Lei Magnitsky: O que está por trás das ameaças dos EUA ao STF? A guerra jurídica que pode afetar redes sociais no Brasil

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, criticou duramente as ameaças do governo dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes, classificando-as como um ato de "arrogância desmedida" e uma pretensão de Donald Trump de agir como "imperador do mundo". O caso ganhou destaque após o secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciar possíveis sanções contra autoridades estrangeiras envolvidas em suposta censura a cidadãos americanos — uma clara referência às decisões de Moraes sobre discursos de ódio e antidemocráticos no Brasil.
O contexto das ameaças americanas
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O governo Trump tem pressionado autoridades de diversos países que regulam plataformas digitais, especialmente quando essas decisões afetam empresas sediadas nos EUA.
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Alexandre de Moraes, como relator de casos sobre fake news e golpismo no Brasil, determinou a suspensão de contas e prisões de pessoas envolvidas em crimes virtuais, incluindo aliados de Jair Bolsonaro.
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O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, tem se reunido com congressistas republicanos nos EUA para articular retaliações contra Moraes, o que levou à abertura de um inquérito por obstrução de Justiça.
A reação do STF e a posição de Celso de Mello
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Celso de Mello, ex-presidente do STF, destacou que o tribunal nunca interferiu em assuntos internos dos EUA e que a soberania brasileira deve ser respeitada.
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Ele acusou Trump de desrespeitar a Carta da ONU, que prevê a igualdade entre os Estados, e de tentar impor a Primeira Emenda (liberdade de expressão americana) fora de seu território.
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O ministro aposentado diferenciou restrições de visto (que são discricionárias) de sanções econômicas, que seriam uma interferência grave na jurisdição brasileira.
O que são as sanções da Lei Magnitsky?
A Lei Global Magnitsky permite que os EUA punam autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou violações de direitos humanos com:
- Proibição de entrada nos EUA.
- Congelamento de bens no país.
- Bloqueio de transações financeiras com empresas americanas (o que pode afetar cartões de crédito e contas bancárias).
Possíveis impactos para Alexandre de Moraes
- Financeiro: Se sancionado, Moraes poderia ter contas em dólar bloqueadas e cartões de crédito cancelados (já que Visa e Mastercard são empresas americanas).
- Digital: Empresas como Meta (Facebook) e X (Twitter) poderiam, teoricamente, bloquear suas contas, mas especialistas apontam que isso seria incomum, pois configuraria censura.
- Jurídico: A advogada Natalia Kubesch, da Redress, ressalta que a inclusão na lista Magnitsky é "semipolítica" e que o caso de Moraes não se encaixaria nos critérios rígidos adotados por outros países, como o Reino Unido.
A posição do STF e o julgamento do marco civil da internet
- O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, marcou a retomada do julgamento sobre a responsabilidade de plataformas digitais por conteúdos criminosos, um tema diretamente ligado às tensões com os EUA.
- O caso pode definir se empresas como Google e Meta devem ser responsabilizadas por não removerem posts ilegais rapidamente.
A disputa entre o STF e o governo Trump reflete um conflito maior entre soberania nacional e a influência global das leis americanas. Enquanto Celso de Mello defende a autonomia do Brasil, as ameaças de sanções mostram como os EUA podem usar seu poder econômico para pressionar decisões judiciais em outros países. O desfecho desse embate pode ter repercussões não só para Alexandre de Moraes, mas para o equilíbrio entre liberdade de expressão, regulação da internet e o respeito à jurisdição de cada nação.