Análise do New York Times: "Como tentar dar um golpe — e fracassar"

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por acusações de tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 é um evento de significado global. A reportagem do The New York Times, intitulada "Como Tentar Dar um Golpe — e Fracassar", se baseia em dezenas de horas de depoimentos e centenas de páginas de documentos para oferecer uma análise detalhada. O texto deste jornal internacional ressalta a seriedade das acusações e a importância do caso para a democracia brasileira.
A narrativa da acusação: Um plano sistematizado
A reportagem do New York Times descreve o que os promotores veem como um esforço coordenado e multifacetado. A acusação aponta que, após a derrota eleitoral em outubro de 2022, Bolsonaro e seus aliados teriam iniciado um plano para se manter no poder. As ações principais incluíam:
- Minar a confiança nas urnas: Semear publicamente dúvidas sobre a confiabilidade do sistema eleitoral para incitar a indignação popular.
- Convencer a cúpula militar: Tentar mobilizar e persuadir líderes das Forças Armadas a intervir e anular os resultados das eleições.
- Elaborar planos extremos: Criar documentos que detalhavam a prisão e até o assassinato de opositores políticos, incluindo o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin.
A defesa de Bolsonaro: Uma perseguição política
A reportagem também apresenta o ponto de vista da defesa do ex-presidente. Utilizando as mesmas provas da investigação, a defesa argumenta que o caso é uma construção política com o objetivo de impedir um futuro retorno de Bolsonaro às urnas. A defesa nega veementemente as acusações de planejar um golpe ou assassinatos, afirmando que as ações de Bolsonaro, como a discussão sobre as urnas, eram uma busca legítima por "maneiras dentro da Constituição" de contestar uma eleição que ele acreditava ter sido fraudada.
Pontos chave e evidências centrais
O New York Times destaca eventos cruciais que estão no centro da investigação:
1.
O documento do assassinato: Um documento, atribuído a um assessor de Bolsonaro, detalhava um plano para assassinar autoridades. Embora o assessor tenha alegado que o plano foi destruído, a existência do documento é um ponto-chave da acusação.
2.
Reuniões para um golpe: A investigação aponta para reuniões que teriam ocorrido na casa de aliados de Bolsonaro para discutir a implementação de um golpe e a declaração de um estado de emergência. A defesa de Braga Netto, por exemplo, nega a realização de tais encontros.
3.
A recusa dos militares: Um momento decisivo da trama, segundo o jornal, foi a suposta pressão de Bolsonaro sobre os comandantes das Forças Armadas. A recusa firme e categórica do então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, em participar de qualquer ação para subverter o resultado eleitoral é vista como o fator que desmantelou o plano.
Conclusão do New York Times: A democracia resiste
A reportagem do New York Times conclui que a tentativa de golpe fracassou porque instituições-chave se mantiveram fiéis aos seus papéis constitucionais. A firmeza dos comandantes militares foi o ponto final que levou os aliados de Bolsonaro a desistirem de seus planos. O jornal ressalta que o julgamento em andamento não é apenas sobre os eventos passados, mas representa um debate vital para o futuro da democracia brasileira. O resultado definirá os limites da atuação de um chefe de Estado e estabelecerá um precedente histórico para a consolidação do Estado de Direito no Brasil.