Conteúdo verificado
quarta-feira, 4 de junho de 2025 às 12:22 GMT+0

Machismo e violência/abuso sexual: Como o patriarcado silencia vítimas masculinas

A violência sexual contra meninos e homens é um tema pouco discutido no Brasil, mas seus impactos são profundos e duradouros. Relatos como os de André, abusado por uma prima aos 7 anos, revelam como o silêncio e a dificuldade em reconhecer a violência perpetuam o sofrimento. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023) mostram que 11,8% das vítimas de estupro no país são do sexo masculino — cerca de 27 casos por dia. No entanto, especialistas alertam que a subnotificação é alta devido a estereótipos de gênero, medo e vergonha.

A realidade da violência sexual contra homens

  • Perfil das vítimas: A maioria tem entre 3 e 13 anos, e 65,1% dos abusos ocorrem em casa, praticados por familiares (63,3%) ou conhecidos (22,2%).
  • Dificuldades de identificação: Muitas crianças não compreendem a violência, e adultos frequentemente minimizam a experiência, como no caso de Jorge, assediado por um colega aos 12 anos.
  • Contextos de risco: Ambientes como esportes (ex.: relato de Silas, ex-jogador assediado por um treinador) e transporte público (ex.: importunação sexual em ônibus) são comuns.

Por que os homens não denunciam?

  • Estigmas sociais: Homens são ensinados a associar virilidade à invulnerabilidade. Vítimas como André relatam sentir que "não poderiam" ser afetadas, especialmente quando o agressor é uma mulher.
  • Respostas fisiológicas: Ereções durante o abuso geram confusão, fazendo a vítima acreditar que "consentiu".
  • Falta de redes de apoio: Homens têm menos espaços para compartilhar experiências traumáticas. O psicólogo Denis Gonçalves Ferreira, do projeto Memórias Masculinas, destaca que muitos só buscam ajuda anos depois.

Impactos psicológicos e sociais

  • Consequências: Depressão, isolamento, uso de drogas e tendências suicidas são frequentes, segundo estudos citados na Revista de Saúde Pública (2025).
  • Cultura e mídia: Séries como Bebê Rena (Netflix, 2024) e relatos de celebridades (ex.: Marcelo Adnet) ajudam a romper o tabu, mas ainda há resistência em enxergar homens como vítimas.

Avanços e desafios

  • Lei Geral do Esporte (2024): Exige protocolos contra abusos em clubes e escolinhas, mas sua eficácia depende da fiscalização.
  • Papel da saúde pública: Dados do Sinan (2022) mostram 6.355 notificações de violência sexual contra homens — aumento de 24,9% desde 2018. Porém, registros policiais caíram 30,8% no mesmo período, evidenciando a subnotificação.

Onde denunciar abuso sexual infantil

Se você suspeita ou tem conhecimento de abuso sexual contra crianças e adolescentes, DENUNCIE. O silêncio protege o agressor, não a vítima. Aqui estão os principais canais de denúncia no Brasil:

Canais oficiais de Denúncia

Disque 100 (Direitos Humanos)

  • Funcionamento 24h, gratuito e anônimo.
  • Recebe denúncias de violência contra crianças e adolescentes.

Conselho Tutelar

  • Órgão local responsável por proteger menores.
  • Busque o contato do Conselho da sua cidade.

Delegacias Especializadas (DEAMs / DEPCA)

  • Delegacias da Mulher ou da Criança e Adolescente registram boletins de ocorrência.

Ligue 190 (Polícia Militar)

  • Caso a criança esteja em perigo imediato.

Aplicativo “Proteja Brasil”

  • Permite denúncias geolocalizadas via celular.

Ministério Público (MP)

  • Pode acionar medidas judiciais contra abusadores.

Importância da denúncia

  • Não exija provas: Basta a suspeita para notificar as autoridades.
  • Proteja a vítima: Evite confrontar o agressor diretamente.
  • Quebre o ciclo: Muitos abusadores repetem crimes por anos.

