"Vomitava 40 vezes por dia": Hiperêmese gravídica - A doença silenciosa que atinge 3% das grávidas
A hiperêmese gravídica (HG) é uma condição caracterizada por náuseas e vômitos excessivos e intensos durante a gravidez, indo muito além do enjoo matinal comum.
Estima-se que a HG afete entre 1% e 3% das gestações, uma taxa que, embora pequena, representa um sofrimento significativo para as mulheres que a enfrentam.
O que define a hiperêmese gravídica (HG)?
Diferente do enjoo matinal (que atinge cerca de 80% das gestantes), a HG é uma condição grave que frequentemente exige tratamento hospitalar.
Sintomas intensos e constantes:
- Náuseas e vômitos persistentes e severos, que ocorrem várias vezes ao dia.
- Incapacidade de reter alimentos ou líquidos no estômago.
- Comprometimento da rotina diária e esgotamento físico.
Consequências para a saúde:
- Desidratação grave.
- Perda significativa de peso.
Fator de risco:
- Quem já teve HG em uma gestação anterior tem alta chance de apresentar o quadro novamente.
Experiências reais: O isolamento e a luta
- O desafio da sobrevivência: Mulheres relatam dificuldade em manter até água no estômago, recorrendo a sucos gelados e picolés para evitar a desidratação. O foco se torna a sobrevivência e não a dieta ideal para o bebê.
- O sentimento de culpa: Há uma luta interna para não parecer ingrata pela gravidez desejada, enquanto se enfrenta um sofrimento físico excruciante.
Vômitos extremos e perda de peso:
- Sarah Goddard: Chegou a vomitar 15 a 20 vezes por dia. A gravidade dos sintomas levou à decisão dolorosa de interromper a gestação.
- Millie Fitzsimons: Vomitava até 40 vezes por dia, perdeu cerca de 19 kg e foi internada aproximadamente 16 vezes.
- Náusea incessante: Ella Marcham descreve a náusea como "um nível de enjoo capaz de arruinar a vida", presente 24 horas por dia, 7 dias por semana, dificultando o cuidado com os filhos e a vida normal.
Tratamento e o dilema do acesso a medicamentos
O tratamento da HG envolve o uso de medicamentos (antieméticos) e, muitas vezes, hidratação intravenosa. No Reino Unido, a entidade Pregnancy Sickness Support (PSS) classifica os remédios em linhas de tratamento.
O caso do xonvea (Primeira Linha Recomendada pela PSS):
- Composto por succinato de doxilamina e cloridrato de piridoxina, é o único medicamento contra enjoo licenciado para uso na gravidez no Reino Unido desde 2018.
- Barreira de acesso: Apesar de sua licença e recomendação, muitas mulheres relataram que o medicamento lhes foi negado por profissionais de saúde, sendo muitas vezes classificado como uma "loteria de CEP" devido a questões de custo e cautela médica local.
Outras opções de tratamento:
- Primeira linha: Ciclicina, prometazina e proclorperazina.
- Segunda linha: Metoclopramida, ondansetrona e domperidona.
- Terceira linha: Esteroides (usados quando outras opções falham).
- Hidratação intravenosa: Essencial para corrigir a desidratação e administrar medicamentos quando a via oral é impossível.
Cautela médica vs. Necessidade da paciente:
- Clínicos-gerais, como Dean Eggitt, indicam que, embora o xonvea seja licenciado como seguro, a cautela médica ao introduzir medicamentos novos em gestantes e fetos, juntamente com avaliações de custo-benefício, frequentemente restringe o acesso, priorizando medicamentos mais antigos e estabelecidos (como a ciclizina).
A luta contra a hiperêmese gravídica é um lembrete da necessidade de mais apoio, reconhecimento e acesso equitativo a tratamentos eficazes para que nenhuma mulher precise enfrentar essa condição devastadora sozinha.
