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terça-feira, 31 de dezembro de 2024 às 11:16 GMT+0

Estoicismo: Como enfrentar desafios e aceitar o que não podemos controlar

O estoicismo é uma filosofia antiga que se destaca por ensinar a importância de aceitar o que não está em nosso controle e focar no que podemos mudar, o que ressoa especialmente em tempos difíceis. A prática dessa filosofia oferece ferramentas para lidar com as adversidades e encontrar serenidade diante do caos.

O desafio da vida moderna

  • O neurologista Fábio Porto, ao longo de sua carreira e experiências pessoais, enfrentou momentos de grande turbulência e buscou formas de tornar sua mente mais resistente às dificuldades externas. Seu interesse pelo estoicismo cresceu como uma maneira de fortalecer sua capacidade de lidar com o que não poderia controlar, especialmente em sua profissão como especialista em demência.

Ensinamentos estoicos e a busca por resiliência

  • O estoicismo, originado na Grécia e Roma antigas, tem como grandes expoentes pensadores como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Esta filosofia sugere que devemos cultivar virtudes como sabedoria, justiça, coragem e temperança para enfrentar os desafios da vida com equilíbrio. Ao aceitar o que não podemos controlar e trabalhar ativamente em nosso comportamento e mentalidade, podemos viver de maneira mais plena.

Conectando o estoicismo com a prática médica

  • Fábio Porto se deparou com os conceitos estoicos quando iniciou sua jornada na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma abordagem psicoterapêutica que utiliza muitos dos princípios do estoicismo. Um dos ensinamentos mais importantes de Epicteto, citado por Porto, é:

“Não são as coisas que perturbam as pessoas, mas os pareceres a respeito das coisas.”

A ideia é que nossas emoções são frequentemente o reflexo da forma como interpretamos as situações, e não das situações em si.

Como a filosofia estoica ajuda na prática com pacientes

  • Porto aplica esses conceitos para ajudar seus pacientes, principalmente aqueles com demência, a lidar com as dificuldades emocionais causadas pela perda gradual de memória. Ele ensina que entender a doença é o primeiro passo para aceitá-la, e ao aceitar o que não podemos controlar, como a evolução da demência, as pessoas sofrem menos.

  • Além disso, Porto sugere que, ao se apegar demais a ideias como a capacidade de dirigir ou a memória intacta, a pessoa acaba criando distorções cognitivas que intensificam o sofrimento. A verdadeira felicidade e satisfação vêm de adaptar-se à realidade e aceitar que o valor da vida não está nas coisas externas, mas na nossa capacidade de lidar com as circunstâncias.

O papel das virtudes estoicas em momentos de desafios pessoais

  • O estoicismo defende que, quando confrontados com perdas e mudanças inevitáveis, devemos focar nas quatro virtudes principais: sabedoria, justiça, coragem e temperança. São essas virtudes que nos ajudam a enfrentar os momentos difíceis com dignidade e equilíbrio. Ao encarar um desafio como uma oportunidade para praticar essas virtudes, podemos encontrar um caminho mais leve e resiliente.

Aplicando os princípios estoicos em casos de demência

  • A demência, como uma doença degenerativa e incurável, desafia tanto os pacientes quanto seus familiares. Em momentos de crise, como o diagnóstico de demência, Porto aplica os ensinamentos estoicos, sugerindo que o paciente se concentre no que ainda pode fazer e busque viver plenamente o presente. Além disso, ele orienta os familiares a não se desesperarem e a aceitarem a situação com serenidade, compreendendo que a morte e a degeneração da mente são partes naturais da vida.

Enfrentando o sofrimento com desapego

  • Porto observa que muitos pacientes, ao enfrentarem o sofrimento de doenças como a demência, experimentam sofrimento antecipatório, ou seja, sofrer pelo que ainda não aconteceu. Ele sugere que a prática do desapego, uma virtude estoica, pode ajudar a reduzir esse sofrimento. Por exemplo, antecipar que no futuro o paciente precisará de cuidados especiais ou medicamentos gera ansiedade desnecessária. O foco deve ser no agora, não no que ainda está por vir.

A importância de aceitar a realidade

  • Um dos pontos centrais do estoicismo é entender a diferença entre o que podemos e o que não podemos controlar. Fábio Porto argumenta que, ao aprender a distinguir essas duas esferas, podemos diminuir a frustração e a ansiedade. Quando nos apegamos excessivamente a resultados que estão além de nosso controle, como o sucesso financeiro ou a saúde, criamos uma tensão que só aumenta o sofrimento. O estoicismo nos ensina a aceitar esses resultados como parte do fluxo natural da vida.

Reflexões sobre a morte e o sofrimento

  • Quando se trata de doenças terminais, como no estágio avançado da demência, Porto compartilha uma reflexão importante do estoicismo: a morte é natural e, ao aceitá-la, o sofrimento diminui. - Ele faz uma diferença clara entre distanasia (a morte prolongada artificialmente) e a morte natural, sugerindo que devemos evitar prolongar a vida de maneira invasiva se o resultado não for uma melhora significativa na qualidade de vida. Aceitar a morte com dignidade, de acordo com a filosofia estoica, ajuda a reduzir o sofrimento não apenas do paciente, mas também dos familiares.

O estoicismo não prega o conformismo ou a apatia, mas sim o desapego e a resiliência diante dos eventos da vida. Ao aplicar seus princípios, como distinguir o que podemos controlar e o que não podemos, podemos viver uma vida mais plena, mesmo diante das adversidades. A filosofia estoica nos ensina que a verdadeira felicidade vem da nossa capacidade de aceitar a realidade e focar nas virtudes internas, sem nos prender às coisas externas que estão fora de nosso alcance.

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