A tempestade perfeita: "Tarifaço" de Trump e a sombra política de Eduardo Bolsonaro mostram o duelo da crise Brasil-EUA

O "tarifaço" imposto por Donald Trump em agosto de 2025 impactou diretamente a economia brasileira, gerando uma crise comercial e política. Uma reportagem da BBC News Brasil detalhou a corrida do setor privado brasileiro para contornar a situação, revelando uma complexa trama onde os interesses comerciais se chocam com uma agenda política paralela.
Ações empresariais: A corrida contra o relógio
Diante da crise, a resposta do empresariado brasileiro, liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi imediata e focada em uma estratégia de lobby e diplomacia.
- Estratégia de alto nível: Foram contratados especialistas com trânsito em Washington, como o ex-diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, e o influente escritório de lobby de Brian Ballard, conhecido por sua proximidade com Trump.
- Missão em Washington: Uma comitiva com mais de 120 empresários viajou para a capital americana. O objetivo era claro: abrir canais de diálogo, apresentar argumentos técnicos e negociar a exclusão de produtos da lista de tarifas, minimizando os danos à economia.
- Resultados limitados: Apesar dos esforços, as tarifas não foram revertidas. As autoridades americanas deixaram claro que a questão não era comercial, mas sim política.
Motivação política por trás das tarifas
As autoridades dos EUA citaram motivos políticos para a medida, destacando que a solução para o problema não está no âmbito técnico. As retaliações foram justificadas por duas razões principais:
1.
Processo contra Jair Bolsonaro: O processo judicial contra o ex-presidente é visto por Trump e seus aliados como uma "caça às bruxas".
2.
Regulação das "Big Techs": A regulação brasileira das grandes empresas de tecnologia é vista pelo governo americano como uma forma de censura a companhias dos Estados Unidos.
Impacto na Economia: Dados do MDIC revelam que, em agosto de 2025, as exportações brasileiras para os EUA caíram 18,5% em relação ao ano anterior, resultando no maior déficit comercial mensal do ano para o Brasil.
A sombra de Eduardo Bolsonaro: A agenda paralela
Enquanto os empresários buscavam o diálogo, uma agenda política paralela operava em Washington, criando um conflito de interesses.
- Campanha por sanções: O deputado federal Eduardo Bolsonaro reside nos EUA e conduz uma campanha ativa, buscando sanções contra o Brasil para pressionar pela anistia de seu pai, o ex-presidente.
- Conflito e desconforto: A presença de Eduardo Bolsonaro no mesmo hotel da comitiva empresarial causou desconforto. O presidente da CNI, Ricardo Alban, fez questão de ressaltar que ele não foi convidado pela entidade.
- Reuniões políticas: Em suas redes sociais, o deputado divulgou fotos com figuras importantes do governo Trump, como o subsecretário de Estado Darren Beattie e o assessor Ricardo Pita, confirmando que o tema de suas reuniões era a anistia, e não o comércio bilateral.
O futuro das relações: Risco de novas sanções
O "tarifaço" pode ser apenas o começo. Uma investigação do USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA) com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 analisa supostas práticas comerciais desleais em diversos setores brasileiros.
- Temas da investigação: A investigação abrange questões sensíveis como o etanol, "big techs", o sistema PIX e o combate ao desmatamento.
- Risco de escalada: Consultorias como a Eurasia Group alertam que uma possível condenação e prisão de Jair Bolsonaro podem levar a um endurecimento das sanções, com suspensão de vistos e aplicação rigorosa da Lei Magnitsky.
Quando a política se sobrepõe à economia
- A missão empresarial brasileira foi bem-sucedida em abrir canais de diálogo, mas enfrentou a dura realidade de que a crise não é técnica, mas ideológica. A narrativa de que o Brasil persegue politicamente seus opositores, disseminada por Eduardo Bolsonaro e seus aliados, criou um terreno fértil para as retaliações.
Enquanto o setor privado tenta salvar empregos e negócios, uma facção política usa a economia como moeda de troca para um objetivo doméstico: a anistia do ex-presidente. O futuro das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos parece, portanto, inteiramente ligado ao desfecho judicial de Jair Bolsonaro e à vontade de Donald Trump em usar o comércio como uma arma política.