Neonazismo na Rússia: Por que jovens estão se juntando a grupos extremistas? Como redes sociais e falta do Estado alimentam o ódio

Nos últimos anos, a Rússia tem enfrentado um preocupante aumento na adesão de jovens a grupos neonazistas, marcado por ataques violentos e discursos de ódio. Apesar do governo russo justificar sua invasão à Ucrânia como uma "luta contra o nazismo"
, o extremismo de direita cresce dentro do próprio país, especialmente entre adolescentes. Este fenômeno, impulsionado por redes sociais e uma retórica estatal xenofóbica, remonta às violentas décadas de 1990 e 2000, mas com novas dinâmicas digitais.
O cenário atual: Violência em ascensão
- Segundo o Sova Centre (organização que monitora crimes de ódio), os ataques de extrema-direita na Rússia mais que dobraram em 2023 em comparação com 2022.
- Muitos dos envolvidos têm menos de 16 anos, e os métodos lembram gangues neonazistas dos anos 2000, como agressões a minorias, sem-teto e opositores políticos.
- Exemplo emblemático: Em Kostroma, um grupo chamado Made With Hate atacou Yaroslav (17 anos) com uma pistola de sinalização, causando-lhe a perda de um olho. O crime foi filmado e divulgado no Telegram.
As raízes do problema
- Influência histórica: Nos anos 1990, após o colapso da URSS, a violência neonazista era alimentada por literatura clandestina. Hoje, plataformas como Telegram e TikTok disseminam ideologias extremistas entre jovens.
- Falta de ação estatal: As autoridades russas minimizam a existência desses grupos, focando na narrativa de que o "nazismo" só existe na Ucrânia.
- Retórica governamental: A xenofobia promovida pela mídia estatal e o clima militarista pós-invasão da Ucrânia incentivam ataques contra migrantes e minorias.
O perfil dos jovens recrutas
- Busca por identidade: Muitos adolescentes, como Anton (ex-membro do Made With Hate), entram nos grupos por desejo de pertencimento ou para parecerem "durões".
- Falta de ideologia consolidada: Diferente dos extremistas dos anos 2000, os atuais agressores são menos ideológicos e mais motivados por "hype" e violência performática.
- Influência digital: Canais neonazistas no Telegram conectam jovens de várias regiões, incluindo países vizinhos, criando redes transnacionais.
Fatores globais e comparações
- Contexto internacional: Especialistas como Paul Jackson (Universidade de Northampton) destacam que plataformas pouco moderadas amplificam o extremismo globalmente.
- Hipermasculinidade e frustração: Jovens homens, muitas vezes marginalizados, encontram nesses grupos uma forma de poder e afirmação.
- Idade média decrescente: Graham Macklin (Universidade de Oslo) observa que os agressores estão cada vez mais jovens.
Um ciclo perigoso
O crescimento do neonazismo entre jovens russos reflete uma combinação tóxica de falta de oportunidades, propaganda estatal e ferramentas digitais. Enquanto o governo ignora o problema internamente, a violência se espalha, alimentada por uma geração que busca identidade em ideologias destrutivas. Sem políticas de inclusão e moderação de conteúdo online, o cenário tende a piorar, repetindo erros do passado em um contexto ainda mais volátil.