Assédio no trabalho: Novo marco legal ameaça empresas com multas de R$ 500 mil e banimento de contratos públicos
A Câmara dos Deputados analisa um Projeto de Lei que visa estabelecer regras muito mais rígidas para o combate ao assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho brasileiros. De autoria do deputado federal Pedro Aihara (PRD-MG), a proposta busca criar um marco legal robusto e protetivo, transformando a maneira como as empresas lidam com essas práticas.
Pilares da proposta: Responsabilização e proteção à vítima
O projeto introduz mecanismos que focam na responsabilização efetiva das empresas e na criação de um ambiente mais seguro para as vítimas.
Multas severas por omissão:
- Empresas que agirem com negligência ou omissão em casos de assédio estarão sujeitas a multas que variam de R 50 mil a R 500 mil.
- O alto valor visa criar um desincentivo econômico real para que as organizações ignorem ou minimizem as denúncias.
Sanções administrativas adicionais:
- Além da penalidade financeira, empresas infratoras poderão ser impedidas de firmar contratos com o poder público por um período de até cinco anos, impactando profundamente negócios que dependem de licitações governamentais.
Prazos rígidos para apuração:
- O projeto estabelece um limite máximo de 30 dias para a conclusão das investigações de denúncias de assédio.
- Esta medida é crucial para combater a morosidade dos processos internos, que muitas vezes desestimula as vítimas e permite a continuidade dos abusos.
Canais de denúncia obrigatórios e confidenciais:
- As empresas serão obrigadas a manter e divulgar canais de denúncia que sejam acessíveis e garantam a confidencialidade do denunciante.
- Os canais devem ser disponibilizados em diferentes modalidades: presencial, online e por telefone.
Treinamentos anuais compulsórios:
- Torna-se obrigatória a realização de treinamentos anuais para todos os colaboradores, focados na prevenção e no combate ao assédio.
- Essa exigência visa promover uma mudança cultural duradoura, educando a todos os níveis hierárquicos.
A grande inovação: A ouvidoria externa de Combate ao Assédio (OECA)
Um dos pontos mais inovadores e importantes da proposta é a criação da Ouvidoria Externa de Combate ao Assédio (OECA).
- Natureza e vínculo: A OECA seria uma instância independente das empresas, vinculada diretamente ao Ministério do Trabalho.
- Funções primárias: Atuaria recebendo denúncias, fiscalizando o cumprimento da lei nas organizações e, em casos graves, podendo encaminhar as ocorrências para a Polícia Federal.
- Garantia de isenção: Sua natureza externa assegura uma apuração mais técnica e isenta, descentralizando o processo que hoje é majoritariamente interno às empresas.
Impacto e relevância da legislação proposta
A aprovação deste projeto significa um avanço substancial nos direitos trabalhistas no Brasil.
- Fortalecimento legal: O projeto oferece uma legislação específica e robusta, superando a atual dependência de ações judiciais individuais e dando mais clareza para a fiscalização.
- Encorajamento às vítimas: A combinação de confidencialidade, prazos curtos e a existência de uma ouvidoria externa tem o potencial de encorajar um maior número de vítimas a denunciar, oferecendo-lhes maior amparo.
- Responsabilidade empresarial: As multas e sanções forçam as empresas a ir além do discurso, exigindo accountability financeira e operacional para a manutenção de um ambiente de trabalho saudável.
- Prevenção por conscientização: A obrigatoriedade dos treinamentos anuais é uma medida proativa que ataca a raiz do problema, educando e prevenindo comportamentos e culturas organizacionais tóxicas.
Próximos passos no Congresso
A proposta representa um ecossistema completo de prevenção, proteção e punição, sendo um passo necessário para combater um problema crônico na sociedade. No entanto, o texto ainda está em fase de análise e precisa passar pela aprovação das seguintes comissões antes de seguir para o Plenário:
1. Comissão de Trabalho
2. Comissão dos Direitos da Mulher
3. Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania
O Projeto de Lei em análise é um divisor de águas, transformando o combate ao assédio no trabalho de uma responsabilidade individual em uma obrigação empresarial e estatal. Ao impor multas altíssimas, sanções administrativas e, principalmente, criar a Ouvidoria Externa (OECA), a proposta estabelece um ecossistema de responsabilização inédito. Esta iniciativa não apenas pune, mas exige uma mudança cultural proativa, sinalizando que a dignidade e a segurança do trabalhador passarão a ser um pilar inegociável da atuação corporativa no Brasil.
