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sábado, 15 de novembro de 2025 às 10:46 GMT+0

Vyacheslav Penchukov: A confissão de "Tank" - Como o rei do ransomware se tornou o alvo Nº 1 do FBI

Imagem: BBC

Este é o resumo da entrevista exclusiva concedida por Vyacheslav Penchukov, codinome "Tank", um dos hackers mais notórios do mundo, ao correspondente de cibersegurança da BBC, Joe Tidy, diretamente de uma prisão de segurança mínima no Colorado, EUA. A conversa oferece um olhar raro e aprofundado sobre a mente e a evolução do cibercrime de alto nível.

A ascensão do líder carismático

A história de Penchukov no submundo digital não começou com genialidade técnica, mas sim com sua habilidade social e carisma.

  • O "cara simpático" com vícios digitais: Penchukov se descreve como alguém que "faz amigos com facilidade". Ele começou na Ucrânia, em Donetsk, envolvendo-se com hackers em fóruns de trapaças em jogos como FIFA 99 e Counter-Strike.
  • Fundação da gangue jabber zeus: Essa rede social evoluiu para um império criminoso. Ele se tornou o líder do grupo Jabber Zeus (nome em homenagem ao malware Zeus e à plataforma Jabber), que incluía figuras como Maksim Yakubets, posteriormente ligado ao grupo Evil Corp.
  • O crime como um negócio de escritório: A gangue operava com rotina empresarial, em um escritório com horários fixos de seis a sete horas por dia, focados em roubar diretamente de contas bancárias. O sucesso era tanto que Penchukov esbanjava, comprando múltiplos carros alemães de luxo.

A evolução implacável do cibercrime

A carreira de "Tank" reflete a própria transformação do crime na internet, passando de ataques diretos para modelos de extorsão mais sofisticados.

Fase 1: O ataque direto (Roubo bancário):

  • O Jabber Zeus realizou ataques massivos a contas bancárias, especialmente no Reino Unido.
  • Em apenas três meses, mais de 600 vítimas, incluindo pequenas empresas, instituições de caridade e prefeituras, perderam mais de £4 milhões.
  • Ele só escapou de uma operação do FBI (Trident Breach) graças a um alerta e um veículo potente.

Fase 2: A migração para o ransomware:

  • Após uma tentativa fracassada de vida legal, arruinada pela invasão russa da Crimeia em 2014, Penchukov voltou ao crime, migrando para o lucrativo modelo de ransomware (sequestro de dados).
  • Ele atuou como afiliado em grandes serviços como Maze, Egregor e Conti, e liderou a gangue IcedID.
  • A "mentalidade de rebanho": Penchukov revela que um resgate bem-sucedido (como o suposto pagamento de US$20 milhões por um hospital) era o incentivo para centenas de outros hackers atacarem instituições similares.

Janelas para a mente criminosa e o submundo

A entrevista é crucial por fornecer detalhes operacionais e psicológicos sobre o mundo do cibercrime.

  • Crime como "dinheiro fácil": A visão de Penchukov era de uma completa desconexão com o sofrimento das vítimas, encarando o crime simplesmente como uma forma fácil de ganhar dinheiro. Ele demonstrou remorso apenas por um ataque a uma instituição de caridade para crianças com deficiência.
  • Colaboração com o Estado Russo: Quando questionado sobre contatos com agências de segurança russas (FSB), ele respondeu diretamente: "Claro", confirmando suspeitas antigas sobre a colaboração entre cibercriminosos e o serviço de segurança.
  • A deslealdade do submundo: Penchukov enfatiza que a paranoia é constante entre hackers e a confiança é um erro fatal. Ele se afastou do parceiro Maksim Yakubets após este ser sancionado, ilustrando a traição e o ostracismo que governam esse meio.
  • O impacto humano: Sua história expõe como a fragilidade da segurança bancária no final dos anos 2000 permitiu a ação impune de gangues. O relato de vítimas, como a loja Lieber's Luggage que sofreu um prejuízo devastador, lembra que por trás das estatísticas abstratas há pessoas e negócios reais sendo destruídos.

A captura e a lição final

A jornada de Penchukov culminou em uma prisão dramática e serve como um retrato do desafio contínuo do cibercrime.

  • O fim na Suíça: A liberdade de "Tank" terminou em 2022. Ele foi capturado na Suíça em uma operação com atiradores no telhado, sendo detido na frente de seus filhos.
  • Consequências: Sentenciado a nove anos de prisão nos EUA, ele cumpre pena na penitenciária de Englewood e foi condenado a pagar US$54 milhões em restituição.
  • Alerta permanente: A história de Penchukov é um alerta. O ecossistema criminoso que ele ajudou a construir, globalizado, adaptável e resiliente, permanece ativo. A entrevista reforça a necessidade urgente de uma cooperação internacional robusta para combater um crime que transcende fronteiras.

A história de Vyacheslav "Tank" Penchukov, revelada pela BBC, é um espelho didático do cibercrime moderno: a transição de um roubo bancário simples para um modelo corporativo de ransomware. A entrevista confirma a colaboração de hackers com agências russas e expõe uma desconexão fria com as vítimas. Enquanto Penchukov paga sua pena, sua narrativa serve como um alerta urgente: O ecossistema criminoso que ele liderou permanece ativo e adaptável, exigindo uma cooperação global implacável para ser contido.

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