Os assustadores grupos online de tortura de gatos: Uma investigação da BBC que revela um problema global de crueldade e impunidade

Uma investigação profunda da BBC News revelou uma realidade perturbadora e brutal: redes internacionais, formadas por milhares de pessoas, compartilham vídeos de tortura de gatos e filhotes de gato pela internet. Esses grupos atuam de maneira clandestina, utilizando aplicativos de mensagens criptografadas para organizar, divulgar e até vender esse tipo de conteúdo, com membros localizados em diversas partes do mundo, incluindo o Reino Unido e o Japão. O material é tão chocante que boa parte dele não pode sequer ser exibida.
O que a investigação revelou:
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A apuração começou após um caso ocorrido em Maio, quando dois adolescentes britânicos confessaram ter torturado e matado gatinhos em um parque de Londres. No local foram encontradas facas, maçaricos e tesouras, além dos corpos dos filhotes pendurados em uma árvore. A polícia, ao aprofundar o caso, identificou possíveis conexões com uma rede online maior e mais organizada.
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Durante a investigação, a BBC teve acesso a grupos em aplicativos criptografados onde membros discutem abertamente como conseguir gatos para abusar, inclusive adotando-os de abrigos oficiais como a Sociedade Real para Prevenção da Crueldade contra Animais (RSPCA). Em alguns desses fóruns, há membros que chegam a incentivar a tortura como uma forma de "iniciação" para novos participantes.
Origem e expansão global:
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Os primeiros sinais da existência desses grupos surgiram na China em 2023, com vídeos extremamente violentos que viralizaram. Um dos responsáveis, Wang Chaoyi, chegou a ser detido por 15 dias e obrigado a escrever uma carta de arrependimento. Apesar da punição branda, o caso atraiu milhares de seguidores que passaram a replicar e criar conteúdos semelhantes, inclusive para redes sociais ocidentais.
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Atualmente, os grupos atuam em escala global, com presença confirmada em países como Reino Unido e Japão. Uma das figuras centrais identificadas atende pelo nome de
"Little Winnie"
, uma conta que satiriza o presidente chinês Xi Jinping e que administra múltiplos fóruns de tortura. Através de uma ativista infiltrada, o grupo Feline Guardians conseguiu chegar a um homem de 27 anos vivendo em Tóquio, que nega qualquer envolvimento, apesar das evidências obtidas.
O papel dos ativistas e o volume do problema:
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A ONG Feline Guardians tem documentado e denunciado esses crimes. Segundo a entidade, entre maio de 2023 e maio de 2024, um novo vídeo de tortura de gatos era postado, em média, a cada 14 horas. Ao todo, 24 grupos ativos foram identificados, sendo que o maior contava com mais de mil membros. Há registro de um único torturador responsável por mais de 200 mortes de gatos filmadas.
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Os métodos são descritos como sádicos e envolvem afogamento, eletrocussão e mutilações. Em fóruns, membros discutem formas de prolongar o sofrimento das vítimas, incluindo reanimação por choque para continuar as sessões de tortura. Em 2023, uma competição promovida por um dos grupos desafiava os membros a torturar e matar 100 gatos no menor tempo possível.
Crianças envolvidas e ausência de punição:
Há indícios alarmantes de envolvimento de crianças nesses grupos. Uma mensagem em um dos chats dizia:
“Tenho 10 anos e gosto de torturar gatos.”
- A natureza aberta e impune dessas comunidades faz com que jovens sejam expostos desde cedo à crueldade, o que levanta preocupações profundas sobre o impacto psicológico e social desse conteúdo.
- A ativista Lara, do Feline Guardians, afirma que a falta de leis rigorosas, especialmente em países como a China, onde não há legislação contra crueldade animal, contribui para a proliferação dessas redes.
“Esses vídeos são um problema global, porque todo mundo pode acessá-los. Até crianças estão vendo isso”, alertou.
Reações oficiais e pedidos de ação:
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Autoridades como Ian Briggs, chefe de operações especiais da RSPCA, condenaram veementemente os atos:
“Tratar animais dessa maneira é absolutamente inaceitável.”
A parlamentar britânica Johanna Baxter destacou a gravidade da situação, afirmando que o abuso de animais pode ser uma porta de entrada para crimes ainda mais graves. -
A Feline Guardians tem pressionado governos e autoridades policiais por ações coordenadas. Já houve manifestações em frente à embaixada da China no Reino Unido exigindo mudanças legais e maior responsabilidade das plataformas que hospedam ou permitem a circulação desse conteúdo.
A investigação da BBC expõe um problema que ultrapassa fronteiras e se alimenta do silêncio, da impunidade e da estrutura de redes criptografadas. A crueldade documentada revela o pior do comportamento humano e a necessidade urgente de resposta global. O envolvimento de crianças, a proliferação desenfreada desses vídeos e a ausência de legislação robusta tornam a situação ainda mais crítica. Para conter esse avanço sombrio, é preciso agir com firmeza: autoridades, plataformas digitais, governos e sociedade civil devem se mobilizar, não apenas para punir, mas para prevenir que o mal continue se espalhando, alimentando novas gerações com violência gratuita e sem limites.