Reconhecimento do Estado Palestino: Por que Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal agiram agora e o que significa?
Em uma decisão histórica, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal anunciaram o reconhecimento formal do Estado da Palestina. Este movimento diplomático, liderado pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer, em 21 de setembro de 2025, surge em meio à escalada da crise humanitária e do conflito em Gaza. A medida, apresentada como uma tentativa de revitalizar a solução de dois Estados, gerou reações intensas e divididas em todo o mundo.
Por que agora? As razões por trás do reconhecimento
A decisão foi tomada com base em fatores cruciais que se agravaram nos últimos meses:
- Salvar a solução de dois estados: O principal argumento dos quatro países é que a perspectiva de paz está morrendo. O reconhecimento é visto como um "gesto forte" para contrariar a expansão dos assentamentos israelenses e a violência contínua.
- A crise humanitária em Gaza: Líderes citaram a situação "intolerável" e "horrorizante" em Gaza, com fome e um número alarmante de vítimas. A medida é uma forma de pressionar por um fim imediato do conflito.
- Condições não cumpridas: O primeiro-ministro britânico havia dado um prazo a Israel para que tomasse "medidas substanciais" para acabar com a crise. A avaliação foi que essas condições não foram atendidas, desencadeando o reconhecimento.
O posicionamento do Brasil
O Brasil tem uma posição diplomática de longa data em relação ao conflito, sendo um dos primeiros países da América Latina a reconhecer o Estado da Palestina.
- Reconhecimento antecipado: O governo brasileiro, em 2010, sob o mandato do então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reconheceu formalmente o Estado da Palestina, baseando-se nas fronteiras de 1967.
- Apoio contínuo: A diplomacia brasileira, através do Itamaraty, tem reiterado seu apoio à criação de um Estado palestino independente e tem se posicionado a favor de iniciativas internacionais que buscam a paz e o reconhecimento mútuo entre Israel e Palestina.
- Reações recentes: O governo brasileiro atual, por meio do Presidente Lula, celebrou a decisão de países como Espanha, Noruega e Irlanda de reconhecer a Palestina, classificando-a como "histórica" e um passo fundamental para a paz e estabilidade no Oriente Médio.
Um ato, múltiplas reações: O debate se acende
O anúncio gerou respostas imediatas e contrastantes, refletindo a complexidade do conflito:
- Aprovação Palestina: O presidente Mahmoud Abbas celebrou a decisão, classificando-a como um passo crucial para o direito de autodeterminação do povo palestino.
- Condenação Israelense: O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeitou a medida, chamando-a de "recompensa ao terrorismo" e argumentando que ela legitima o Hamas.
- Divisão no Reino Unido: A decisão foi elogiada pela oposição liberal-democrata e criticada pela oposição conservadora, que a considerou "absolutamente desastrosa". Familiares de reféns israelenses expressaram profunda decepção.
- Posição ambigua do Hamas: O grupo saudou o reconhecimento como um "passo importante", mas exigiu que ele fosse acompanhado de "medidas práticas" para terminar a guerra.
O que muda na prática? Do simbolismo à realidade
É fundamental entender o alcance real deste ato diplomático:
- Relevância política e diplomática: O reconhecimento por nações influentes, tradicionalmente alinhadas com o Ocidente, representa um isolamento diplomático de Israel e pode incentivar outros países a seguirem o mesmo caminho.
- Fortalecimento da autoridade Palestina: A medida visa fortalecer a Autoridade Palestina como o interlocutor legítimo para a paz, marginalizando o Hamas.
- Natureza simbólica no terreno: O reconhecimento não altera a situação imediata na região. A Palestina não ganha controle sobre suas fronteiras, e a ocupação israelense e o bloqueio a Gaza permanecem.
- Base para um futuro Estado: O Reino Unido especificou que o reconhecimento se baseia nas fronteiras de 1967, estabelecendo uma base mais concreta para futuras negociações de paz.
O futuro da paz: Um novo capítulo ou um gesto isolado?
O reconhecimento do Estado da Palestina por esses quatro países é um marco diplomático significativo, carregado de simbolismo. No entanto, sua eficácia a longo prazo ainda é incerta. A verdadeira prova será se este ato consegue catalisar uma mudança real como um cessar-fogo duradouro e negociações significativas ou se permanecerá como um capítulo simbólico em uma história de conflito que parece não ter fim.
