Brasil pode usar o "nióbio" contra os EUA? Domínio de 98% das reservas, armas hipersônicas e a guerra comercial com Trump

Com a iminente tarifa de 50% sobre produtos brasileiros imposta pelo governo de Donald Trump, que entra em vigor em 1º de agosto de 2025, o Brasil busca alternativas para negociar ou retaliar. Uma das possibilidades levantadas é o uso do nióbio, mineral no qual o país detém cerca de 90% das reservas mundiais, como moeda de troca. Mas será que essa estratégia é viável? Analisando dados geopolíticos, econômicos e industriais, este resumo explora a importância do nióbio, sua aplicação em setores estratégicos e os possíveis impactos de seu uso como ferramenta diplomática.
A importância do nióbio e seu domínio brasileiro
- O Brasil possui aproximadamente 98% das reservas mundiais de nióbio, sendo o maior produtor global. As principais minas estão em Araxá (MG) e Catalão (GO), controladas pela CBMM (maior produtora mundial) e pela CMOC Brasil (de capital chinês).
- O nióbio é essencial para indústrias de alta tecnologia, como aeroespacial, defesa e energia, além de ser amplamente utilizado na siderurgia.
- Sua relevância geopolítica aumentou nos últimos anos devido ao uso em armas hipersônicas e na corrida espacial.
Principais aplicações do nióbio
- Indústria siderúrgica (80% do consumo global): Adicionado ao aço, melhora resistência e reduz peso, sendo crucial para automóveis, construção civil e infraestrutura. Apenas 200 gramas por tonelada de aço dobram sua resistência.
- Setor aeroespacial e defesa: Usado em turbinas de aviões, foguetes (como os da missão Apollo 11) e mísseis hipersônicos, devido à sua resistência a temperaturas extremas (até 2.400°C).
- Tecnologia médica e energia: Presente em máquinas de ressonância magnética, aceleradores de partículas (como o Sirius, no Brasil) e baterias de veículos elétricos.
Dependência dos EUA e interesse estratégico
- Os Estados Unidos importam 66% do nióbio que consomem do Brasil, principalmente na forma de ferronióbio e óxido de nióbio.
- O Serviço Geológico dos EUA (USGS) classificou o nióbio como o segundo mineral mais crítico para o país, atrás apenas do tântalo, devido ao risco de interrupção no suprimento.
- A indústria de defesa americana é altamente dependente do nióbio para desenvolver armas hipersônicas, área em que a China já lidera em testes.
O nióbio como arma de negociação: prós e contras
Argumentos a favor:
- O Brasil tem poder de barganha devido ao quase monopólio do mineral.
- Restrições às exportações poderiam pressionar os EUA a rever a tarifa, principalmente se afetarem setores sensíveis, como defesa e aeroespacial.
Argumentos contra:
- Os EUA são apenas o quarto maior comprador do nióbio brasileiro (7% das exportações), atrás de China (44%), Holanda e Coreia do Sul.
- Uma retaliação poderia escalar o conflito, prejudicando importações brasileiras de maquinário pesado dos EUA, essencial para a mineração.
- Especialistas, como Hugo Sandim (USP) e Henry Ziemer (CSIS), alertam que ameaças diretas a Trump tendem a ser contraproducentes, sugerindo que uma abordagem negociadora seria mais eficaz.
Caminhos possíveis
O nióbio é, de fato, um recurso estratégico, mas seu uso como "arma" nas negociações com os EUA envolve riscos significativos. Em vez de ameaças, especialistas sugerem que o Brasil poderia:
1.
Propor acordos bilaterais que incluam nióbio, lítio e terras raras, seguindo o modelo recente entre China e EUA.
2.
Diversificar parcerias, fortalecendo laços com outros grandes compradores, como a União Europeia e países asiáticos.
3.
Investir em tecnologia nacional para agregar valor ao nióbio, reduzindo a dependência de exportações brutas.
O nióbio é uma peça valiosa no tabuleiro geopolítico, mas sua eficácia como moeda de troca depende de uma estratégia diplomática equilibrada, que evite escaladas e priorize o desenvolvimento industrial do Brasil.