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segunda-feira, 21 de outubro de 2024 às 12:16 GMT+0

A crise ambiental em Fernando de Noronha: O impacto do "Turismo de Instagram"

Recentemente, Fernando de Noronha, um dos destinos mais paradisíacos do Brasil, tem enfrentado um aumento alarmante nas multas ambientais, resultado em grande parte do chamado "turismo de Instagram". Este fenômeno se intensificou com a popularidade de influenciadores digitais que atraem uma nova onda de turistas à ilha, gerando preocupações sobre a conservação do ecossistema local.

O caso de Leonardo Picon

Um exemplo notável desse fenômeno foi a visita do influenciador digital Leonardo Picon, conhecido como Léo Picon, em janeiro deste ano. Durante sua estadia, ele foi autuado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) por alimentar uma fragata, uma ave marinha protegida. Essa infração resultou em uma multa de R$ 1.000, que, segundo o relatório, foi reforçada por prints de sua conta no Instagram, ressaltando sua influência nas redes sociais. A multa não apenas sublinha a necessidade de fiscalização rigorosa, mas também a importância da educação ambiental, especialmente entre turistas.

O aAumento das multas ambientais

  • Nos últimos dois anos, o número de multas aplicadas em Fernando de Noronha cresceu significativamente. Em 2024, até agosto, o ICMBio registrou mais de R$ 6,5 milhões em multas distribuídas em 18 autos de infração, estabelecendo um recorde desde 2016. Este aumento é atribuído ao crescimento do turismo, que se transformou com a presença massiva de influenciadores. O ICMBio, que já enfrenta dificuldades para controlar o fluxo de visitantes, admite que as novas dinâmicas do turismo têm complicações para a conservação ambiental na ilha.

Desafios da conservação em Noronha

  • Fernando de Noronha é um Patrimônio Natural da Humanidade reconhecido pela UNESCO desde 2001, o que implica uma preocupação internacional com sua conservação. O governo controla o acesso aos atrativos naturais, exigindo agendamento e cobrando uma Taxa de Preservação Ambiental (TPA), que varia de acordo com a duração da visita. O custo dessa taxa pode chegar a R$ 97,16 por dia.

  • Entretanto, com o aumento do número de turistas — em média, cerca de 10 mil visitantes por mês, com picos superiores a 12 mil em certos períodos — as autoridades locais têm dificuldades para manter o controle. Este número excede o limite estabelecido por um acordo entre o governo federal e o estado de Pernambuco, que define um teto de 11 mil visitantes mensais.

Pressão das pousadas e construções irregulares

  • Outro aspecto que agrava a situação são as pressões das pousadas e restaurantes locais para aumentar suas capacidades. Muitas vezes, essas empresas tentam expandir suas instalações de maneira irregular, resultando em infrações significativas. A Atlantico Sul Empreendimentos, por exemplo, responsável pela Pousada Morena, foi multada em mais de R$ 6 milhões neste ano devido a ampliações não autorizadas em áreas protegidas.

  • A busca por lucrar com o turismo de alto padrão tem levado a uma série de construções irregulares, o que, por sua vez, compromete a integridade ambiental da ilha. Os órgãos responsáveis relatam que, frequentemente, as empresas tentam driblar a fiscalização, realizando obras em horários alternativos ou de forma "escondida".

A visão dos moradores e o futuro da ilha

  • Os moradores de Fernando de Noronha expressam preocupação com a transformação do turismo, que antes era predominantemente ecoturismo, em um modelo voltado para a experiência visual e superficial, promovido nas redes sociais. Esse novo perfil de turista busca as mesmas fotos e locais icônicos, como o "Buraco do Galego", agora popularmente conhecido como a "piscina do Neymar", após uma visita de celebridades.

  • Lilian Hangae, chefe do ICMBio em Noronha, enfatiza que a conservação da biodiversidade da ilha é um desafio que envolve não apenas a administração pública, mas também a colaboração dos próprios visitantes e moradores. A conscientização sobre a importância de respeitar as regras ambientais e preservar a beleza natural da ilha é essencial para garantir um futuro sustentável.

A crescente popularidade de Fernando de Noronha entre influenciadores e turistas levanta questões cruciais sobre a preservação ambiental em um destino que é, ao mesmo tempo, um paraíso natural e um local de intensa atividade turística. O aumento das multas ambientais é um sinal de alerta sobre a necessidade de uma gestão mais eficaz do turismo e da educação ambiental. Para que Fernando de Noronha continue a ser um símbolo de beleza natural e biodiversidade, todos — desde os influenciadores até os turistas e as autoridades — precisam assumir a responsabilidade pela conservação desse tesouro brasileiro.

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