Economia vs. Cultura: Taxa do streaming reduzida - O que muda para Netflix , YouTube e outros gigantes?
O Senado Federal se prepara para apresentar um novo parecer sobre a taxação de plataformas de streaming e grandes empresas de tecnologia (big techs), buscando um equilíbrio entre o fomento à produção audiovisual nacional e a minimização do impacto econômico sobre essas companhias.
O projeto de lei em questão aplica a Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional) sobre os serviços de vídeo sob demanda, um tema que mobiliza o setor cultural, mas que também é acompanhado de perto pela diplomacia internacional, especialmente pelos Estados Unidos.
Ponto central: A nova proposta de alíquotas
O senador Eduardo Gomes (PL-TO), relator do projeto, deve apresentar seu parecer na terça-feira (16). A proposta apurada pela CNN Brasil sugere uma combinação das ideias que circularam no Senado e na Câmara dos Deputados:
Plataformas de streaming (ex: Netflix, Amazon Prime, Disney Plus):
- Alíquota de 3% sobre a receita bruta.
- Inclusão de descontos e abatimentos para as empresas que investirem e fomentarem a produção de conteúdos nacionais.
Big Techs (ex: YouTube, Meta):
- Alíquota de 0,8% sobre a receita bruta.
Essa abordagem representa uma taxação nova para ambos os segmentos, mas utiliza as alíquotas de menor impacto propostas pela Câmara para as big techs e mantém o foco no streaming, suavizando a cobrança através dos abatimentos por investimento nacional.
Contexto e implicações políticas
A decisão do Senado ocorre em um momento de distensão nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos. O projeto é monitorado pela embaixada americana e já foi listado como ponto de preocupação em consultas comerciais.
- Impacto diplomático: A adoção de alíquotas mais baixas visa diminuir a repercussão negativa junto às empresas e, por consequência, junto ao governo americano, ajudando a preservar o diálogo em curso entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto.
- Insatisfação cultural: Embora alivie a tensão diplomática e empresarial, a medida pode descontentar o setor cultural e produtores audiovisuais, que defendem uma maior contribuição para o fomento da indústria nacional.
Posicionamento do governo Lula
Apesar das preocupações com o risco de "contaminação" diplomática, o Governo Federal fechou uma posição única e a apresentou ao relator:
- Defesa de alíquota única: O Governo defende a cobrança de uma alíquota única de 3% para todos os serviços.
- Cota de conteúdo: É a favor da manutenção de uma cota de 10% para conteúdos nacionais.
- Bloqueio de dedução: Manifesta-se contra a possibilidade de as empresas usarem deduções para reinvestimento na produção de "originais", sugerindo que o mecanismo de fomento deve ser mais direto.
O parecer do Senado, ao propor alíquotas diferenciadas e mais brandas para streaming (3% com descontos) e big techs (0,8%), busca um equilíbrio fiscal e diplomático. Embora garanta uma nova fonte de receita (Condecine) para o audiovisual nacional, prioriza a mitigação do impacto econômico sobre as gigantes globais e visa a descontaminação das relações comerciais com os EUA. Essa estratégia sinaliza a prevalência da estabilidade econômica e da atração de investimentos sobre a maximização imediata da arrecadação para o setor cultural.
