Por que mulheres ainda precisam agradar para crescer no trabalho? O custo invisível do 'likeability labour'"

A pressão social para ser agradável no ambiente de trabalho é um desafio significativo para muitas mulheres, especialmente em posições júnior. Esse fenômeno, conhecido como likeability labour ("trabalho de agradar"), pode limitar o crescimento profissional feminino, conforme revelam pesquisas globais. A história de Faith, uma jovem profissional do Quênia, ilustra como essa dinâmica opera na prática.
O caso de Faith: Um exemplo real
Faith, de 24 anos, enfrentou um dilema comum durante uma reunião de trabalho em Nairóbi. Ao discordar de um colega mais experiente, ela optou por não se manifestar para evitar ser vista como "difícil". Seu relato reflete um padrão identificado em estudos: mulheres frequentemente priorizam a harmonia social sobre suas próprias opiniões, com medo de prejudicar sua imagem profissional.
- Demonstra como normas culturais afetam comportamentos no trabalho.
- Destaca a vulnerabilidade de profissionais jovens, especialmente em cargos iniciais.
O conceito de likeability labour
Amy Kean, da consultoria Good Shout, cunhou o termo para descrever a pressão constante que as mulheres sentem para serem apreciadas no trabalho. Seu estudo no Reino Unido revelou que:
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56% das mulheres modificam seu comportamento para agradar (versus 36% dos homens).
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Mulheres usam linguagem minimizadora (ex.: "
Isso faz sentido?" ou "Desculpa interromper..."
) para evitar parecer assertivas demais. -
Mostra a desigualdade de expectativas entre gêneros.
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Explica como autocrítica excessiva pode prejudicar a confiança e a progressão na carreira.
Dados globais: Um problema sistêmico
Pesquisas em diferentes países corroboram a tendência:
- Estados Unidos (Textio, 2024): 56% das mulheres receberam feedback negativo por "não serem agradáveis", contra 16% dos homens.
- Quênia (McKinsey, 2025): Mulheres ocupam 50% dos cargos iniciais, mas apenas 26% dos cargos sênior.
Contexto cultural:
No Quênia, a expressão office mathe ("mãe do escritório") descreve mulheres que assumem tarefas extras não remuneradas, como organizar lanches ou apoiar colegas.
Impactos e consequências
Gladys Nyachieo, socióloga queniana, explica que a socialização feminina como cuidadoras se estende ao ambiente profissional, resultando em:
- Sobrecarga de trabalho emocional e prático.
- Menos oportunidades de promoção, já que habilidades técnicas são ofuscadas por expectativas de "serviço".
Dado crucial: Homens são quatro vezes mais elogiados como "agradáveis" em avaliações, enquanto mulheres são penalizadas por comportamentos similares.
Possíveis soluções
Especialistas sugerem:
- Mentoria: Nyachieo defende que mulheres jovens aprendam a negociar e se impor sem culpa.
- Políticas organizacionais: Horários flexíveis e critérios claros de avaliação podem reduzir vieses.
- Conscientização: Eventos como o Unlikeable Woman (Reino Unido) criam espaços para discutir o tema.
O "trabalho de agradar" é uma barreira invisível, mas poderosa, para a equidade de gênero no mercado de trabalho. Enquanto mulheres como Faith aprendem a equilibrar assertividade e diplomacia, empresas e sociedades precisam repensar normas culturais e estruturas que perpetuam desigualdades. A mudança exige esforços individuais e sistêmicos — desde mentoria até políticas inclusivas — para que competência, e não simpatia, seja o critério de progressão.