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quinta-feira, 25 de setembro de 2025 às 11:37 GMT+0

Tylenol, autismo e a desinformação: A verdade por trás de uma alegação perigosa

Em setembro de 2025, uma declaração polêmica reacendeu uma discussão perigosa: a falsa alegação de que o Tylenol (acetaminofeno/paracetamol) usado na gravidez causa autismo. Propagada por figuras públicas de alto escalão, essa narrativa alarmante ignora o consenso científico, as evidências médicas e até mesmo decisões judiciais, trazendo sérios riscos para a saúde pública e a inclusão social.

O que a ciência realmente diz?

A afirmação de que Tylenol causa autismo se baseia em um mal-entendido fundamental: a diferença entre correlação e causalidade. O fato de dois eventos ocorrerem ao mesmo tempo não significa que um cause o outro. A ciência sólida oferece uma visão muito diferente.

  • Estudo de grande escala: Uma pesquisa abrangente de 2024, publicada no prestigiado periódico JAMA, analisou 2,48 milhões de crianças na Suécia. O estudo encontrou apenas uma diferença de risco de 0,09% entre crianças expostas e não expostas ao medicamento na gravidez. Quando os pesquisadores fizeram ajustes mais precisos, como comparar irmãos, essa associação mínima e insignificante praticamente desapareceu.
  • Consenso médico: As principais sociedades de ginecologia e medicina fetal, como a Society for Maternal-Fetal Medicine e o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), reafirmam que o acetaminofeno continua sendo uma das poucas opções seguras para tratar dor e febre durante a gestação. Elas alertam que a febre alta não tratada, sim, representa um risco comprovado para o feto.
  • Decisão judicial: Em 2023 e 2024, tribunais federais nos EUA rejeitaram processos contra fabricantes de Tylenol que tentavam ligar o medicamento ao autismo. A decisão foi baseada na avaliação de que os argumentos apresentados eram cientificamente inválidos e não tinham metodologia sólida.

Por que a narrativa de um "culpado" persiste?

A alegação ganha força ao se apoiar em estudos científicos de baixa qualidade, que são superestimados e usados para justificar uma narrativa pré-concebida.

  • Vieses de memória: Muitas das pesquisas que sugerem a ligação se baseiam em questionários nos quais os pais precisam lembrar o uso de medicamentos anos depois. A memória é falível, e esse método é altamente propenso a imprecisões.
  • Correlações espúrias: Alguns trabalhos usam dados não verificados para sugerir uma ligação. Esse tipo de análise é fraco e pode criar correlações espúrias, ou seja, coincidências sem relação de causa e efeito. Um exemplo famoso é a correlação entre o aumento nas vendas de sorvete e o aumento de afogamentos. Um não causa o outro; ambos são causados pelo calor do verão.

As consequências danosas da desinformação

A divulgação irresponsável de uma informação falsa por figuras de alto escalão tem impactos reais e profundamente negativos.

  • Risco à saúde: Grávidas que precisam tratar febre ou dor podem entrar em pânico e evitar o medicamento, buscando alternativas menos seguras ou deixando de tratar condições que representam um risco real para a saúde da mãe e do bebê.
  • Estigma e culpa: A narrativa simplista de um "culpado" fortalece estereótipos negativos e pode levar à culpa materna. Ao invés de promover a inclusão, essa história cria divisões e estigmatiza a pessoa autista.
  • Visão eugênica: A visão de que o autismo é uma "tragédia a ser evitada a qualquer custo" promove uma lógica eugênica que desumaniza as pessoas autistas. A busca por um "culpado" distorce o foco do que realmente importa: a inclusão e o apoio a indivíduos neurodiversos.
    A fala de Kennedy Jr., que descreveu autistas como pessoas que "nunca pagarão impostos ou terão um emprego", é um exemplo claro dessa desumanização, reduzindo indivíduos a um "peso social" a ser eliminado.

A verdade sobre o autismo

É crucial corrigir a premissa fundamentalmente errada por trás dessa polêmica e entender o que o autismo realmente é.

  • Neurodiversidade, não doença: O autismo é uma condição neurológica inata, parte da diversidade humana. Não é uma doença que precise de "cura". A busca por uma "cura" é prejudicial e visa apagar a identidade autista.
  • Aumento de diagnósticos: O aumento no número de diagnósticos se deve principalmente à ampliação dos critérios diagnósticos (agrupando várias condições em um "espectro") e ao maior acesso ao diagnóstico para grupos que antes eram subdiagnosticados, como mulheres e pessoas negras. Isso representa um avanço para a sociedade, não uma "epidemia".

Priorizando a ciência e a inclusão

  • A alegação de que o Tylenol causa autismo é falsa e perigosa. Ela ignora o consenso científico e as decisões judiciais, sendo propagada para fins políticos. A comunidade médica é unânime: não há prova de causalidade.

Ao invés de caçar bodes expiatórios, a sociedade deve focar em políticas públicas que garantam direitos, acessibilidade, educação inclusiva e apoio às pessoas autistas e suas famílias. Em um mundo onde a desinformação se espalha rapidamente, a prioridade deve ser sempre a ciência sólida, a saúde pública e o respeito à neurodiversidade.

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