Animais de estimação fortalecem a imunidade? Ciência explica como pets podem reduzir alergias e doenças

Desde o século 18, os Amish chamam a atenção por seu estilo de vida tradicional, mas, recentemente, tornaram-se foco de estudos médicos. A razão? Suas crianças raramente desenvolvem alergias, asma ou eczema, condições que se tornaram comuns no mundo moderno. Pesquisas revelam que o segredo pode estar na convivência próxima com animais — uma descoberta que transforma nosso entendimento sobre imunidade e microbioma.
O mistério das comunidades Amish e Huteritas
Em 2012, cientistas compararam crianças Amish (Indiana, EUA) com as Huteritas (Dakota do Sul). Ambos os grupos vivem em fazendas, têm dieta similar e baixa exposição à poluição, mas as crianças Huteritas têm taxas 4 a 6 vezes maiores de alergias. A diferença crucial: os Amish vivem diretamente com animais, enquanto os Huteritas usam tecnologia agrícola e mantêm distância do gado.
- Exposição microbiana precoce: O contato com animais desde a infância expõe as crianças a micróbios que "treinam" o sistema imunológico.
- Células T reguladoras: Crianças Amish apresentam mais dessas células, que controlam respostas imunológicas excessivas (como alergias).
O "efeito minifazenda" e a ciência por trás dele
Estudos globais confirmam que crescer perto de animais reduz riscos de alergias:
- Fazendas alpinas: Crianças que dormem perto de vacas têm menos asma e eczema.
- Número de pets: Cada animal de estimação na infância diminui em 13–14% o risco de alergias. Crianças em fazendas têm 50% menos chance de desenvolver asma.
Mecanismo proposto:
- Micróbios transitórios: Animais carregam bactérias que, embora não colonizem permanentemente humanos, estimulam o sistema imunológico a responder de forma equilibrada.
- Evolução humana: Nossos ancestrais viviam próximos a animais, e nosso sistema imunológico evoluiu para reconhecer seus micróbios como aliados.
Animais de estimação e microbioma: Mitos e verdades
Há debates sobre se os micróbios dos pets se integram ao nosso microbioma:
- Ceticismo: Jack Gilbert (Universidade da Califórnia) afirma que bactérias de cães não permanecem em humanos, mas seu contato frequente "exercita" a imunidade.
- Novas pesquisas: Nasia Safdar (Universidade de Wisconsin) investiga se há transferência de bactérias benéficas entre pets e donos, especialmente no intestino.
Dados curiosos:
- Microbiomas similares: Pessoas que vivem com pets tendem a ter microbiomas intestinais mais parecidos entre si, sugerindo que os animais ajudam a "compartilhar" micróbios humanos.
Lições de populações ancestrais
Estudos com os Irish Travellers (comunidade nômade da Irlanda) revelaram:
- Microbioma "antigo": Seu intestino abriga bactérias similares às de tribos caçadoras-coletores, com baixíssima incidência de doenças autoimunes.
- Contraste moderno: Urbanização e higiene excessiva reduziram nossa diversidade microbiana, aumentando alergias e doenças inflamatórias.
Benefícios ao longo da vida
Ter pets não só protege na infância, mas também na velhice:
- Idosos com cães: Pesquisas da Universidade do Arizona mostram que adotar cães melhora saúde física e mental, possivelmente por reforçar a imunidade.
- Interação contínua: Passear com pets expõe as pessoas a micróbios do ambiente, enriquecendo ainda mais o microbioma.
Um convite à convivência saudável
A ciência comprova que animais de estimação são mais que companheiros — são parceiros na construção de um sistema imunológico resiliente. Desde os Amish até os pets urbanos, a exposição a micróbios diversos (especialmente na infância) parece ser a chave para reduzir alergias e doenças autoimunes. Enquanto pesquisas avançam, uma coisa é clara: reconectar-se à natureza e aos animais pode ser um passo essencial para a saúde humana.