Por que Trump se afasta? Bolsonaro preso e o fim do apoio americano: O que muda no cenário eleitoral
O apoio de Donald Trump a Jair Bolsonaro, marcado por ameaças de tarifas contra o Brasil, parece estar esfriando. Christopher Sabatini, pesquisador da Chatham House, avalia que o ex-presidente brasileiro se tornou um "risco" para os interesses de Trump, e que a direita do Brasil busca um nome mais moderado, com o Governador Tarcísio de Freitas emergindo como figura central.
A seguir, a análise de Christopher Sabatini sobre o cenário político atual e as perspectivas para a direita brasileira:
O pragmatismo de Trump e o distanciamento de Bolsonaro
Para o pesquisador, o ex-presidente americano é um estrategista de longo prazo, avesso a manter aliados que se tornam problemáticos.
- Risco pessoal e político: Sabatini afirma que alinhar a política externa dos EUA a um presidente que agiu de forma "repreensível" é uma "aposta arriscada" para Trump.
- Descarte de aliados: Trump sempre demonstrou não ter problemas em descartar aliados quando deixam de servir aos seus interesses, citando o caso de Rudy Giuliani.
- A prisão como fator de ruptura: A prisão de Bolsonaro e a tentativa de interferir em sua tornozeleira eletrônica são vistos como "atos muito estranhos" que levam Trump a concluir: "Talvez isso não sirva aos meus interesses políticos ou pessoais a longo prazo."
- Recuo agressivo: Há indícios de que o governo Trump estaria "discretamente tentando recuar" de sua política agressiva e punitiva em apoio a Bolsonaro, especialmente após ouvir líderes empresariais brasileiros.
O efeito da prisão: Ponto de inflexão para o bolsonarismo
A ação do sistema judiciário contra Bolsonaro sinaliza o fim da impunidade, o que Sabatini considera um desenvolvimento positivo para a democracia.
- Reforço institucional: O sistema judiciário agiu de forma independente e reagiu com o ex-presidente da mesma forma que faria com qualquer criminoso condenado, reforçando a ideia de que não há impunidade, mesmo para os mais poderosos.
- Reação contida dos apoiadores: A reação dos brasileiros à prisão, mesmo entre os apoiadores, não foi tão forte quanto se poderia imaginar, indicando um possível cansaço.
- Imagem desfavorável: O espetáculo de um ex-presidente na prisão, que tentou derreter sua tornozeleira e admitiu ter alucinações, torna difícil para o eleitorado indeciso e líderes empresariais continuarem a apoiar o movimento.
- Busca por legitimidade: O movimento bolsonarista enfrenta um ponto de inflexão: ou amadurece e se torna um partido democrático, ou continuará atrelado a uma família "desastrada e pouco profissional."
A ascensão do moderado: Tarcísio de Freitas
A direita brasileira, que ainda representa um setor significativo do eleitorado, estaria buscando um candidato mais viável e menos "tóxico".
- Principal candidato da direita: Sabatini aponta o Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o principal nome a emergir neste momento de crise.
- Perfil pragmático: Tarcísio é visto como moderado, pró-negócios e com um passado mais "maleável", tendo servido em diferentes governos. É considerado "muito menos errático, muito menos populista e, francamente, muito menos criminoso" que Bolsonaro.
- Nova relação com Trump: Um candidato mais pragmático e menos personalista poderia atrair novamente o apoio de Trump, representando a visão política e econômica da direita, mas sem a "toxidade" do bolsonarismo.
- Distanciamento da família: Para se consolidar, o movimento de direita deve se distanciar de um projeto familiar e personalista, buscando uma liderança mais responsável.
O preço do indulto: A sobrevivência de Bolsonaro
Apesar da resistência da família Bolsonaro em apoiar Tarcísio, o ex-presidente pode ter que fazer uma escolha pragmática.
1. Elegibilidade vs. Sobrevivência: Tarcísio pode obter o apoio de Bolsonaro demonstrando que é muito mais elegível que qualquer membro da família, e oferecendo uma promessa estratégica.
2. Proposta de indulto: O caminho mais provável para obter o apoio de Bolsonaro e de seu partido seria a promessa de um indulto.
3. Decisão sábia: Jair Bolsonaro, pensando em sua própria sobrevivência, poderia escolher "sair da prisão de graça" em vez de insistir em um projeto familiar fadado a prejudicar as chances do partido.
A prisão de Jair Bolsonaro não é apenas um revés judicial, mas o catalisador de um ponto de inflexão pragmático para a direita brasileira e a política externa de Donald Trump. O ex-presidente, agora visto como um "risco" político pelo pragmático Trump, força o movimento bolsonarista a buscar uma liderança mais moderada e viável, como Tarcísio de Freitas, para reconquistar legitimidade democrática e o apoio empresarial, sinalizando que a sobrevivência do partido pode depender da escolha entre a lealdade familiar ou a busca por um candidato que possa oferecer, em última análise, o indulto necessário.