Se você é uma vítima adulta relembrando abusos na infância, busque apoio psicológico (como o CVV – 188) e considere registrar um BO, mesmo anos depois.

Nenhuma criança merece sofrer calada. Denuncie e salve uma vida.

"O machismo e o patriarcado não só oprimem mulheres — também aprisionam homens em silêncio. Ensinados a nunca chorar, a nunca demonstrar fraqueza, muitos carregam sozinhos o peso de abusos que não ousam denunciar, porque lhes disseram que 'homem de verdade' não é vítima. Mas a verdadeira força não está em calar a dor, e sim em quebrar o tabu. Homens também sentem, sofrem e merecem ser ouvidos. Romper esse ciclo não é fraqueza: é coragem."

A violência sexual contra homens é uma realidade invisibilizada por estereótipos de gênero e falhas no acolhimento. Romper esse ciclo exige:

  • Educação: Ensinar meninos a identificar abusos e buscar ajuda.
  • Políticas públicas: Fortalecer canais de denúncia e atendimento especializado.
  • Empatia: Criar espaços onde homens possam falar sem julgamentos, como destacou o psicanalista Christian Dunker (USP).

Assim como André e Jorge, milhares de homens carregam histórias silenciadas. Dar voz a elas é o primeiro passo para transformar uma cultura que, ao negar a dor masculina, reforça ciclos de violência. A mudança começa quando reconhecemos: vulnerabilidade não é fraqueza, e sim humanidade.

Estão lendo agora

Como emitir seu CPF Online de forma rápida e grátis: Passo a passo completoO CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) é um dos documentos mais importantes para os brasileiros, sendo exigido em diversas ...
Código Morse: História, funcionamento e por que ele ainda fascina o mundo digitalO Código Morse é um dos sistemas de comunicação mais revolucionários da história, desenvolvido no século XIX para transm...
Síndrome do PC Gamer: Como evitar o ciclo da acumulação e redescobrir a diversão nos jogosNa era dos videogames, o entretenimento evoluiu dos consoles para os computadores, tornando-se acessível para muitos. Co...
Judy Warren: A história por trás dos filmes da franquia "Invocação do Mal"A franquia "Invocação do Mal", que conquistou o público com histórias de terror baseadas em eventos reais, tem como um d...
Resident Evil: Death Island - Aterrorize-se na Ilha dos mortos agora disponível onlinePrepare-se para uma experiência eletrizante com o lançamento de Resident Evil: Death Island, um filme de animação em com...
20 melhores séries de terror em 2023 : Entenda o gênero 'terror'O universo das séries de terror é vasto e diversificado, ocupando um espaço significativo em todas as principais platafo...
Por que a Igreja Católica está perdendo fiéis no Brasil? Desafios após o Papa Francisco - Evangélicos, falta de padres e políticaA Igreja Católica, que já foi hegemônica no Brasil, enfrenta hoje uma série de desafios que ameaçam sua influência e rel...
Naná Silva: Quem é a brasileira de 15 anos com o saque mais rápido do SP Open a 195 km/h?O tênis brasileiro tem uma nova heroína: Nauhany Vitória Leme da Silva, a Naná. Com apenas 15 anos, ela não é apenas uma...
A Hora do Mal (2025): Crítica sem spoilers com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes - Por que este terror está chocando o público?"A Hora do Mal", o novo filme de terror e mistério da Warner Bros. Pictures, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-...
Bella Ciao e Charlie Kirk: A história do hino antifascista encontrado na cena do crimeA música "Bella Ciao" ganhou os noticiários internacionais em setembro de 2025 após ser encontrada, na forma de sua letr...
Fed corta juros: Dólar em queda livre - Mercado comemora, e Ibovespa bate recorde histórico - O que isso significa para o seu bolso?O cenário econômico global vive um momento de significativa transição, com reflexos diretos para o Brasil. A moeda norte...
Rivotril: Os segredos e riscos do uso prolongado de um remédio 'para emergência'Há décadas, os benzodiazepínicos, uma classe de medicamentos que inclui nomes famosos como clonazepam, diazepam e loraze...