Alucinações e STF: Como o caso da tornozeleira eletrônica de Bolsonaro viralizou no New York Times, Le Monde e na mídia internacional
A tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro de interferir em sua tornozeleira eletrônica e sua subsequente prisão preventiva foram temas de grande repercussão na imprensa global. A decisão do juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), motivada em parte pela violação do equipamento e o risco de fuga, gerou manchetes e análises em diversos veículos.
A perspectiva do The New York Times
O jornal americano destacou a tentativa de sabotagem como o ponto crucial para a ordem de prisão, com a manchete "Como uma tornozeleira eletrônica sabotada pôs fim à prisão domiciliar de Bolsonaro".
- Admissão de sabotagem: Inicialmente, Bolsonaro alegou ter danificado a tornozeleira por acidente. Contudo, confrontado com marcas de queimadura no dispositivo, ele admitiu ter usado um ferro de solda na tentativa de derretê-lo.
- Justificativa para a prisão: O NYT citou a decisão de Moraes, que afirmou que as autoridades "esgotaram todas as medidas cautelares" antes de decretar a prisão preventiva.
- Risco de fuga: Moraes também considerou um risco concreto e iminente de fuga, citando a convocação de uma "vigília" de apoio ao ex-presidente por seu filho, o senador Flávio Bolsonaro.
Repercussão na Europa: Le Monde e The Sun
Jornais europeus noticiaram o evento como um desenvolvimento surpreendente e dramático na situação política brasileira.
- Le Monde (França): Classificou a decisão de Moraes como uma "surpresa" para o Brasil, ressaltando que Bolsonaro "passou sua primeira noite na prisão – mas um pouco antes do que esperava."
- The Sun (Reino Unido): Descreveu a prisão como "dramática" e mencionou que a medida foi tomada para "impedir uma tentativa de fuga" que as autoridades suspeitavam estar sendo planejada.
A versão dos distúrbios por medicamentos (Reuters e Clarín)
A agência de notícias Reuters e o jornal argentino Clarín focaram no depoimento de Bolsonaro durante a audiência de custódia, onde ele ofereceu uma explicação para sua conduta.
- Alegação de alucinações: Bolsonaro negou intenção de fuga e atribuiu seu comportamento a uma mistura de medicamentos (pregabalina e sertralina) que o teriam levado a ter "alucinações".
- Teoria da escuta clandestina: Ele relatou ter acreditado que a tornozeleira eletrônica pudesse conter um dispositivo de escuta clandestino, motivando a tentativa de interferir no equipamento.
- Decisão mantida: O Clarín destacou que o tribunal manteve o mandado de prisão preventiva, declarando que "não houve abuso ou irregularidade por parte dos policiais responsáveis."
O contexto da condenação (Al Jazeera)
A emissora do Catar, Al Jazeera, contextualizou a prisão de Bolsonaro, lembrando sua condenação anterior pelo STF.
- Condenação prévia: A reportagem explicou que o ex-presidente havia sido condenado em setembro por "tentar dar um golpe de Estado e manter-se na presidência" após a derrota nas eleições de 2022.
- Comentário de Lula: A Al Jazeera também destacou as primeiras declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a prisão de seu antecessor, feitas durante uma reunião do G20:
"O tribunal decidiu, está decidido. Todos sabem o que ele fez."
A defesa do ex-presidente
A defesa de Bolsonaro reagiu à decisão de Moraes com "profunda perplexidade".
- Questionamento da motivação: Os advogados questionaram a ordem de prisão baseada em uma "vigília de orações", alegando que a Constituição de 1988 garante o direito de reunião e liberdade religiosa.
- Saúde em risco: A defesa argumentou que a prisão poderia colocar a vida do ex-presidente em risco devido ao seu estado de saúde delicado, anunciando que apresentaria o recurso cabível.
- "Narrativa": Em declarações à imprensa, o advogado Paulo Cunha Bueno classificou o caso da tornozeleira como uma "narrativa que tenta justificar o injustificável".
O episódio da tornozeleira eletrônica elevou a crise de Bolsonaro a um novo patamar, sendo decisivo para a decretação de sua prisão preventiva. A imprensa internacional uniu-se em uma cobertura que destacou não apenas a tentativa de sabotagem confirmada pela admissão do uso do ferro de solda mas também a alegação de alucinações por medicamentos como justificativa. O consenso global é que a ação de Bolsonaro foi o ponto de inflexão que esgotou as medidas cautelares e concretizou o risco de fuga avaliado pela Justiça brasileira, sinalizando uma guinada dramática e incisiva no desfecho de seu processo judicial.
