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sexta-feira, 24 de outubro de 2025 às 10:32 GMT+0

Como seu cérebro decide o que comer em menos de 1 segundo: A ciência por trás das escolhas alimentares.

Imagine-se em um supermercado, diante de uma prateleira repleta de opções. Em frações de segundo, seu cérebro já processou informações cruciais sobre cada alimento, levando-o a preferir um pacote de batatas fritas em vez de um biscoito de arroz. Esse processo, conhecido como "decisão alimentar", envolve a avaliação simultânea de atributos como sabor, saúde, preço e familiaridade. Um estudo pioneiro conduzido por pesquisadores da University of Melbourne e da Western Sydney University, publicado em outubro de 2025 na revista Appetite, investigou como e quando nosso cérebro processa essas informações. Utilizando técnicas avançadas de neurociência, a pesquisa revelou que a atividade cerebral reflete múltiplos aspectos dos alimentos em questão de milissegundos, muito antes de termos consciência de nossa escolha.

Metodologia: Observando o cérebro em ação

Para desvendar a velocidade do processamento cerebral, os pesquisadores empregaram a eletroencefalografia (EEG), uma tecnologia que capta a atividade elétrica do cérebro com precisão temporal de milissegundos. Participantes tiveram sua atividade cerebral monitorada enquanto visualizavam imagens de diversos alimentos, como lanches, frutas, carnes e doces. Posteriormente, avaliaram cada item em critérios como:

  • Saudabilidade.
  • Sabor.
  • Conteúdo calórico.
  • Familiaridade.
  • Vontade de consumir.

Combinando esses dados a algoritmos de aprendizado de máquina, a equipe comparou os padrões de atividade cerebral com as avaliações subjetivas. O objetivo era determinar se as diferenças nas respostas neurais correspondiam às variações nos julgamentos sobre os alimentos.

Descobertas principais: A velocidade surpreendente do cérebro

Os resultados demonstraram que o cérebro processa informações críticas sobre os alimentos em tempo recorde:

  • Processamento ultrarrápido: Atributos como saudabilidade, calorias e familiaridade foram refletidos na atividade cerebral apenas 200 milissegundos após a visualização do alimento. Isso ocorre antes mesmo de termos consciência plena do que vemos.
  • Ordem de processamento: Aspectos como sabor e desejo de consumo foram registrados um pouco mais tarde, contrariando estudos anteriores que sugeriam que o sabor era processado primeiro. A sensibilidade das técnicas de aprendizado de máquina pode explicar essa diferença.

Dimensões fundamentais: Os pesquisadores identificaram duas categorias centais que guiam nossas avaliações:

1. Processada: Refere-se ao grau de processamento do alimento (natural versus industrializado).
2. Apetitosa: Engloba sabor e familiaridade.

Ambas as dimensões foram detectadas na atividade cerebral em cerca de 200 ms.

Importâncias e relevâncias do estudo

  • Compreensão do comportamento alimentar: A pesquisa elucida como decisões alimentares são influenciadas por processos neurais automáticos, o que explica a tendência de escolher alimentos ultraprocessados e saborosos, mesmo quando conscientemente buscamos opções saudáveis.
  • Aplicações em saúde pública: As descobertas podem embasar estratégias para promover escolhas alimentares mais saudáveis, como a reformulação de embalagens ou a disposição de produtos em supermercados.
  • Avanços metodológicos: O uso combinado de Eeg e aprendizado de máquina oferece um modelo para futuras investigações sobre tomada de decisão, com potencial aplicação em marketing e nutrição.
  • Impacto em contextos reais: Os resultados são particularmente relevantes para situações que dependem de estímulos visuais, como compras online, cardápios ilustrados ou propagandas, onde a primeira impressão é crucial.

Limitações e perspectivas futuras

O estudo focou exclusivamente em estímulos visuais, mas outros sentidos (como olfato e audição) também desempenham papéis importantes nas decisões alimentares. Por exemplo, o aroma de uma fruta ou o som de um alimento crocante podem ativar respostas cerebrais igualmente rápidas. Os pesquisadores planejam investigar como o cérebro integra múltiplos sentidos na avaliação de alimentos reais, não apenas imagens. Além disso, a abordagem pode ser adaptada para testar intervenções comportamentais, como incentivar o foco consciente na saudabilidade para modificar padrões neurais.

Decidindo antes de perceber

Este estudo revela que nosso cérebro é uma máquina de avaliação alimentar de alta velocidade, capaz de processar diversos atributos em centenas de milissegundos. Esses processos automáticos moldam nossas escolhas antes mesmo que tenhamos tempo para refletir, destacando a complexidade behind comportamentos muitas vezes atribuídos simplesmente à "força de vontade". Compreender esses mecanismos abre portas para estratégias que possam nos auxiliar a fazer escolhas mais alinhadas com nossos objetivos de saúde, seja no supermercado ou no delivery. A neurociência, assim, ilumina os bastidores de nossas decisões cotidianas, mostrando que há muito mais entre o prato e a boca do que supúnhamos.

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