWorks revelou o primeiro teaser oficial de Shrek 5, confirmando que Zendaya, estr...
Seu filho está agressivo ou ansioso? O tempo de tela pode ser a causa – Veja o que dizem os novos estudosO uso excessivo de telas por crianças tem sido um tema de crescente preocupação entre pais, educadores e especialistas e...