O relato de Bolsonaro sobre o ferro de solda na tornozeleira - Paranóia ou estratégia de fuga?
Jair Bolsonaro (PL) foi preso preventivamente em 22 de novembro de 2025, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão revogou a prisão domiciliar anterior do ex-presidente, citando risco iminente de fuga após a detecção de uma tentativa de violação de sua tornozeleira eletrônica e a convocação de uma "vigília" de apoiadores próxima à sua residência.
A versão de Bolsonaro: Paranoia e alucinação por remédios
Na audiência de custódia realizada no domingo (23/11), o ex-presidente apresentou a seguinte justificativa para tentar danificar o equipamento de monitoramento:
- Estado mental alterado: Ele alegou ter sofrido um episódio de "paranoia" e "alucinação".
- Causa farmacológica: Tais efeitos teriam sido provocados pela combinação de medicamentos: pregabalina (para dores crônicas) e sertralina (antidepressivo/ansiolítico).
- Suspeita de escuta: Bolsonaro afirmou ter acreditado que a tornozeleira pudesse conter um dispositivo de escuta clandestino, o que o motivou a tentar manipulá-la.
- Admissão: Ele admitiu ter usado um ferro de solda na tentativa de violar o aparelho, mas disse ter interrompido a ação por conta própria.
- Negativa de fuga: O ex-presidente negou qualquer intenção de fugir.
Contradições e ação da justiça
O relato de Bolsonaro na audiência de custódia apresentou inconsistências com uma declaração anterior à Secretaria de Administração Penitenciária (SEAPE):
- Horário da violação: Na audiência, ele disse ter começado a violar a tornozeleira por volta da meia-noite (00h07 de sábado, segundo o alerta). Anteriormente, ele havia dito que foi "no final da tarde".
- Motivação: No vídeo da SEAPE, ele disse ter danificado o equipamento por "curiosidade", diferente da alegação de "paranoia e alucinação" na audiência.
A decisão de Moraes e a defesa
- Risco iminente de fuga: O ministro Moraes citou a violação da tornozeleira (que apresentava sinais de queimadura) e a convocação da vigília por Flávio Bolsonaro como evidências de um risco concreto de fuga. A vigília foi interpretada como uma possível estratégia para gerar tumulto e dificultar a ação policial.
- Local de fuga: Moraes mencionou que Bolsonaro poderia se abrigar na Embaixada dos EUA, citando o histórico de ter passado duas noites na embaixada da Hungria anteriormente.
- Reação da defesa: A defesa de Bolsonaro apresentou explicações reforçando que "não houve tentativa de fuga" e que o dano foi causado por um "quadro de confusão mental" devido à interação de remédios. Eles pediram a reconsideração da prisão preventiva e a concessão de prisão domiciliar humanitária por questões de saúde (condições cardiológicas, pulmonares, gastrointestinais, neurológicas e oncológicas).
- Cumprimento da prisão: Bolsonaro foi transferido para a Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, onde está em uma Sala de Estado.
Contexto da prisão e condenação
A prisão preventiva ocorreu em um momento sensível após o STF rejeitar os últimos recursos da defesa na ação penal.
- Condenação: Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses em regime inicial fechado por crimes como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
- Argumentos de Moraes: O ministro ressaltou que a vigília convocada por Flávio Bolsonaro se assemelhava a mobilizações passadas que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023, representando um risco à ordem pública e à aplicação da lei penal.
Repercussão
O caso gerou fortes reações no Brasil e foi amplamente coberto pela imprensa internacional, que destacou a atuação incomum do STF em um sábado e o contexto de responsabilização judicial de ex-chefes de Estado.
