Vigilância 24h em Bolsonaro: STF justifica medida com risco de fuga e proximidade de julgamento.

A decisão recente do Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de determinar a vigilância 24 horas sobre a residência do ex-presidente Jair Bolsonaro, não é um fato isolado. Ela é mais um capítulo em um processo legal complexo, que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A medida, que impõe vigilância ininterrupta da Polícia Penal do Distrito Federal, visa garantir o cumprimento das regras de prisão domiciliar, imposta desde 4 de agosto.
Os motivos por trás da vigilância reforçada
O que levou à decisão do Ministro Moraes? A ordem foi baseada em argumentos e evidências apresentadas pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República (PGR). As razões principais são:
- Risco de fuga: A PGR endossou um pedido que apontava um "risco concreto de fuga". A principal evidência foi uma minuta (rascunho) de 33 páginas de um pedido de asilo político à Argentina, encontrada no celular de Bolsonaro. O documento, salvo em fevereiro de 2024, foi modificado em um período que coincide com a visita do ex-presidente à embaixada da Hungria, sugerindo uma possível busca por abrigo com o primeiro-ministro Viktor Orbán, um aliado internacional.
- Proximidade do julgamento: O julgamento da ação penal que apura a tentativa de golpe está marcado para 2 de setembro de 2025. O Ministro Moraes destacou que a iminência de um veredito, que pode resultar em condenação, aumenta a motivação para uma tentativa de evasão.
- Padrão de desrespeito à justiça: A decisão também mencionou o comportamento do ex-presidente e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Segundo a Polícia Federal, eles teriam agido para coagir o Judiciário e o Legislativo. Além disso, a participação remota de Bolsonaro em atos com apoiadores em 3 de agosto foi vista como uma violação de medidas cautelares anteriores e um claro padrão de desrespeito às ordens judiciais.
Como a vigilância será executada?
A ordem do Ministro Moraes foi bastante específica sobre como a vigilância deve ocorrer:
- Ação da Polícia penal: A responsabilidade do monitoramento é da Polícia Penal do Distrito Federal.
- Monitoramento ostensivo e discreto: A vigilância deve ser visível (ostensiva) para dissuadir qualquer irregularidade, mas sem causar perturbação à vizinhança ou ser invasiva à vida privada da família.
O que a defesa de Bolsonaro alega?
- A defesa do ex-presidente, que ainda não se manifestou sobre a nova medida, já havia se pronunciado sobre o caso. Eles negam as acusações e alegam "lawfare", ou seja, o uso estratégico de instrumentos legais para perseguir um oponente político.
- Sobre o rascunho de asilo, a defesa argumentou que era um "rascunho antigo" de 2024 e que, desde então, não houve nenhuma tentativa de fuga.
E a opinião pública?
- Uma pesquisa do instituto Genial/Quaest mostrou que a maioria dos brasileiros apoia a decisão da justiça. 55% da população considera justa a prisão domiciliar de Bolsonaro, e 57% acredita que sua participação em manifestações foi uma afronta proposital ao Ministro Moraes.
A decisão busca garantir a ordem judicial
- A intensificação da vigilância sobre Jair Bolsonaro é, portanto, uma medida cautelar extrema. Baseada em evidências concretas e em avaliações de risco, ela reflete a percepção do STF de que há um potencial risco de fuga, especialmente com a proximidade do julgamento.
A medida não cria novas restrições, mas sim reforça o mecanismo para garantir que as já existentes sejam cumpridas. Assim, o processo judicial pode seguir seu curso normal, assegurando que não haja evasão ou interferência. Este caso continua a ser um dos episódios mais significativos e polarizadores da história jurídico-política recente do Brasil.