Pronatalismo seletivo: Por que governos pagam só algumas mulheres para terem filhos?

O declínio nas taxas de natalidade tornou-se uma preocupação global, levando vários países a adotarem políticas pronatalistas. Essas medidas visam aumentar o número de nascimentos, garantindo a sustentabilidade populacional e econômica. No entanto, as estratégias variam conforme as prioridades ideológicas, culturais e econômicas de cada nação. Este resumo explora as iniciativas da Rússia, Polônia, Hungria, Estados Unidos e outros, destacando suas motivações, eficácia e controvérsias.
O que é pronatalismo?
Pronatalismo é o conjunto de políticas governamentais que incentivam o aumento da taxa de natalidade. Muitos países enfrentam quedas populacionais devido ao envelhecimento e baixas taxas de fertilidade, levando governos a adotarem medidas como pagamentos em dinheiro, benefícios fiscais e apoio social para quem tem filhos. No entanto, essas políticas nem sempre são universais: frequentemente, são direcionadas a grupos específicos que os governos consideram "desejáveis".
O pronatalismo seletivo: Nem todas as mulheres são incentivadas
Embora o discurso oficial fale em "aumentar a população", muitas políticas pronatalistas não são neutras. Elas privilegiam certos perfis de mulheres e famílias, geralmente alinhados a ideologias políticas, religiosas ou étnicas.
Exemplos de seletividade:
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Hungria: Benefícios como isenções fiscais e empréstimos subsidiados são oferecidos apenas para casais heterossexuais com renda alta, excluindo famílias monoparentais ou casais do mesmo sexo.
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Espanha: Embora incentive a imigração para repor a população, prioriza latinos católicos e falantes de espanhol, enquanto migrantes africanos têm menos oportunidades.
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Rússia: Além de pagar adolescentes para terem filhos, o governo restringe o aborto e promove um modelo tradicional de família, desencorajando mulheres que priorizam carreira ou educação.
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EUA (proposta de Trump): O plano de pagar
US$ 5.000
por bebê está ligado a um movimento conservador que valoriza famílias brancas e cristãs, enquanto políticas anti-imigração limitam o crescimento populacional por outras vias.
Por que isso acontece?
- Interesses ideológicos: Alguns governos veem o declínio populacional não apenas como um problema econômico, mas como uma ameaça à identidade nacional.
- Controle social: Há uma tentativa de moldar a sociedade segundo valores tradicionais, limitando a autonomia reprodutiva das mulheres.
Consequências dessa seletividade
- Desigualdade no acesso a benefícios: Mulheres pobres, imigrantes ou fora do padrão "desejado" ficam sem apoio.
- Pressão sobre mulheres jovens: Na Rússia, meninas são incentivadas a engravidar cedo, mesmo que isso prejudique seus estudos.
- Estigmatização de quem não tem filhos: Leis como a russa, que proíbem "propaganda sem filhos", criam um ambiente hostil para quem escolhe não ser pai ou mãe.
Por que essas políticas nem sempre funcionam?
- Falta de liberdade de escolha: Se as políticas não consideram as reais necessidades das mulheres (como conciliar carreira e maternidade), muitas continuarão adiando ou evitando ter filhos.
- Foco no curto prazo: Pagar por bebês pode aumentar números temporariamente, mas sem creches acessíveis, licenças-parentais dignas e igualdade de gênero, os efeitos são limitados.
- Exclusão de minorias: Ao beneficiar apenas alguns grupos, os governos perdem a chance de reverter o declínio populacional de forma mais ampla.
Pronatalismo pode ser uma ferramenta, mas não uma solução mágica
O incentivo à natalidade não é ruim por si só – muitos países precisam de políticas para sustentar sua população. O problema está quando essas medidas são excludentes e controladoras, favorecendo apenas quem se encaixa em um certo padrão.
Para realmente funcionar, o pronatalismo deveria:
- Oferecer apoio universal, independentemente de raça, orientação sexual ou classe social.
- Garantir direitos reprodutivos, sem pressionar mulheres a terem filhos contra sua vontade.
- Combinar benefícios financeiros com estrutura social (creches, saúde, educação).
O pronatalismo só deixará de ser uma ferramenta de controle quando os governos entenderem: Não adianta pagar mulheres para terem filhos se você não lhes dá poder para decidirem sobre seus próprios corpos e futuros. Enquanto isso, a queda populacional não será resolvida, porque nenhum bônus em dinheiro compensa a perda do direito de escolha.