Schoenstatt no Brasil: A rede de santuários que conecta a fé brasileira à nova presidência chilena - Religião e política
A vitória de José Antonio Kast no Chile trouxe holofotes para o Schoenstatt, um movimento apostólico fundado na Alemanha que possui raízes profundas e ramificações estratégicas em território brasileiro. Embora Kast assuma a presidência chilena em 2026, os valores e a estrutura desse grupo já fazem parte do cotidiano religioso e social de milhares de brasileiros.
A força do movimento no Brasil
O Brasil é um dos pilares globais do Schoenstatt. A expansão para o país ocorreu na década de 1930, quase simultaneamente à chegada na Argentina.
- Rede de santuários: O Brasil abriga dezenas de réplicas do "Santuário Original". Locais como o Santuário de Atibaia (SP) e o de Londrina (PR) são grandes centros de peregrinação que movimentam o turismo religioso e consolidam a doutrina mariana no país.
- Presença nas cidades: Ao contrário de outras ordens enclausuradas, o Schoenstatt no Brasil atua fortemente em paróquias urbanas e colégios, focando na formação de famílias e lideranças comunitárias sob uma ótica conservadora.
Perfil social e ideológico: O "cidadão de bem"
No cenário brasileiro, o Schoenstatt encontra ressonância em um perfil específico da sociedade:
- Classes médias e profissionais: O movimento é popular entre empresários, advogados e profissionais liberais que buscam uma vivência religiosa rigorosa, mas inserida na vida prática e profissional.
- Conservadorismo sem flagelação: Diferente do Opus Dei, que por vezes é associado a práticas de penitência física, o Schoenstatt brasileiro foca na "autoeducação" e na santidade na vida diária. Isso atrai um público que defende valores tradicionais da família, mas prefere uma estética religiosa mais acolhedora e moderna.
- Atuação em institutos seculares: A estrutura permite que leigos brasileiros vivam compromissos de castidade e obediência sem usar hábitos, atuando de forma discreta em diversos setores da sociedade civil.
A conexão com a política sul-americana
A ascensão de Kast no Chile não é um evento isolado, mas reflete a organização de grupos católicos que buscam ocupar espaços de poder na América Latina.
- O exemplo chileno: Kast utiliza a retórica da "sabedoria e temperança", valores centrais na pedagogia de Schoenstatt, para governar. No Brasil, embora o movimento não tenha um partido oficial, seus membros costumam apoiar pautas voltadas à defesa da vida (antiaborto), da família tradicional e do livre mercado.
- Legado de Miguel Kast: O irmão do presidente eleito, formado sob as diretrizes do movimento, foi um dos "Chicago Boys" que implementou reformas econômicas liberais no Chile. Essa fusão entre fé católica e economia de mercado é um modelo que encontra muitos entusiastas na direita brasileira.
As controvérsias e o impacto na fé
Assim como no exterior, o Schoenstatt brasileiro enfrenta o desafio de lidar com as sombras de seu fundador, José Kentenich:
- Denúncias de abuso: As investigações históricas que apontam abusos de poder e sexuais cometidos por Kentenich (especialmente o caso relatado no Chile em 1947) são acompanhadas com cautela pelas lideranças brasileiras.
- Processo de beatificação: A suspensão do processo de santidade do fundador gera debates internos sobre como separar a obra (os santuários e a pedagogia) da figura humana do padre.
O futuro do movimento
Com a posse de um "schoenstattiano" na presidência de um dos principais parceiros comerciais do Brasil, a tendência é que o movimento ganhe mais visibilidade e influência no debate público nacional, servindo como uma ponte entre a fé tradicional e a gestão política de direita na região.
