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terça-feira, 18 de novembro de 2025 às 10:29 GMT+0

Ideação suicida: Bullying e cyberbullying - Como aumentam o risco de suicídio em jovens - Atenção, proteção e a rede essencial de apoio (CVV 188)

O sofrimento mental na adolescência é, muitas vezes, um grito de socorro silencioso que pode culminar na ideação suicida. Entender esse fenômeno complexo é crucial para a prevenção, pois, conforme aponta a Dra. Vanessa Barbosa Romera Leme (UERJ), o suicídio raramente é um ato impulsivo, mas o resultado de uma intrincada combinação de fatores.

A dimensão da crise: Dados de saúde pública

A ideação e o comportamento suicida juvenil representam uma emergência global e nacional.

  • Terceira principal causa de morte global: O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 10 a 19 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
  • Aumento no Brasil: O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde registrou um aumento de 43% nas mortes por suicídio entre 2010 e 2019 no país.
  • Populações de risco: O problema é mais prevalente entre adolescentes expostos à violência familiar e comunitária, e entre aqueles pertencentes a minorias étnicas ou ao grupo LGBTQIA+.

Entendendo a progressão: Do pensamento ao ato

É vital diferenciar os estágios do comportamento suicida para uma intervenção adequada:

1. Ideação suicida: Refere-se aos pensamentos, planos e ao desejo de tirar a própria vida. É o primeiro sinal de risco.
2. Comportamento suicida: É um termo mais amplo que engloba a ideação, o planejamento e as tentativas de suicídio. Todos são fatores de risco não fatais, mas que exigem atenção imediata.
3. Suicídio: É o ato fatal, concretizado com a intenção de morrer.

Automutilação: Pode ou não estar associada à intenção suicida, mas é sempre um sinal de sofrimento intenso que demanda cuidado profissional.

O cenário nacional: Fatores de risco e proteção

Um estudo brasileiro coordenado pela Dra. Vanessa Barbosa Romera Leme revelou dados alarmantes e caminhos para a prevenção:

Fatores de risco críticos

  • Prevalência chocante: Quase um quarto (23,8%) dos estudantes entrevistados no estudo relataram ideação suicida no último ano.
  • Vitimização e violência: O aumento na ocorrência de bullying verbal e cyberbullying elevou significativamente as chances de ideação suicida entre os participantes.
  • Disparidade de gênero: Adolescentes do sexo feminino apresentaram uma chance significativamente maior de ideação suicida em comparação com os do sexo masculino.

Fatores de proteção poderosos

  • Habilidades socioemocionais: Um melhor autocontrole do adolescente demonstrou ser um escudo, reduzindo as chances de ideação.
  • Clima escolar positivo: Um ambiente escolar acolhedor, inclusivo e democrático funciona como um fator protetor essencial.

Canais essenciais de ajuda no Brasil

É crucial saber onde buscar apoio imediato e sigiloso para quem está em sofrimento ou em risco de suicídio. O apoio é gratuito e disponível 24 horas por dia.

Centro de Valorização da Vida (CVV):

  • Ligue 188: Atendimento telefônico gratuito e sigiloso, 24 horas por dia, de qualquer lugar do Brasil.
  • Outros canais: O CVV também oferece atendimento via chat e e-mail em seu site oficial.

Emergências médicas:

  • SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência): Ligue 192 para situações de emergência que exijam intervenção imediata.
  • Pronto Socorro e UPA (Unidades de Pronto Atendimento) 24 Horas: Locais para atendimento médico de urgência.

Serviços de Saúde Mental do SUS:

  • CAPS (Centro de Atenção Psicossocial): Oferecem acolhimento e tratamento psicossocial contínuo para pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, incluindo risco de suicídio.
  • Unidades Básicas de Saúde (UBS): O primeiro ponto de contato para avaliação e encaminhamento dentro da rede de saúde.

A complexidade do fenômeno: Uma teia de influências

A ideação suicida não é causada por um fator isolado. É um fenômeno multifacetado que resulta da interação entre:

  • Nível individual: Habilidades sociais, saúde mental e autocontrole.
  • Nível familiar: Exposição à violência e qualidade dos laços afetivos.
  • Nível escolar: Presença ou ausência de bullying, e o clima geral da escola.
  • Nível comunitário: Suporte social e exposição à violência na comunidade.

Prevenção e cuidado coletivo

O conhecimento científico aponta a urgência de uma resposta coordenada para proteger os jovens:

  • Foco na escola como intervenção: O ambiente escolar é um local privilegiado para ações preventivas, pois é onde o bullying e o cyberbullying mais se manifestam.
  • Combate à violência e promoção da paz: É fundamental concentrar esforços em políticas de combate efetivo ao bullying e de promoção de contextos educativos saudáveis.
  • Quebrando o silêncio: Falar abertamente sobre saúde mental e ideação suicida, de forma cuidadosa e sem estigma, é o primeiro passo para interromper o ciclo de sofrimento.
  • Direcionamento de políticas: As evidências científicas devem ser usadas para guiar e fortalecer políticas públicas de promoção da saúde mental e prevenção ao suicídio juvenil.

Uma rede de esperança

A ideação suicida em adolescentes exige uma resposta coletiva, empática e informada. O maior poder reside na construção de uma rede de apoio que possa:

1. Reconhecer os sinais: Estar atento ao isolamento, mudanças drásticas de comportamento ou verbalizações de desesperança.
2. Abordar com cuidado: Conversar com o adolescente com empatia, sem julgamento e buscando o suporte profissional imediato nos canais de ajuda mencionados.

A prevenção salva vidas, e a esperança reside na nossa capacidade de agir com compaixão e baseados em evidências.

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