Bolsonaro no STF: Quais os caminhos jurídicos pós-condenação – Recursos, anistia e o futuro político

O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou em setembro de 2025 um julgamento de grande relevância, envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete ex-integrantes de seu governo. Eles são acusados de crimes graves, como liderar uma organização criminosa armada e tentativa de golpe de Estado, relacionados aos eventos de 8 de janeiro de 2023.
A defesa de Bolsonaro nega todas as acusações e, em caso de condenação pela Primeira Turma do STF, terá uma série de recursos legais à disposição para reverter a decisão ou evitar o cumprimento imediato da pena. Este guia simplifica e organiza esses caminhos, detalhando cada etapa do processo judicial.
Recursos diretos no STF: O processo em andamento
Após uma decisão da Primeira Turma, a defesa pode acionar mecanismos processuais dentro do próprio Supremo.
1. Embargos declaratórios
- O que é? O primeiro recurso disponível. Ele não reavalia se o réu é culpado ou inocente, mas busca corrigir falhas formais na decisão, como omissão, obscuridade ou contradição.
- Finalidade: Seu principal objetivo é esclarecer a decisão, e raramente altera o resultado final da condenação. A pena só começa a ser cumprida após o "trânsito em julgado", ou seja, quando todos os recursos são esgotados.
- O risco: Se o STF entender que os embargos são usados apenas para ganhar tempo, pode autorizar a execução imediata da pena, com base em precedentes como o caso do Mensalão.
2. Embargos infringentes
- O que é? Este é o recurso mais importante e com real potencial de mudar o resultado da condenação.
- Quando se aplica? Só é possível se a condenação não for unânime. É preciso que pelo menos dois ministros da Primeira Turma (que tem 5 membros) tenham votado pela absolvição do réu.
- Como funciona? Se aceito, o julgamento é reaberto e levado ao plenário do STF, onde será reavaliado por todos os onze ministros.
Alternativas extrajudiciais: Dependendo de outros Poderes
Além dos recursos diretos, a defesa pode buscar alternativas que dependem do Presidente da República ou do Congresso Nacional, mas que sempre estarão sujeitas à aprovação do STF.
Indulto (ou Graça)
- O que é? Um benefício concedido pelo Presidente da República para extinguir a pena de um condenado. Pode ser coletivo (como o indulto de Natal) ou individual (a graça).
- O obstáculo: O próprio STF já criou um precedente contra essa alternativa. Em 2023, a corte anulou o indulto que Bolsonaro concedeu ao deputado Daniel Silveira. Os ministros entenderam que houve "desvio de finalidade" e que crimes contra a democracia não são passíveis de tal benefício. Uma nova tentativa de indulto provavelmente seria anulada pelo STF.
Anistia
- O que é? Diferente do indulto, que perdoa a pena, a anistia perdoa o crime em si, como se ele nunca tivesse ocorrido.
- O obstáculo: Um projeto de lei para anistiar os participantes dos atos de 8 de janeiro está em discussão no Congresso Nacional, mas enfrenta forte resistência. Mesmo se aprovado, sua constitucionalidade seria questionada e o STF teria a palavra final sobre a legalidade de perdoar crimes graves contra o Estado Democrático de Direito.
A questão da prisão domiciliar
É importante notar que a prisão domiciliar que Bolsonaro cumpre atualmente foi determinada em um inquérito separado, relacionado ao seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro.
- Pode ser abatida da pena? Sim, mas de forma indireta. Se Bolsonaro for condenado nos dois casos, as penas podem ser unificadas. Nesse cenário, a defesa pode pedir a "detração", um mecanismo legal para abater o tempo já cumprido em uma pena do total da outra.
Um longo e complexo caminho judicial
- Caso haja uma condenação, o caminho para o trânsito em julgado (a decisão final) será longo e complexo. A defesa utilizará todos os recursos possíveis dentro do STF. Paralelamente, pode buscar alternativas políticas como a anistia, mas estas dependem da aprovação de outros poderes e enfrentam a barreira quase intransponível do controle de constitucionalidade exercido pelo próprio Supremo.
O precedente aberto no caso Daniel Silveira sinaliza uma postura firme da corte contra benefícios para crimes contra a democracia. O desfecho do processo, portanto, estará nas mãos dos ministros do STF e deve se prolongar por um longo período.