Barroso responde a Trump: Leia a carta na íntegra e como se deve manter a diplomacia sem exageros ou ataques (13/07)

No dia 9 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por suspeita de envolvimento em um plano golpista era uma "vergonha internacional".
Em resposta, no dia 13 de julho, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, publicou uma carta aberta intitulada "Em Defesa da Constituição, da Democracia e da Justiça", onde rejeitou as acusações de parcialidade e explicou o papel do Judiciário na preservação da democracia.
A carta na íntegra: Os principais pontos de Barroso
1. As sanções de Trump e a resposta institucional
Barroso inicia afirmando que as sanções foram baseadas em uma "compreensão imprecisa dos fatos" e que a resposta imediata caberia ao Poder Executivo e à diplomacia brasileira, não ao Judiciário.
"Em 9 de julho último, foram anunciadas sanções que seriam aplicadas ao Brasil, por um tradicional parceiro comercial, fundadas em compreensão imprecisa dos fatos ocorridos no país nos últimos anos. Cabia ao Executivo e, particularmente, à Diplomacia – não ao Judiciário – conduzir as respostas políticas imediatas, ainda no calor dos acontecimentos."
2. A importância da democracia e o histórico de instabilidade no Brasil
O ministro lembra os 40 anos de estabilidade democrática (desde 1985) e contrasta com o passado de golpes e autoritarismo, citando:
- 1935: Intentona Comunista
- 1937: Golpe do Estado Novo (Getúlio Vargas)
- 1964: Golpe militar contra João Goulart
- 1968: AI-5 (fechamento do Congresso e repressão)
"A preservação do Estado democrático de direito tornou-se um dos bens mais preciosos da nossa geração. Mas não foram poucas as ameaças."
3. As ameaças recentes à democracia (2019-2025)
Barroso lista eventos graves que justificaram a atuação do STF:
- Tentativas de atentados terroristas (bomba no STF e aeroporto de Brasília).
- Falsas acusações de fraude eleitoral em 2022.
- Acampamentos golpistas em frente a quartéis.
- Plano de golpe com suposto envolvimento de Bolsonaro (incluindo ameaças de assassinato a autoridades).
"Foi necessário um tribunal independente e atuante para evitar o colapso das instituições, como ocorreu em vários países do mundo, do Leste Europeu à América Latina."
4. O julgamento de Bolsonaro: Transparência e devido processo legal
Barroso nega perseguição política e explica que o processo segue critérios jurídicos:
- Denúncia da PGR com indícios concretos (áudios, vídeos, documentos).
- Contraditório garantido (advogados de defesa atuando).
- Julgamento público e transparente.
"O STF vai julgar com independência e com base nas evidências. Se houver provas, os culpados serão responsabilizados. Se não houver, serão absolvidos. Assim funciona o Estado democrático de direito."
5. Liberdade de expressão e o papel do STF
O ministro destaca decisões do STF em defesa das liberdades, como:
- Derrotar a Lei de Imprensa da ditadura (ADPF 130).
- Proibir censura a biografias (ADI 4815).
- Proteger jornalistas de assédio judicial (ADI 6792).
"Todos os meios de comunicação, físicos e virtuais, circulam livremente, sem qualquer forma de censura."
6. A defesa da soberania e da democracia
Barroso encerra com um apelo à união em torno dos valores democráticos:
"É nos momentos difíceis que devemos nos apegar aos valores e princípios que nos unem: soberania, democracia, liberdade e justiça. Como as demais instituições do país, o Judiciário está ao lado dos que trabalham a favor do Brasil e está aqui para defendê-lo."
Análise e importância da carta
- Resposta diplomática, mas firme: Barroso não ataca Trump diretamente, mas desmonta suas alegações com fatos.
- Histórico de fragilidade democrática: O texto lembra que o Brasil já sofreu com ditaduras e que o STF age para evitar retrocessos.
- Transparência no julgamento de Bolsonaro: O ministro afasta a ideia de perseguição, mostrando que o processo segue regras jurídicas claras.
- Defesa da liberdade de imprensa: O STF não é censurador, mas sim protetor das liberdades constitucionais.
Por que essa carta é importante?
A carta de Barroso não é apenas uma resposta a Trump, mas um manifesto em defesa da democracia brasileira. Ela:
1.
Esclarece equívocos sobre o Judiciário.
2.
Mostra que o Brasil é uma democracia madura, apesar de suas crises.
3.
Reforça que o STF não é político, mas um guardião da Constituição.
Em um momento de tensões internacionais e polarização, o texto reafirma os princípios do Estado Democrático de Direito e serve como um alerta contra discursos autoritários.