O perigoso algoritmo: Como o vídeo de Felca expondo a "adultização" mudou a luta pela proteção infantil nas redes

O vídeo "adultização", do influenciador digital Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca, alcançou milhões de visualizações e provocou um debate nacional sobre a segurança de crianças e adolescentes na internet. A produção, com cinquenta minutos de duração, expôs a exploração de menores de idade nas redes sociais e cobrou a responsabilização das plataformas que monetizam esse tipo de conteúdo.
A importância da denúncia de Felca e o que é adultização
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A denúncia de Felca, apesar de não ser um tema novo, ganhou notoriedade sem precedentes. O vídeo alcançou um público vasto e de diferentes ideologias, unindo personalidades de espectros políticos opostos, como Érika Hilton e Nikolas Ferreira, em um consenso sobre a necessidade de ação. Esse fenômeno mostrou a urgência e a relevância do tema para a sociedade.
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Adultização é o ato de não respeitar o desenvolvimento natural e saudável de uma criança, impondo a ela padrões adultos. Este comportamento se manifesta de diversas formas, como o trabalho infantil, a gravidez na adolescência e, de forma crescente, a sexualização precoce em plataformas digitais.
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A advogada Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, ressaltou que a principal diferença do fenômeno atual é a velocidade e o alcance que a internet proporciona. Uma imagem ou vídeo de uma criança exposta, por exemplo, pode ficar online para sempre, causando consequências graves e duradouras para a vida daquela pessoa.
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O caso do influenciador Hytalo Santos, que mostrava adolescentes em poses sensuais, é um exemplo claro de como a adultização acontece. O perfil dele, que já era investigado pelo Ministério Público, foi derrubado do Instagram e do TikTok após a grande repercussão do vídeo de Felca.
O papel dos algoritmos e das plataformas digitais
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O vídeo de Felca revelou o perigo dos algoritmos das redes sociais. O influenciador fez um experimento no qual criou um perfil e curtiu fotos de crianças em contextos sugestivos. Ele comprovou que o algoritmo do Instagram rapidamente se "condicionou" a replicar o comportamento de pedófilos, entregando mais conteúdo sexualizado de crianças e demonstrando como essas plataformas podem facilitar o contato de redes de pedofilia.
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A discussão levantada por Felca evidenciou a responsabilidade das empresas de tecnologia. Luciana Temer explicou que as plataformas não têm um empenho real na moderação de conteúdo, pois a lei ainda não as obriga a investir em tecnologia e monitoramento. A monetização de vídeos com crianças, que gera receita tanto para os produtores de conteúdo quanto para as próprias plataformas, também é um ponto de grande preocupação.
A mobilização política e a busca por regulamentação
O vídeo de Felca foi um catalisador para a mobilização política. O tema, que já era debatido por organizações da sociedade civil e pelo Ministério Público, ganhou força no Congresso Nacional.
Diversas propostas legislativas surgiram para enfrentar o problema:
- Na Câmara dos Deputados, o presidente da casa, Hugo Motta, prometeu pautar projetos de lei sobre a exploração de menores na internet.
- A primeira-dama, Janja Lula da Silva, e a ministra Gleisi Hoffmann defenderam a regulamentação das plataformas digitais.
- No Senado, senadores apresentaram um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar influenciadores e plataformas, e propuseram a chamada "Lei Felca", com o objetivo de endurecer penas e obrigar as plataformas a remover conteúdos ofensivos mais rapidamente.
- A advogada Luciana Temer destacou a importância de aprovar o Projeto de Lei 2.628/2020, que visa proteger crianças e adolescentes no ambiente digital. Este projeto inclui a responsabilização das plataformas por conteúdos indevidos e a retirada imediata de vídeos com abuso sexual infantil, sem a necessidade de uma ordem judicial.
Pontos importantes:
- A viralização do vídeo de Felca sobre a adultização transformou uma denúncia em um movimento nacional, jogando luz sobre a urgência de proteger crianças e adolescentes em um ambiente digital cada vez mais perigoso. A discussão deixou de ser apenas sobre as ações de indivíduos e se expandiu para a necessidade de responsabilizar as próprias plataformas de tecnologia.
O debate, que conseguiu unir diferentes frentes políticas, demonstra que a proteção dos menores de idade na internet é uma causa universal. A aprovação de leis que obriguem a verificação de idade e a moderação de conteúdo pelas empresas de tecnologia é fundamental para garantir a segurança e o desenvolvimento saudável das futuras gerações. A questão não se trata de censura, mas sim de criar um ambiente digital mais seguro para nossas crianças.