Análise resumida : A crise EUA-Venezuela no Caribe é o início de uma guerra já esperada? Do petróleo aos drones

O artigo de Pablo Uchoa, publicado no portal The Conversation em setembro de 2025, analisa a grave escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela. O governo de Nicolás Maduro interpreta os recentes ataques de drones no Caribe como o possível início de um conflito armado, previsto há tempos em sua doutrina militar. Este resumo busca explicar as origens, os motivos e os possíveis desdobramentos dessa crise.
O incidente que acendeu o alerta
A crise foi desencadeada por ataques de drones dos Estados Unidos a barcos venezuelanos, supostamente ligados ao tráfico de drogas no Caribe. Em resposta, o presidente Maduro declarou que as relações bilaterais estão "desechas" (rompidas). A gravidade da situação foi confirmada pela declaração do enviado americano, Richard Grenell, que introduziu o termo "evitar uma guerra" no discurso diplomático.
Os motivos por trás da crise: Para além do narcotráfico
O artigo questiona a alegação de que o combate às drogas é o único motivo da escalada, apontando para outros interesses geopolíticos e históricos.
- As maiores reservas de petróleo do mundo: A Venezuela possui um recurso estratégico de alto interesse para qualquer potência global. O ex-presidente Donald Trump já havia afirmado publicamente que, se reeleito, teria "assumido o controle e ficado com todo aquele petróleo".
- Um histórico de hostilidade: A tensão não é nova. Em 2002, houve um golpe contra Hugo Chávez com apoio de grupos financiados pelos EUA. Em 2003, o Comando Sul dos EUA já classificava a Venezuela como uma das "maiores ameaças aos interesses americanos".
- A rota do tráfico: Especialistas questionam o pretexto de combate às drogas. A principal rota de narcóticos da América do Sul para os EUA passa pelo Oceano Pacífico, e a maior parte das drogas que sai da Venezuela tem a Europa como destino, e não os Estados Unidos.
A estratégia de defesa venezuelana: A doutrina da "guerra híbrida"
A Venezuela desenvolveu sua doutrina de "Defesa Integral" para enfrentar o que chama de "guerra híbrida" promovida pelos EUA. Documentos oficiais detalham as fases de uma possível escalada:
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Fase 1: Guerra não convencional: Pressão diplomática, desinformação, isolamento internacional e ataques cibernéticos para desestabilizar o governo.
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Fase 2: Período de crise: Agressões graduais, como ataques aéreos limitados ou operações pontuais contra alvos específicos – exatamente o que os ataques recentes com drones representam.
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Fase 3: Ameaça explícita e bloqueio: O início de um bloqueio militar, que daria início a uma guerra convencional.
Mobilização militar e o risco iminente
- A mobilização militar americana na região inclui caças F-35, navios de guerra e um submarino nuclear. Embora essa força não seja suficiente para uma invasão total, ela é capaz de realizar operações cirúrgicas, alinhando-se à Fase 2 prevista pela Venezuela.
- Em resposta, o governo venezuelano ativou o "Plano Independência 200", mobilizando suas tropas em 284 frentes de batalha e anunciando exercícios militares no Caribe.
O cenário geopolítico regional
- A estratégia dos EUA para isolar a Venezuela também inclui uma reconfiguração de suas alianças. O artigo aponta a exclusão da Colômbia da lista de "países confiáveis" no combate às drogas e o apoio a líderes populistas de direita alinhados a Trump, como Nayib Bukele (El Salvador), como parte de um esforço para manter o cerco ao regime de Maduro.
Guerra iminente ou pressão máxima?
Os eventos recentes no Caribe seguem de perto o cenário de escalada previsto pela doutrina militar venezuelana. Embora seja incerto se as ações americanas são um prelúdio para uma guerra ou uma estratégia de pressão para desestabilizar o regime, o alarme em Caracas está, de fato, aceso. O risco de um conflito, que já era uma possibilidade, tornou-se tangível, representando um dos episódios de instabilidade mais graves na América Latina nas últimas décadas.