Machismo e violência/abuso sexual: Como o patriarcado silencia vítimas masculinas

A violência sexual contra meninos e homens é um tema pouco discutido no Brasil, mas seus impactos são profundos e duradouros. Relatos como os de André, abusado por uma prima aos 7 anos, revelam como o silêncio e a dificuldade em reconhecer a violência perpetuam o sofrimento. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023) mostram que 11,8% das vítimas de estupro no país são do sexo masculino — cerca de 27 casos por dia. No entanto, especialistas alertam que a subnotificação é alta devido a estereótipos de gênero, medo e vergonha.
A realidade da violência sexual contra homens
- Perfil das vítimas: A maioria tem entre 3 e 13 anos, e 65,1% dos abusos ocorrem em casa, praticados por familiares (63,3%) ou conhecidos (22,2%).
- Dificuldades de identificação: Muitas crianças não compreendem a violência, e adultos frequentemente minimizam a experiência, como no caso de Jorge, assediado por um colega aos 12 anos.
- Contextos de risco: Ambientes como esportes (ex.: relato de Silas, ex-jogador assediado por um treinador) e transporte público (ex.: importunação sexual em ônibus) são comuns.
Por que os homens não denunciam?
- Estigmas sociais: Homens são ensinados a associar virilidade à invulnerabilidade. Vítimas como André relatam sentir que "não poderiam" ser afetadas, especialmente quando o agressor é uma mulher.
- Respostas fisiológicas: Ereções durante o abuso geram confusão, fazendo a vítima acreditar que "consentiu".
- Falta de redes de apoio: Homens têm menos espaços para compartilhar experiências traumáticas. O psicólogo Denis Gonçalves Ferreira, do projeto Memórias Masculinas, destaca que muitos só buscam ajuda anos depois.
Impactos psicológicos e sociais
- Consequências: Depressão, isolamento, uso de drogas e tendências suicidas são frequentes, segundo estudos citados na Revista de Saúde Pública (2025).
- Cultura e mídia: Séries como Bebê Rena (Netflix, 2024) e relatos de celebridades (ex.: Marcelo Adnet) ajudam a romper o tabu, mas ainda há resistência em enxergar homens como vítimas.
Avanços e desafios
- Lei Geral do Esporte (2024): Exige protocolos contra abusos em clubes e escolinhas, mas sua eficácia depende da fiscalização.
- Papel da saúde pública: Dados do Sinan (2022) mostram 6.355 notificações de violência sexual contra homens — aumento de 24,9% desde 2018. Porém, registros policiais caíram 30,8% no mesmo período, evidenciando a subnotificação.
Onde denunciar abuso sexual infantil
Se você suspeita ou tem conhecimento de abuso sexual contra crianças e adolescentes, DENUNCIE. O silêncio protege o agressor, não a vítima. Aqui estão os principais canais de denúncia no Brasil:
Canais oficiais de Denúncia
Disque 100 (Direitos Humanos)
- Funcionamento 24h, gratuito e anônimo.
- Recebe denúncias de violência contra crianças e adolescentes.
Conselho Tutelar
- Órgão local responsável por proteger menores.
- Busque o contato do Conselho da sua cidade.
Delegacias Especializadas (DEAMs / DEPCA)
- Delegacias da Mulher ou da Criança e Adolescente registram boletins de ocorrência.
Ligue 190 (Polícia Militar)
- Caso a criança esteja em perigo imediato.
Aplicativo “Proteja Brasil”
- Permite denúncias geolocalizadas via celular.
Ministério Público (MP)
- Pode acionar medidas judiciais contra abusadores.
Importância da denúncia
- Não exija provas: Basta a suspeita para notificar as autoridades.
- Proteja a vítima: Evite confrontar o agressor diretamente.
- Quebre o ciclo: Muitos abusadores repetem crimes por anos.
Se você é uma vítima adulta relembrando abusos na infância, busque apoio psicológico (como o CVV – 188) e considere registrar um BO, mesmo anos depois.
Nenhuma criança merece sofrer calada. Denuncie e salve uma vida.
"O machismo e o patriarcado não só oprimem mulheres — também aprisionam homens em silêncio. Ensinados a nunca chorar, a nunca demonstrar fraqueza, muitos carregam sozinhos o peso de abusos que não ousam denunciar, porque lhes disseram que 'homem de verdade' não é vítima. Mas a verdadeira força não está em calar a dor, e sim em quebrar o tabu. Homens também sentem, sofrem e merecem ser ouvidos. Romper esse ciclo não é fraqueza: é coragem."
A violência sexual contra homens é uma realidade invisibilizada por estereótipos de gênero e falhas no acolhimento. Romper esse ciclo exige:
- Educação: Ensinar meninos a identificar abusos e buscar ajuda.
- Políticas públicas: Fortalecer canais de denúncia e atendimento especializado.
- Empatia: Criar espaços onde homens possam falar sem julgamentos, como destacou o psicanalista Christian Dunker (USP).
Assim como André e Jorge, milhares de homens carregam histórias silenciadas. Dar voz a elas é o primeiro passo para transformar uma cultura que, ao negar a dor masculina, reforça ciclos de violência. A mudança começa quando reconhecemos: vulnerabilidade não é fraqueza, e sim humanidade.