Escola pública "Parque dos sonhos" de Cubatão vence prêmio mundial: O modelo de educação que superou a violência e o tráfico
Uma história de superação e dedicação que começou em 2016 mudou completamente a realidade da Escola Estadual Parque dos Sonhos, em Cubatão (SP). A unidade, que antes era marcada por invasões, violência e drogas, conquistou o reconhecimento internacional no Prêmio Melhor Escola do Mundo 2025 na categoria "Superação de Adversidades".
O cenário inicial: Violência e abandono
Quando o professor de História Régis Marques recebeu o convite para assumir a direção em 2016, a reputação da escola era péssima:
- Alto risco e invasões: A escola, situada no Jardim Real (antigo Bolsão 9), ficava em uma área isolada e era constantemente invadida.
- Rotina de uso de drogas: O espaço escolar era utilizado por pessoas de fora para consumo de drogas e outras atividades ilícitas.
"Era comum a gente chegar, ter pinos de cocaína, camisinha usada, roupa usada..." — Régis Marques, Diretor.
- Baixa frequência de alunos: A violência e insegurança fizeram com que muitos alunos pedissem transferência, deixando a escola com apenas 116 matrículas, muito abaixo da capacidade.
- Apelido sombrio: A unidade era conhecida na comunidade como
"Parque dos Pesadelos" ou "Parque do Terror".
A mudança começa: Estrutura e comunidade
O novo diretor traçou a meta ambiciosa de transformar a escola mais vulnerável da região na melhor do estado em cinco anos, começando por passos práticos e fundamentais:
- Reforma estrutural: O primeiro desafio foi reconstruir o básico (muros, pisos, móveis). Sem verba, a escola enviou 135 ofícios e conseguiu arrecadar
R$ 100 milcom o apoio de empresas privadas. - Abertura para o bairro: Para integrar a escola à comunidade, foram criados cursinhos preparatórios (vestibular e concursos) e o espaço foi aberto para uso da vizinhança aos finais de semana.
- Voluntariado ativo: Mães e moradores do bairro, como Ana Gabriela Lima, formaram uma primeira equipe de voluntários para ajudar na limpeza e apoio das atividades.
Foco no aluno: Currículo ampliado e humanização
A escola, que funciona em período integral, investiu em uma abordagem humanizada e em um currículo diversificado para engajar os estudantes:
- Ouvir e humanizar: O trabalho principal foi focado em "ouvir os alunos" e oferecer um "olhar mais humanizado, de ter um olhar realmente voltado para eles".
- 23 projetos extracurriculares: O currículo foi expandido muito além do tradicional, incluindo atividades como culinária, teatro e esportes incomuns na rede pública, como badminton e patinação artística.
- Engajamento aumentado: A diversidade de práticas mudou a percepção dos estudantes sobre o tempo integral.
"Só que aí a escola foi tendo novos projetos e hoje em dia é muito legal, porque a gente não fica só dentro da sala de aula." — Ester Silva, aluna.
Inspiração cubana: A escola vai à sua casa
O projeto mais transformador da escola foi inspirado em um modelo de educação cubano, buscando entender o contexto de vida do aluno:
- Visitas domiciliares: Professores e a diretoria visitam a casa de alunos com problemas de frequência ou indisciplina nos finais de semana.
- Compreensão profunda: O objetivo é se "colocar no lugar do aluno" e compreender as dificuldades e as condições precárias que eles enfrentam fora dos muros da escola.
Paz e transformação: A semana da não violência
A escola adota pilares pedagógicos de justiça social e direitos humanos para formar cidadãos mais conscientes:
- Corredores inspiradores: As portas das salas de aula são grafitadas com figuras históricas ligadas à luta pelos direitos humanos, como Nelson Mandela, Marielle Franco e Paulo Freire.
- Justiça restaurativa: Anualmente, o evento Semana da Não Violência promove rodas de conversa, estudos pacifistas e práticas de justiça restaurativa.
- Questionar a opressão: O conceito de não violência é ensinado como uma forma de questionar o sistema que oprime.
Resultados e reconhecimento global
A transformação interna gerou resultados acadêmicos e, finalmente, o reconhecimento mundial:
- Salto no Idesp: Em uma década, o indicador de qualidade das escolas (Idesp) da Parque dos Sonhos saltou de 2,2 para 4,6, representando uma evolução de quase 100% no aprendizado.
- Impacto social: O sucesso é medido também em vidas salvas. A escola se tornou um porto seguro, onde alunas puderam relatar casos de abuso, reforçando seu papel de proteção social.
- Vencedora mundial: Em setembro de 2025, a escola foi celebrada pelos alunos após vencer o Prêmio Melhor Escola do Mundo na categoria Superação de Adversidades.
O poder transformador da educação
A jornada da Escola Parque dos Sonhos, de um polo de violência a uma referência internacional, prova que a educação humanizada e o envolvimento comunitário são as ferramentas mais eficazes contra a adversidade. A unidade de Cubatão não apenas elevou seus indicadores acadêmicos, mas, sobretudo, resgatou a dignidade de sua comunidade. A escola, que esteve a ponto de fechar em 2016, projeta começar 2026 com 1.200 alunos, consolidando sua missão de ser um ponto de transformação social e um símbolo global do poder da esperança e da excelência.
