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segunda-feira, 22 de setembro de 2025 às 11:15 GMT+0
Bolas de Netuno: Uma mensagem do fundo do mar - Por que a natureza está nos devolvendo o microplástico?

Imagine caminhar por uma praia do Mediterrâneo e encontrar bolas fibrosas e esponjosas, parecidas com ouriços de algas secas. Conhecidas como "Bolas de Netuno", essas formações naturais são mensageiras inesperadas do oceano, trazendo à tona um alerta sobre a poluição.
O que são as Bolas de Netuno?
- Origem e natureza: As bolas de Netuno são formadas a partir das folhas da Posidonia oceanica, uma planta marinha (não uma alga) endêmica do Mar Mediterrâneo. Quando essas folhas caem no outono, as correntes marinhas as fazem se entrelaçar de forma compacta e esférica.
- Função histórica: Por séculos, as comunidades costeiras usaram essas bolas e as folhas de Posidonia para embalagens, estofamento de colchões e isolamento de casas.
A descoberta científica: O fascinante processo de limpeza
O estudo, liderado pela pesquisadora Anna Sánchez-Vidal, desvendou como a natureza age na captura de plástico.
- A armadilha subaquática: Os densos prados de Posidonia agem como redes naturais, reduzindo a força das correntes e capturando sedimentos e, principalmente, microplásticos (partículas com menos de 5 mm) que chegam ao mar através dos rios.
- A formação da "bola transportadora": À medida que as folhas se transformam nas Bolas de Netuno, elas incorporam os fragmentos de plástico. Enquanto rolam pelo fundo do mar, as bolas acumulam ainda mais partículas em suas fibras.
- O retorno à costa: Tempestades e marés levam essas bolas do fundo do mar para a praia. A pesquisadora Anna Sánchez-Vidal explica o fenômeno de forma poética: "É uma forma que o mar tem de devolver para nós o lixo que nunca deveria estar no leito do oceano".
O que essa descoberta significa?
- Um bioindicador valioso: As Bolas de Netuno funcionam como um indicador natural da poluição, mostrando a quantidade de plástico que se acumula nos ecossistemas marinhos.
- Um serviço ecossistêmico passivo: Estima-se que os prados de Posidonia no Mediterrâneo possam capturar cerca de 900 milhões de fragmentos de plástico por ano.
- Alerta sobre a magnitude do problema: O estudo revelou que, embora uma minoria das bolas (17%) contenha plástico, a concentração de microplástico nelas é alarmante, podendo chegar a 1.500 pedaços por quilo.
Limitações e cuidados essenciais
- Não são a solução: Os pesquisadores são enfáticos: as Bolas de Netuno não são uma solução para a crise do plástico, mas um sintoma do problema.
- Preservação do ecossistema: É crucial não recolher essas bolas das praias. Elas trazem umidade e nutrientes para a areia e sua remoção pode prejudicar o frágil ecossistema costeiro.
- Ameaça à Posidonia: A própria Posidonia oceanica está em declínio devido à poluição, ao aquecimento dos oceanos e ao desenvolvimento costeiro. A perda desses prados significa a perda de sua capacidade de capturar carbono e plástico, além de prejudicar um habitat essencial para a vida marinha.
A mensagem que veio do mar
- A descoberta das Bolas de Netuno como coletoras de plástico é um fascinante exemplo de como a natureza responde às pressões humanas. No entanto, a mensagem central não é de que o oceano pode se limpar sozinho, mas sim um apelo urgente à ação.
A verdadeira solução, como salienta Anna Sánchez-Vidal, está na origem do problema. Precisamos reduzir drasticamente a produção e o descarte inadequado de plástico para que ele não chegue aos oceanos. As Bolas de Netuno são um recado claro: o lixo que descartamos retorna, e a preservação de ecossistemas marinhos é essencial para a saúde do nosso planeta.