Lula vs Trump na ONU: A crise Brasil-EUA no primeiro encontro presidencial

A 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que já está em andamento em Nova York, se tornou o cenário de um dos eventos diplomáticos mais aguardados do ano: A possível, e tensa, aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. Desde que ambos retornaram ao poder, a relação entre Brasil e Estados Unidos tem sido marcada por atritos e acusações, transformando o encontro em um momento de puro simbolismo, mas de pouca expectativa de resultados concretos.
A escalada de uma crise diplomática
A relação entre os dois países vive seu momento mais delicado em décadas. A escalada de tensões começou com uma série de eventos que demonstram o abismo entre as duas administrações:
- A retórica de Trump: O presidente americano classificou as investigações judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro como uma "caça às bruxas", uma crítica direta às instituições brasileiras.
- A resposta de Washington: Em retaliação, os Estados Unidos impuseram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, uma medida protecionista que chocou o governo Lula.
- A reação do Brasil: O governo brasileiro, por sua vez, classificou a ação como uma "chantagem inaceitável" e ativou a Lei de Reciprocidade, sinalizando uma resposta à altura.
- O aprofundamento da crise: Com a condenação de Bolsonaro pela Justiça, Trump não apenas criticou o Judiciário brasileiro, como também impôs restrições de vistos para ministros do STF. A resposta de Lula veio em um artigo no The New York Times, onde defendeu a democracia brasileira no cenário internacional.
Diálogo, mas com limites
As declarações de ambos os lados mostram que, embora um diálogo informal seja possível, uma reunião formal e produtiva está longe de ser uma certeza.
- A posição de Lula: O presidente brasileiro se mostra aberto a um encontro casual, declarando não ter "problema pessoal" com Trump. No entanto, ele é firme quanto à soberania nacional, a qual considera uma linha que não pode ser ultrapassada. O embaixador Celso Amorim reforçou que uma reunião bilateral formal não está na agenda, a menos que Trump demonstre gestos de boa vontade.
- A postura de Trump: A administração americana, até o momento, não deu sinais de que buscará uma aproximação. Suas críticas às políticas internas do Brasil permanecem firmes e sem indicativos de uma abertura para negociação.
A visão cética dos especialistas
Analistas em relações internacionais estão em consenso: qualquer interação entre Lula e Trump na ONU será mais simbólica do que substancial.
- Posições inflexíveis: Paulo Velasco, da UERJ, destaca que as posições de ambos os países estão muito consolidadas. O Brasil foca em defender sua soberania e rejeitar interferências, enquanto Trump se mantém em sua postura de confronto.
- Precedentes de tensão: A experiência de Lula em eventos internacionais sugere que ele evitará situações desconfortáveis. O encontro tenso entre Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em 2025 serve como um lembrete do que pode acontecer.
- O ambiente da ONU: Matias Spektor, da FGV-SP, lembra que a Assembleia Geral não é o local para negociações complexas. Ele prevê que qualquer interação será breve, talvez apenas um cumprimento rápido, sem tempo para discussões substanciais.
Mais do que palavras: O impacto dos discursos
Mesmo sem um encontro formal, os discursos de ambos os presidentes serão o grande termômetro da relação bilateral. Eles refletirão a visão de cada líder para o futuro global.
- O discurso de Lula: O presidente brasileiro deve defender o multilateralismo, o comércio justo e a soberania, com críticas veladas às políticas unilaterais de Trump. Sua fala será um recado ao mundo sobre a defesa da democracia no Brasil.
- O discurso de Trump: O líder americano, por sua vez, focará em sua base eleitoral doméstica, abordando temas como nacionalismo econômico e criticando governos que ele considera de "esquerda". Seu objetivo não será a aproximação diplomática, mas a afirmação de suas políticas.
Símbolos, não soluções
- O encontro entre Lula e Trump na Assembleia Geral da ONU de 2025 é um evento de alto simbolismo, representando um claro choque entre visões de mundo. De um lado, a defesa da soberania judicial e do multilateralismo; de outro, o unilateralismo e a crítica a assuntos internos de outras nações. A expectativa de um aperto de mãos que resolva a crise é, para muitos, ingênua.
O verdadeiro significado do evento estará nos discursos e na linguagem corporal dos líderes. A Assembleia Geral não apagará as divergências, mas definirá o tom político para os próximos anos, sinalizando que a relação entre Brasil e Estados Unidos continuará sendo complexa e desafiadora.